Bónus: AMA - Perguntas dos Ouvintes

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José Maria Pimentel
Olá, sejam muito bem-vindos ao 45°, o último episódio da temporada. E como já começa a ser tradição aqui no 45°, este é episódio Ask Me Anything, na gíria dos podcasts. Ou seja, é episódio em que respondo a perguntas vossas, a perguntas enviadas por vocês. Eu anunciei nas redes sociais que ia lançar este episódio e enviaram dezenas de perguntas, muito obrigado a todos. E já agora deixa-me pedir desde já desculpa àqueles cujas perguntas eu não incluí, não foi por mal, foi porque ou, em alguns casos, não entendi bem, ou, em outros casos, são temas que até são interessantes, mas eu sinto que não tenho muito a acrescentar sobre eles e portanto não fazia sentido estar-vos a fazer ouvir-me a falar sobre tema em relação ao qual eu não tenho muito a dizer. Antes de avançar para as vossas perguntas, relembro que estão abertas as inscrições para o quarto módulo dos workshops de pensamento crítico, módulo sobre desinformação e como os números podem enganar. Este é, como já sabem, o quarto módulo, mas pode ser feito de maneira independente dos outros. Se quiserem escrever, vão ao meu site, josemariapimentelo.pt E o primeiro grupo de perguntas é precisamente sobre pensamento crítico. O Diogo Santos pergunta que livros de pensamento crítico é que eu recomendo. Ora, isto dava para uma lista infinita, até porque há várias áreas em que nós precisamos de pensamento crítico, daí eu ter dividido este mini curso em 4 módulos. Mas há aspecto que é completamente transversal aos 4 módulos e que está em jogo sempre que o nosso pensamento crítico, digamos assim, falha. Que tem a ver com as limitações da nossa mente e especificamente com os chamados viéses cognitivos. E portanto, aí tenho dois livros que posso recomendar. Deles é mais ou menos clichê para quem já tenha lido alguma coisa sobre estes temas, o outro menos. É o Pensar Depressa e Devagar, do Daniel Kahneman, livro conhecidíssimo e que basicamente foi o primeiro livro que tornou conhecida do grande público esta questão dos viés cognitivos e o outro mais recente de uma pessoa que trabalhou com o Kahneman, que é o Olivier Siboni que é livro sobretudo sobre viéses que entram na tomada da decisão portanto eu até o utilizei bastante na preparação desse módulo, do módulo 3 sobre tomada de decisões e que ainda não está que eu saiba traduzido em português e portanto vou dar o nome original. O título original é You're about to make a terrible mistake. O livro é todo em torno disso, de explicar porque é que nós tendemos a cometer erros grandes E tem foco muito grande em organizações, digamos assim, no mundo do trabalho. Mas é livro, ou sem mais, é livro muito interessante para quem tiver interesse sobre estes temas. E depois, claro, haveria uma série de outros livros. Portanto, se alguém desse lado tiver mais interesse no assunto e quiser recomendações mais específicas, estejam à vontade para me contactar. Uma pergunta relacionada é a da Gabi Maciel que pergunta como é que eu vejo a evolução do pensamento crítico na sociedade. Ela pergunta se vai continuar a ser algo de nicho e elitista ou se de algum modo vai conseguir passar para as massas. É engraçada esta pergunta Gabi porque eu já pensei várias vezes sobre isso. Até porque eu com estes workshops acabo por ter uma situação de privilégio. As pessoas, e quem tem participado já provavelmente me ouviu dizer isto, as pessoas que vão aos workshops já são pessoas com pensamento crítico razoavelmente desenvolvido. Sobretudo têm a atitude de querer pensar criticamente. Eu acho, enfim, estou a falar em causa própria. Acho que ainda assim aprendem muito nos workshops e isso explica que as pessoas voltem. Mas já são pessoas, quer dizer, estão muito longe da média, já são pessoas que têm uma sensibilidade para estes temas grande. Caso contrário, não tomaria a decisão de ir passar sábado ou fim de tarde, dia de semana a falar sobre pensamento crítico. Como é óbvio, em certo sentido é evidente. Mas eu também acho que há soluções mais simples, provavelmente, para a população em geral, digamos assim, que teria impacto gigante, de trazer pessoas de nível de pensamento crítico muito baixo para nível mediano que já é o suficiente para evitar, enfim, grandes males, eu diria hoje em dia, não é? Coisas como ter noção da fonte de informação de que se partilha, ou seja, não partilhar artigos do tafix.com, que provavelmente não é artigo muito fidedigno, ter em conta quantas estão a ser manipuladas de uma maneira muito básica, ou seja, e acho que era mais ou menos para onde a pergunta da Gabi se direcionava, provavelmente com algumas soluções simples, de alguma literacia de pensamento crítico, era possível dar aqui uns passos grandes. Não é exatamente o que eu tenho estado a fazer nos workshops, mas por acaso era uma coisa que eu gostava de trabalhar. E agora sobre o podcast, sobre o 45° especificamente, há aqui algumas perguntas, como sempre. Vocês têm sempre curiosidade em relação a alguns aspectos. Deles, pergunta o Nuno Feliciano, é o nome, porque é de 45°. O nome tem a ver basicamente com uma metáfora da interseção entre vários termos. O 45° é ângulo, a meio caminho entre o reto, ou seja, o 90° e o nulo, e portanto simboliza essa interseção. Eu já expliquei isto em episódios anteriores, até destes de perguntas dos ouvintes. Acho que em mais detalhe, que a explicação é bocadinho mais detalhada, enfim, mas o essencial tem a ver com isto. Outra pergunta a que eu já respondi e essa requer mesmo mais detalhe, portanto eu recomendo mesmo ouvir episódios anteriores de perguntas dos ouvintes, é a pergunta que faz a Ana Vargas Santos, e que é uma pergunta que me fazem imensas vezes, que é como é que eu faço a preparação dos episódios, como é que eu estruturo a informação, como é que pesquiso, enfim, como é que organizo. Ana, eu vi o episódio do ano passado onde eu expliquei exatamente como é que faço isso. E a Titas, não sei se é a Titas ou o Titas, pois é só o nome assim, pergunta, porquê que fazes tudo isto, ou seja, o podcast? Qual é o objetivo final? Tenho muita curiosidade em saber as tuas motivações mais profundas, diz ela. Ora, curiosidade é basicamente o que me move, não é? Acho que não é a única coisa, mas é a força fundamental. Quer dizer, é evidente que eu não gosto de, quer dizer, falsas modéstias ou falsos politanismos. É óbvio que eu não faço o 45° só por curiosidade. Também o faço para ser ouvido e obviamente que gosto de receber as vossas mensagens de apreciação em relação ao podcast e gosto que seja podcast reputado, quer dizer, obviamente que há esse lado de autossatisfação de fazer o podcast. Mas o que me move de maneira mais basal foi e sempre continua a ser a curiosidade. E é isso que explica que eu abordo no podcast, muitas vezes, temas em que ando a pensar por algum motivo. Às vezes nem são temas de massas, às vezes são temas em que eu sei que vou perder provavelmente alguma audiência. Estou-me a lembrar do tema das renováveis, por exemplo, que é tema que se fala tanto que eu acho que houve pessoas que olharam e pensaram já estou pouco farto disto, mas era tema em relação ao qual eu queria ter uma compreensão mais profunda e mais crítica e ao mesmo tempo faz-me também, muitas vezes não convidar pessoas que chamariam imensa gente, não é por ser pessoas muito conhecidas mas que não me causam grande interesse E também me faz, por exemplo, ter, em relação a determinado tema, uma abordagem que eu sei que se calhar não é a abordagem que mais gente vai gostar. Acho que é a abordagem que pessoas certas vão gostar, não é o tipo de ouvinte deste podcast, mas não é a abordagem mais massificada, Porque para fazer episódio com o convidado X igual ao que já foi feito não sei quantas vezes não vou estar a acrescentar muito e na verdade puxa-me pouco estar a fazer episódio desse género. Estou a pensar por exemplo num episódio com o Manoel Cargaleiro. Eu podia ter feito episódio igual às imensas entrevistas que já lhe fizeram e tenho a certeza que seria episódio agradável de ouvir para muitas pessoas. Mas como eu já tinha ouvido essas entrevistas, eu quis satisfazer a minha curiosidade e quis fazer-lhe perguntas diferentes das que já tinham sido feitas antes. E até puxar por ele, pouco. E para mim deu episódio muito mais interessante nesse sentido, mas provavelmente até é episódio que alguém que não conhece ao 45 graus vai achar menos graça. Mas lá está, eu vou atrás da curiosidade e a minha curiosidade era vê-lo responder a coisas diferentes das que já lhe tinham perguntado. E precisamente em relação aos episódios, e em particular aos episódios desta temporada, vocês também me mandaram várias perguntas. A Maria Margarida pediu-me o top 10 dos episódios preferidos, na minha perspectiva, e o André Montenegro pergunta, e cito, numa temporada com episódios sobre exercício físico, sono, sustentabilidade, literatura e arte, qual foi o episódio que sentes que mais contribuiu para o teu desenvolvimento pessoal? Eu juntando estas duas perguntas vou falar-vos dos episódios que mais me marcaram esta temporada. Sendo que, na verdade, e isto é uma sorte que eu tenho, mas também tem a ver com o facto de passar muito tempo à procura de convidados para cada episódio e, portanto, quando vou gravar o episódio já tenho uma forte convicção de que vai ser episódio bom eu acho que não houve nenhum episódio desta temporada que não o tivesse marcado ou seja, eu agora fui aqui à lista de episódios publicados, estive a fazer scroll down e não houve nenhum episódio que eu não tivesse visto e não me lembrasse de algo que o convidado tinha dito, de algo que eu tinha aprendido e de algo que me marcou portanto isso aplica-se a todos os episódios que eu fiz este ano. Mas obviamente que há alguns que me marcaram especialmente. Eu disse isto no episódio de Perguntas dos Ouvintes do ano passado, e vou voltar a fazer esta ressalva, não quer dizer que sejam os melhores episódios, mas foram os que mais me marcaram. Deles, que foi logo o primeiro, é o episódio com o Pedro Domingos sobre inteligência artificial. Este é, eu sei, também dos episódios que mais me marcaram muitos de vocês, foi dos episódios que mais me falaram ao longo deste ano. E lembro-me até de alguém, já não lembro de quem, mas alguém que participou nos workshops que me dizia que tinha adorado o episódio, mas que era difícil e por isso tinha de ouvir 3 vezes. Ora, isto para mim é quase o melhor elogio que eu posso ter, porque significa que o episódio era difícil, portanto dava luta, a pessoa teve de ouvir 3 vezes, mas ainda assim, ou se calhar especialmente por causa disto, gostou do episódio. E eu percebo porque de facto é episódio difícil e que eu achei excelente e lá está achei que a modéstia a parte que tem nível de discussão que não se encontra em outro tipo de podcast e por isso é exatamente esse tipo de episódio que me dá gosto de fazer. O outro episódio que gostei muito foi o episódio sobre Fernando Magalhães com José Manuel Garcia. Não é o tipo de episódio que eu faça muito, este puramente histórico de focar uma figura, mas foi muito giro, ele sabe imenso sobre o tema e foi uma viagem sobre a viagem de Magalhães ao lado de alguém que sabe muito do que está a falar e portanto foi episódio muito interessante. Depois houve dois episódios que estão implícitos na pergunta do André, que também gostei muito, sobre sono e outro sobre exercício físico, foi o episódio da Teresa Paiva e o do Pedro Correia. E são dois temas que eu acho que é muito fácil a pessoa gostar, ou seja, gostar destes episódios, porque são temas que são interessantes por si mesmo, porque tem muita ciência por trás, a ciência do sono e do exercício físico, e depois tem impacto direto. Eu passei a gerir o meu sono de maneira diferente depois desse episódio com o Tereza Paiva, e também passei a gerir o meu exercício físico, olhar para ele de maneira diferente depois do episódio com o Pedro, em ambos os casos. Isso já vinha de trás, daí eu já ter curiosidade em relação ao tema, mas depois desses episódios, enfim, fiquei ainda mais iluminado em relação a esses dois temas. Outro episódio que me marcou muito, já o referi, foi o episódio com o Murilo Cargaleiro, que morreu recentemente, e eu tive o enorme privilégio de, eu acho, de ter feito a última entrevista em vida. Não fui verificar isto, não é algo que me interesse por aí a enfatizar, mas é privilégio ter podido entrevistá-lo nos últimos meses e a verdade é que ele estava ótimo, né? Quer dizer, intelectualmente ele se estava muito bem, já tinha uma idade avançada e... Enfim, e a biologia é o que é, mas ele se estava muito bem. E depois mantive o contato com ele e com a mulher, com a Isabel, durante este período e foi excelente. Foi uma das marcas desse. Até não foi uma entrevista muito diferente, mais curta, apesar de eu ter usado a receita 45 graus, não deixou de ser episódio bocado diferente, mas ainda assim foi episódio muito giro fazer. Outro episódio, ainda no mundo das artes, que gostei muito de fazer, foi o episódio com o Gregório Duvivier. Acho que vocês gostaram também, é tipo encantador e ultra inteligente falar sobre estes temas, num tópico completamente diferente. Gostei muito do episódio com o António Tavares sobre a administração pública. Foi dos marcos deste ano, foi dos episódios mais marcantes deste ano e eu nunca diria... Eu pensei, vou fazer episódio sobre administração pública, é tema chato, Ninguém se interessa por isto, a não ser quem trabalha na administração pública. E a verdade é que foi sucesso enorme. Imensa gente me falou do episódio. E eu acho que tem a ver com o facto de o tema, e fico contente de ter conseguido persuadir muitas pessoas, é tema altamente relevante. Ou seja, a capacidade da nossa infraestrutura estatal é algo ultra importante e que não é muitas vezes falado. E o António saiu convidado. Enfim, ainda acima do esperado e portanto deu ótimo episódio como falaram imensas vezes. Outro episódio muito bom nesta linha, este mais da política especificamente, foi o episódio com o Vicente Valentim sobre a direita radical. Este foi episódio que eu imagino que tenha sido, se calhar, difícil para algumas pessoas de seguir, porque nós a certa altura estávamos a ter ali uma discussão muito académica em alguns pontos, mas lá está. Eu queria ter uma discussão com ele diferente da que ele tem nas imensas entrevistas que deu a propósito do livro dele, a outros podcasts e jornais. E portanto acabamos por estar a falar ali de, no fundo, como se faz a investigação nesta área, como é que é possível estabelecer o nexo de causalidade que ela está a tentar fazer entre a ver, para quem não viu o episódio, o que ele propõe é que havia uma espécie de reserva de eleitores com simpatias em relação à direita radical, digamos assim, que de repente emergem quando deixa de haver estigma social em relação a isso e é isso, segundo ele, que explica em grande medida o facto destes partidos terem crescido tão rápido. Outros episódios que eu gostei muito foram os episódios sobre as alterações climáticas, em particular os episódios sobre a energia. Eu aqui destacaria duplamente o episódio do Luís Guimarães sobre o nuclear e o episódio da Ana Stanqueiro sobre as renováveis. São duas perspectivas diferentes, obviamente que o Luís defende mais o nuclear e a Ana defende mais as renováveis, mas eu não as acho propriamente incompatíveis e são dois episódios que, para mim, e sei que também para muitos de vós que me foram dizendo ao longo destes meses, fizeram-nos perceber melhor estes temas e ter uma visão mais crítica em relação a eles. Estes são temas muito técnicos, muito difíceis e, portanto, para quem não é da área, vai haver imensas dúvidas que permanecem mesmo depois destes dois episódios, ou então, se calhar, algumas certezas com que nós ficamos e que são pouco exageradas, mas a verdade é que são dois episódios que me fizeram pensar mais criticamente sobre estes temas e olhar para eles de maneira mais profunda. E o mesmo se poderia dizer em relação ao episódio duplo sobre os impostos com o Alexandre Bergulhão e o Pedro Almeida Jorge, que é tema parecido com o da Energia, em certo sentido, porque é também tema muito técnico, é tema em relação ao qual há uma grande discussão e eu quis aproveitar o podcast para perceber melhor esse tema. Era tema, lá está, era outro tema que me apoquentava há algum tempo, em relação ao qual eu queria ter uma compreensão mais profunda, e portanto aproveitei o podcast para fazê-lo, enfim, pelo menos para mim, foi muito elucidativo, espero que para vocês também. E finalmente, outro episódio que me marcou este ano foi, como não poderia deixar de ser, o episódio que gravei com o meu pai sobre história de arte e sobre museus e foi episódio, já não sei se disse isto na introdução ou não, acho que sim, foi episódio que eu odiei há algum tempo fazer, porque é sempre diferente, obviamente fazemos episódio com familiares, sobretudo com pai ou mãe, é sempre episódio diferente, mas acho que resultou bem, para mim foi interessante e acho que conseguiu ser episódio interessante para quem está desse lado. Ainda em relação aos episódios, a Maria Margarida pergunta se houve episódios que resultaram menos bem, ou seja, que não corresponderam às minhas expectativas e porquê que isso aconteceu. Como me imagino, não vou cometer a desilegância de citar episódios. Posso dizer que não houve nenhum episódio que tenha ficado tão aquém das expectativas ao ponto de ser impublicável, mas isso lá está, tem a ver com o que eu dizia há pouco, com eu investigar bem os convidados antes de avançar para o episódio. Também tem a ver com aquela questão da preparação que eu obedei a passar há bocadinho e com o facto de eu preparar os episódios também com o próprio convidado e portanto a pessoa já sabe ao que vai. Mas ainda assim há episódios que ficam pouco à quem? E eu já pensei nisso várias vezes e já discuti até com alguns de vocês, sobretudo lá está nos workshops de pensamento crítico. Isso acontece, na minha perspectiva, quando a pessoa não sabe bem ao que vem. Ou seja, não conhece o podcast, não conhece o tipo de dinâmica, o tipo de conversa que eu costumo ter no podcast. Eu também não sou propriamente o entrevistador tipo, este segue formato pouco diferente de uma entrevista-tipo. E se juntamente a isto a pessoa em causa for uma pessoa que está muito habituada a falar daquele tema para uma audiência generalista, pouco conhecedora, e portanto é que tem que falar em termos relativamente simples, significa que a pessoa vem muitas vezes numa espécie de piloto automático, com discurso já decorado, e não vem a ter uma conversa. O que não é por mal, a pessoa não faz isso por mal. A questão é que não ouviu ou conhecia o podcast e ao mesmo tempo está muito habituado a ter de debitar, a ligar-lhe o microfone e ter de debitar. E isso cria-me trabalho difícil de conseguir ter uma conversa com aquela pessoa e às vezes quando eu estou até a provocar e a tentar fazer o contraditório, fazer-te a advogada do diabo, a coisa não resulta assim tão bem. Normalmente o que eu sinto é que depois a coisa vai começando a resultar bem ao longo da conversa e portanto no início é difícil, depois no final da conversa a coisa já corre melhor. Mas esses são os episódios que normalmente correm menos bem. Ou seja, lá está. Ainda assim, suficientemente interessante para publicar, mas que eu fique com alguma pena. Mas lá está. A coisa apesar de tudo melhora com a passagem do episódio e ao mesmo tempo também é em si mesmo também é uma aprendizagem para mim. O Nuno Feliciano, que já citei, pergunta se já pensei em fazer episódio ligado a temas em torno da comunicação. Ele diz que está a pensar em questões como inteligência emocional, mas também escutativas, estando conflitos, e faz referência a algumas táticas que eu costumo abordar nos workshops de pensamento crítico, sobretudo da argumentação, e à parte do meu livro, que tem uma parte de psicologia forte sobre porque é que não nos entendemos em política, ou seja, porque é que temos ideologias diferentes uns dos outros. Nuno e a restantes ouvintes, parece-me ótimo, parece-me bom tema, por isso sugiram convidados. Aliás, já sabem, seja em relação a este tema ou a qualquer outro, estejam à vontade para sugerir convidados, é só enviar email para 45graus.jmp.com. Já não será necessário sugerir convidado para a pergunta que faz a Mariana em relação a porquê não episódio sobre pseudociência. Ora, Mariana, eu já fiz dois episódios sobre esse tema, que acho que vais gostar de ouvir. Episódio com o Carlos Fiolhais, logo no início, e episódio com o João Júlio Serqueira. Enfim, não quer dizer que não volte ao tema. Se tiveres uma ótima pessoa a recomendar, Posso voltar ao tema, mas é tema que eu já cobri pelo menos duas vezes no podcast. O Gonçalo Batista tem uma pergunta barra sugestão semelhante. Ele nota que eu no último episódio sobre impostos falava do facto de a literacia financeira ser baixa em Portugal e ser uma barreira para muitas pessoas para funcionar o chamado elevador social. Portanto, ele sugere trazer convidado para falar de alguns conceitos básicos de poupança e também alguns conceitos mais avançados sobre investimento. Gonçalo, parece que adivinhas porque uma das convidadas que estão na calha para a próxima temporada, vem precisamente falar sobre isso é a Emília Vieira da Casa de Investimentos em Braga, alguns de vocês talvez conheçam. É dos episódios que estou com muita vontade de fazer na próxima temporada, ainda não sei quando é que vamos gravar, mas há de acontecer. Há mais duas pessoas que fazem referência a este último episódio sobre impostos. O André Peralta Santos diz que foi episódio meio caótico, mas muito dinâmico e interessante. E ele e o Hélder Rocha perguntam se estou a pensar fazer mais episódios com dois convidados com visões opostas. O Hélder fala, por exemplo, de episódio sobre sistemas de saúde. A resposta é sim. Ou seja, eu achei que de facto isto resultou bastante bem. Foi episódio que deu algum trabalho. Deu trabalho encontrar as pessoas certas e deu trabalho criar aquele mood que eu acho que é raro de ter duas pessoas de campos opostos a discutir tema de maneira saudável e sem picardias. Portanto, foi episódio que deu mais trabalho do que a média, mas também me deu mais gozo do que a média. Ou seja, o retorno foi especialmente bom. E portanto, é episódio que eu gostava de fazer no futuro e acho que é interessante fazê-lo sobretudo sobre temas mais técnicos. Não tanto sobre temas de discussão política, por exemplo, aí acho menos interessante, mas sobre temas técnicos é muito interessante porque obviamente convém ouvir os dois lados, temas técnicos e meios ideológicos. É estranho, mas isto aplica-se também à questão da energia. Não é bem uma ideologia política, mas obviamente há ali paixões dos vários lados e portanto é interessante ter pessoas de ambos os lados. Eu nesse episódio, é engraçado porque nos episódios sobre energias verdes e energias limpas, eu acabei por dividir. Tive episódio sobre nuclear e outro sobre renováveis. Mas em retrospectiva talvez não tivesse sido má ideia ter os dois convidados num só episódio e porventura fazer episódio duplo como aconteceu no caso dos impostos. Mas isto para dizer que é muito provável que repita a receita na próxima temporada e se tiverem outros temas em relação aos quais isso vale a pena fazer, enfim, já sabem, estejam à vontade para sugerir. O Luís Batalha, não sei se é o Luís Batalha que juntamente com o irmão João foram convidados do 45°, já agora outro belo episódio que eu não referi acima, ele sugere outro modelo de episódio com dois convidados, mas neste caso com convidados de áreas diferentes. Ou seja, por exemplo, ele dá o exemplo, podia ser uma conversa sobre ciência e religião com o Henrique Leitão e o Ricardo Aroujo Pereira, por exemplo. Este é o tipo de episódio que eu teria muito interesse em ouvir, não tenho tanta certeza que tivesse interesse em fazê-lo. Que é uma distinção importante, não é? Há muitos episódios que eu gosto de ouvir e que não faço no 45 Horas porque sinto que não sou o tipo de pessoa ideal para esse tipo de episódio. E aqui, este era episódio que eu gostava de ouvir, mas é episódio em que a moderação é quase desnecessária. O meu papel seria pouco diferente do tipo de papel que eu costumo ter nos episódios normais. E portanto, olha, eu acho que é sobretudo uma sugestão para outro podcast, para outro programa que talvez possa pegar nessa receita ou então eventualmente para uma versão ao vivo ou noutros modos de 45°. Mas já acharia interessante fazer episódio com dois convidados com backgrounds diferentes mas sobre o mesmo tema. Por exemplo, sobre rendimento básico universal, Que é uma questão que se tem falado muito a propósito da inteligência artificial, tema em relação ao qual o Manuel Golão fez uma pergunta e a Ana Batista perguntou especificamente em relação ao RBI se eu achava que era uma inevitabilidade com o crescimento da inteligência artificial. Ora, Ana, eu não sei responder, acho muito provável que existe alguma coisa desse género, mas não sei responder em relação aos moldes e portanto ocorreu-me que seria interessante precisamente ter episódio com dois convidados em que fosse especialista em inteligência artificial e o outro fosse, por exemplo, filósofo desta área e há alguns filósofos em Portugal que têm escrito sobre isto. E portanto, olha, é episódio que talvez venha a fazer no próximo ano. Se tiverem sugestões de convidados para esta discussão, seja do lado da Inteligência Artificial, seja do lado da filosofia, já sabem, agradeço. E depois, como é habitual, muitos de vocês enviaram perguntas não tanto relacionadas com o podcast, mas mais a pedir a minha análise, a minha opinião sobre o país, sobre a política, etc. Uma dessas perguntas é do Mauro Fernandes. Ele diz que chegou recentemente ao podcast e reparou que eu no início me costumava definir politicamente como liberal clássico, mas ele depois nota que as minhas posições se aproximam mais do chamado liberalismo social e que mais recentemente é dessa forma que eu me tenho vindo a definir. Portanto, ele disse que gostava de ouvir o que me levou a definir assim E disse também que era giro usar a teoria dos pilares morais do Jonathan Haidt, que eu falo no meu livro, no Política a 45°. Ora bem, eu de facto acabei por gradualmente usar mais o termo liberalismo social em vez de liberalismo clássico, por algumas razões. O liberalismo clássico tem sido basicamente a maneira como a iniciativa liberal se tem usado para se definir em Portugal e portanto o termo acabou por ficar crescentemente associado a este partido. O que eu acho legítimo e acho que faz sentido, acho que parte do que ele defende vem de facto desses princípios. Embora depois seja complicada a discussão, Eu acho que parte do que ele defende é mais estritamente focado na economia do que o liberalismo clássico. Por outro lado, é difícil dizer isto ou é difícil fazer grande diagnóstico sobre isto porque é uma ideologia que tem mais de 200 anos, quer dizer, tem dois séculos e meio, pelo menos, e portanto é difícil a pessoa dizer taxativamente o que é que o liberalismo clássico defende ou não. Há uma distinção interessante para perceber isto, que é a distinção entre liberdades negativas e liberdades positivas, que muitos de vocês já devem ter ouvido. A ideia de liberdades negativas tem a ver com aquilo que nos impede de fazer alguma coisa. A censura impede-nos de ter liberdade de expressão. A intervenção do Estado na economia impede-nos, seja enquanto empreendedores, seja enquanto consumidores, de fazer determinadas coisas. E depois há as liberdades positivas que é não tanto o que nos impede de fazer, mas o que nos falta para conseguir fazer alguma coisa. E portanto nós podemos ter liberdade de criar uma empresa, por exemplo, mas se não tivermos acesso a financiamento não vamos conseguir fazê-lo, ou se não tivermos o nível de educação necessário não vamos conseguir fazê-lo, Ou podemos ter liberdade de expressão, mas não tivemos a educação necessária e também não conseguimos fazê-lo. E podemos ter liberdade de viver livremente, mas precisamos ter mínimo de saúde e qualidade. E portanto, são duas ideias de liberdade diferentes. E o liberalismo clássico está mais associado à ideia de liberdades negativas. E é de facto isso que vemos mais no caso português na iniciativa liberal. A minha sensibilidade, digamos assim, tem muito de liberdades negativas, mas também de liberdades positivas, e acho que isso fica patente nos vários episódios do 45°, e acho que é isso que o Mauro se refere. E isso, essa conjugação entre as duas, para mim está muito presente nessa filosofia do liberalismo social, que é uma espécie de sucedâneo do liberalismo clássico, que surge ali no século XIX e que influenciou muito, sobretudo, os Estados Unidos. E que eu acho, é a filosofia com que me identifico mais, que tem uma visão positiva em relação ao mercado mas que também vê que por lado é necessário o papel do Estado e por outro é necessário corrigir algumas desigualdades de base. E é por isso que eu me costumo dizer liberal social. Há quem diga, estou-me a lembrar do Luís Icaque Honraria que diz que é liberal de esquerda. Eu não iria a esse ponto, diria-me é mais liberal de centro e portanto acho que liberalismo social resume basicamente, pelo menos nesta definição que eu lhe dou, aquilo em que eu acredito. Uma pergunta muito relacionada com esta é a do Jorge Soares que diz que, como liberal social que eu digo que sou, quando é que então eu convido alguém do único partido que tem assumidamente esta ideologia em Portugal, que é o Volt? O Jorge já dá a parte da resposta, porque ele diz que tem noção do meu ceticismo em relação a partidos que não são de esquerda nem de direita. Mas Jorge, O meu ceticismo é ceticismo de ordem prática, ou seja, do ponto de vista normativo eu acho que faz todo sentido. Ou seja, é pouco assim como eu me identifico. É mais ou menos onde está no espectro o liberalismo social. Mas é ceticismo que com muita pena é partido desses resultar na prática. Porque a maneira como a democracia está construída implica que tem de haver debate e haver debate implica perspectivas opostas. E portanto é difícil nós termos partido centrista. Aliás, já agora, parênteses, em grande medida por esta razão, que ao longo da história houve muitas pessoas respeitáveis, muitos autores respeitáveis, que tiveram uma visão negativa em relação à democracia partidária, que é hoje em dia algo que nós damos como basicamente uma característica essencial de uma democracia. Estou-me a lembrar do George Washington, por exemplo, o primeiro presidente americano, que queria basicamente uma espécie de governo por consenso e em que não houvesse jogo partidário, porque ele sabia que num sistema dominado por partidos o debate ia estar não em torno do centro, mas em torno de duas visões opostas, em que cada uma tem que estar a defender uma determinada visão como se ela fosse a única visão certa e a outra visão necessariamente errada. Eu percebo isto e até simpatizo muito com essa visão, mas a verdade é que a história provou que para a democracia funcionar, embora o ideal fosse nós termos uma visão de concesso, para ela funcionar tem que funcionar entre estas visões mais ou menos opostas. E isso torna muito difícil partido centro. Torna impossível partido centro em sistemas como o dos Estados Unidos, por exemplo, que é bipartidário. Torna também bastante difícil, por exemplo, num sistema mesmo como o britânico, que não é bem bipartidário, mas, enfim, agora menos, mas historicamente dominado por dois partidos. No nosso, também, embora nós agora já tenhamos alguns partidos, mas também há alguns países, por exemplo, tomo uma lembrada da Holanda, em que é mais fácil a coisa funcionar porque são países com sistemas mais proporcionais do que o nosso, que têm muitos partidos e que estão habituados a funcionar com coligações. E aí já é perfeitamente normal haver partido meio centrista, liberal social, porque convive com não sei quantos outros no debate política, as pessoas votam naquele e há umas vezes que vai ter de se coligar com a direita e outras vezes com a esquerda. Aliás, na Holanda há dois ou três partidos de cariz liberal, que é engraçado. Mais para a direita, mais para a esquerda. Já não sei se são dois ou três, mas é país exatamente assim. Mas é sistema que está baseado em coligações. O nosso não é assim, portanto eu tenho muito ceticismo em relação a partido desse género, mas é ceticismo de ordem prática, porque na verdade eu gostava muito mais que o nosso sistema funcionasse com base em coligações, era muito mais interessante, era muito mais saudável e contrariava precisamente essa polarização do debate. E isto é uma razão. A outra razão, especificamente em relação ao Volt, e espero que, enfim, se alguém do Volt estiver a ouvir espero que não fiquem chateados comigo, mas eu acho que o Volt ainda tem que provar alguma coisa, não é? É partido que de facto, ideologicamente, tem algumas propostas interessantes, mas não basta isso para ser partido viável. É preciso ter pessoas, ter massa crítica, ter uma estrutura. E das últimas vezes, embora o Volta tenha tido candidatos interessantes, ainda não mostrou isso. E para ser partido não me basta, mesmo deixando de parte estes meus receios, este meu ceticismo de ordem prática, Para ser partido funcional não basta ter uma ideologia interessante, porque senão votávamos todos só a fazer bússola política e decidíamos em que votar. Tem de ter pessoas à frente, tem de ter uma massa crítica de pessoas que consiga assegurar que o partido ganha protagonismo. Por exemplo, eu falei há pouco da iniciativa liberal, há anos e anos que eu me lembro de ouvir falar da ideia de lançar partido liberal em Portugal. A IL tem o mérito de ter conseguido lançar partido liberal no país, que era algo que muita gente achava que não ia ser feito. E porquê que o fez? Independentemente dos debates ideológicos, se devia ser mais para aqui ou mais para ali, porque tinha e tem pessoas capazes à frente, não é? Portanto, conseguiu fazê-lo. E, portanto, não basta ter uma ideologia interessante, também é preciso ter pessoas... Aqui não estou a falar de pessoas individualmente, ter uma equipa, não é? Ter uma infraestrutura que consiga lançar o partido. E, portanto, acho que voltou projeto interessante. Pode ser que dia alguém venha aqui ao podcast. A Mariana Galo diz que anda a ler livro chamado Porque Falha a Política de Ben Ansell. É livro que eu já ouvi falar mas ainda não li, por acaso tenho curiosidade. E diz ela que ele refere o autor que uma maneira de promover estado coeso, diz ela, eu não sei se aqui coeso quer dizer no sentido de estado funcional, mas estado pouco na linha do que eu falei no episódio com o António Tavares que referi acima, diz ele, o autor segundo ela, que uma maneira de o fazer, ou que a maneira de o fazer é através da classe média. E portanto ela pergunta se em Portugal o nosso problema pode estar relacionado com a asfixia da classe média e a preocupação em apenas aumentar o salário mínimo. Ora, eu não ponho a coisa em termos tão simples, mas acho que a Mariana tem alguma razão. Ou seja, país com boas instituições, neste sentido, é país que tem uma sociedade civil pujante e, portanto, essa sociedade civil depende de uma classe média que seja participativa e, para ser participativa, tem de ter nível educacional relevante e tem de ter nível de capacidade financeira também relevante que permita, por exemplo, poder usufruir de tempo para participar civicamente. E isso é algo que ainda falta em Portugal, embora nós tenhamos progredido muito em termos de qualificações das pessoas, ainda nos falta essa capacidade de intervenção na sociedade civil. E por isso é que ainda parece aquela coisa meio estranha, que nós somos país de 10 milhões de pessoas, que não é assim tão pouco, e no entanto continuamos a ter uma sociedade civil relativamente fraca. O que faz que continuemos a funcionar como país pequeno, aquela coisa que se diz de que somos país pequeno. Na verdade Portugal não é país pequeno, das milhões de habitantes é maior do que vários países europeus mais avançados. O que nós temos é uma sociedade civil pequena, isso sim. E aí sim eu estou de acordo com a Mariana que num país que não cresce, que não gera crescimento econômico e portanto que não consiga subir também o salário médio, eu acho importante por razões sociais aumentar o salário mínimo, mas nós temos uma distância entre o salário mínimo e o salário médio que é preocupante a este nível. Esta pergunta está relacionada com a pergunta do Alexandre Silva, que é especificamente em relação à cultura. Ele diz que a cultura em Portugal depende muito dos apoios públicos, também todos sabemos, e portanto como é que se pode aumentar a diversidade do apoio à cultura. Enfim, eu não sou especialista nesta área, mas claramente com maior crescimento económico tenderá a haver também fundos para financiar o apoio através de fundações e tenderá também a haver, eu acho até mais importante do que isso, mais pessoas a ter interesse pela cultura e a ter tempo e a ter fundos para ir ver peças de teatro, visitar museus, enfim, o que quer que seja. E Eu lembro-me daqui a uns anos, não sei se já uma vez falei disso no podcast, ter ouvido uma pessoa num programa, já não lembro que programa é que era, mas era alguém da área do teatro, que dizia que em Portugal o financiamento das artes funcionava de uma maneira invertida ou que era suposto funcionar. O que ele dizia, o que é suposto acontecer é nós termos uma pirâmide em que temos na base, por exemplo, pensemos no teatro de massas, quer dizer, grandes produções, destas que a maioria de nós gosta de ver, depois, pouco acima, a meio da pirâmide, ter o teatro clássico, as reposições de peças clássicas, pensamos em Shakespeare e afim, e depois a pontinha de cima da pirâmide, que é a experimentação, é o teatro de vanguarda experimental. E essa pessoa dizia, enfim, isto é pouco exagero, mas eu acho que tem alguma razão, que em Portugal a coisa está bocado invertida, ou seja, nós temos muita gente a querer ser experimental, algumas pessoas a tentar reproduzir peças clássicas e depois falta-nos público que esteja habituado a frequentar o teatro regularmente, mas esse teatro de entretenimento, o teatro que vê a maioria das pessoas que não querem ser especialistas na área e querem apenas divertir-se. E esse é ponto importante, porque se nos falta esse hábito de consumo cultural regular, depois faltam receitas que permitam sustentar esse teatro clássico e sobretudo o teatro experimental. E portanto leva a que há muita gente que gostava de fazer esse teatro experimental mas que depois fica numa situação, enfim, mais precária. E portanto, de novo, eu acho que falta uma sociedade civil participativa também a este nível. E outra pergunta relacionada é a do João Vieira, que fala basicamente, ele não usa este termo, mas fala basicamente da questão do capital social ou da confiança interpessoal, que é tema que eu já abordei aqui imensas vezes no podcast. Ele pergunta porque é que em Portugal parece existir uma cultura de desrespeito pelo bem público em comparação com outros países. Ele fala dos países baixos, da Alemanha. E ele dá exemplos como vandalismo a equipamentos esportivos, a tirar lixo para o chão, grafites em paredes e carruagens de comboio. E pergunta porque é que isso acontece. Isto acontece, lá está, por causa da falta de capital social, ou como se costuma chamar também, confiança interpessoal em Portugal, que é uma coisa que está bastante medida, é medida até pelo, se tiverem curiosidade, salvei-ro pelo World Value Survey, que é consultável online, e que tem a ver, este capital social tem a ver com como próximos nos sentimos de pessoas que não conhecemos. Eu lembro por exemplo do Pedro Magalhães, num episódio lá muito para trás, dar o exemplo de o estacionar em segunda mão. Ele dizia que há uma coisa que a pessoa faz com enorme desrespeito pela pessoa que tem o carro ali. Se fosse amigo nosso nós jamais faríamos aquilo E soubéssemos que a pessoa não nos podia contactar. Talvez fizéssemos e ligávamos a avisar e pedíamos à pessoa para nos ligar, não é? Mas se soubéssemos que a pessoa não nos podia ligar, jamais faríamos aquilo. Nós fazemos aquilo porque não conhecemos aquela pessoa e não temos aquele módico, aquele bocadinho de consideração pela pessoa para não lhe estar a fazer aquilo e porque ao mesmo tempo temos pressa e é rápido, convencemos-nos que é rápido, enfim, vamos conseguir fazer a coisa ali rapidamente. E de onde é que vem este capital social? Ou seja, porque é que ele é mais baixo em Portugal do que noutros países europeus, sobretudo em países mais desenvolvidos? E aqui há uma questão interessante, como sempre acontece nestas coisas, é bicausal, ou seja, a causalidade vai nos dois sentidos. Já agora, para quem tiver interesse, este é o tema do módulo 2 dos Workshops de Pensamento Crítico. A minha interpretação é que há uma causalidade mais lenta que vai de mais para cima, digamos assim, que surge dos indivíduos e que tem a ver com, e o João dava, eu não li a pergunta toda, mas ele já dava algumas indicações de sentido, tem a ver com o nível de riqueza do país, com o nível de bem-estar material do país e da educação e, portanto, na verdade eu acho que o capital social, apesar de ter nível mais baixo do que noutros países, tem melhorado até nas últimas décadas por causa disto, por apesar de tudo, temos bem-estar material maior do que tínhamos no passado, a pessoa média tem menos carências, portanto tem menos... No fundo o que vai fazer quando deixa o carro em segunda mão, para voltar àquele exemplo, é menos, devido ao demorto, menos importante, não é tão importante como era se calhar há 10 ou 20 anos, a pessoa tem uma margem pouco maior, também o nível educacional é maior, mas este efeito é lento, é efeito muito, muito lento. A outra maneira de fazer é de cima para baixo, é top down, e aí tem que ver com o papel das instituições públicas, porque o Estado e as instituições públicas acabam por ter papel grande em definir as regras da nossa interação também quando elas ocorrem na interação de para na interação enquanto cidadãos. E há episódio muito interessante sobre isso, para quem não o viu, com investigador sueco precisamente sobre questões de qualidade de governação chamado Boo Rothstein, foi episódio que eu publiquei, não nesta temporada, mas na temporada anterior, e o que ele defendia é que a maneira de aumentar o capital social, ele dizia que esta é a interpretação que ele faz da investigação, de maneira rápida e eficaz, é melhorando a qualidade da governação, ou seja, melhorando a qualidade das instituições públicas e isso depois acaba por levar as próprias pessoas a adotar aquelas regras na interação entre elas. E portanto, segundo ele, a maneira de o fazer rapidamente é de cima para baixo e não tão de baixo para cima. Eu diria que de baixo para cima também é possível, mas concordo com ele que é mais lento. É uma coisa que demora mais tempo a acontecer. E finalmente, guardei para o fim a pergunta do Carlos Granha, que me pareceu provocador e relacionada com isto. Ele pergunta de que maneira é que podemos reforçar o papel dos movimentos cívicos na vida política. Ele acrescenta que às vezes fica com a sensação de que os ouvintes do 45° têm ideias comuns que poderíamos concretizar. Ora, Carlos, eu também fico com essa sensação, dos emails que vou recebendo e particularmente das interações que vou tendo nos workshops de pensamento crítico, e acho que o Carlos tem razão. E isto toca também no ponto anterior, sobre a sociedade civil. E digo uma crítica muito comum e com alguma razão, por exemplo, é que os partidos acabam por estar dominados muitas vezes por pessoas pouco capazes. E acho que nós, eu e vocês, temos responsabilidade de fazer alguma coisa em relação a isso. É uma coisa que eu tenho pensado muito nos últimos tempos. Por isso, já sabem, se tiverem sugestões ou se já estiverem a fazer alguma coisa, partilhem-no através das redes sociais ou para o e-mail do podcast 45graus.jmp.com E com isto terminamos. Vou de férias e espero que vocês também. Muito obrigado a quem enviou as perguntas, e já sabem, desculpem aqueles cujas perguntas eu acabei por não responder, já expliquei porque é que não o fiz. Voltamos a falar em Setembro. Espero ver alguns de vocês nos workshops, em Lisboa, no Porto ou online. E já agora deixem-me fazer teaser em relação a uma coisa que vai acontecer ainda não sei quando mas algures ainda este ano para comemorar os 7 anos do 45°. É incrível já são 7 anos. Vou fazer evento ao vivo. Ainda não sei exatamente em que moldes, não sei se com convidados, com vários convidados. Provavelmente este ou estes convidados vão ser convidados daqueles episódios que eu sei que estão entre os mais marcantes para vocês e para mim, dos episódios que me vão falando mais vezes. Ainda não sei exatamente como é que vou fazer, ainda não sei quando e ainda não sei onde, mas fiquem atentos, vou anunciar aqui no podcast e acho que já está mesmo na altura de fazer 45° ao vivo. E portanto, voltamos a falar em setembro e, se for o caso, muito boas férias para todos.