45 Graus #163 Catarina Barreiros - Sustentabilidade, desperdício, consumismo, acção política

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José Maria Pimentel
Olá, o meu nome é José Maria Pimentel, sejam muito bem-vindos ao 45 Graus, agora também em vídeo. Os episódios em vídeo estão disponíveis no YouTube e também no Spotify, sendo que, para os ouvintes de sempre, continuam a ter os episódios na versão áudio, pouco mais editada, nos locais habituais. No episódio de hoje converso sobre sustentabilidade com a Catarina Barreiros, que nos últimos anos se tem dedicado de corpo e alma a esta causa. A Catarina tem formação em arquitetura e começou a trabalhar na área do marketing até que em 2018 decidiu começar a falar sobre sustentabilidade na sua página de Instagram. A página foi crescendo e crescendo e hoje já tem mais de 100 mil seguidores. Pelo caminho, a Catarina lançou, juntamente com o marido, a loja do Zero e também o podcast do Zero e ainda evento anual na cidade de Lisboa chamado Cidade do, adivinharam, Zero. Além disso, lançou também a Norm, uma marca de roupa interior menstrual totalmente reutilizável e sustentável. Esta conversa é o terceiro episódio de uma série de conversas que estou a gravar sobre ambiente e alterações climáticas. Vou entrecalando estes episódios com outros temas, mas podem contar já para muito breve com outro episódio, desta vez sobre energias renováveis. Voltando à Catarina, nesta conversa discutimos a sustentabilidade nas suas várias vertentes, desde os comportamentos individuais à ação coletiva. Começamos por falar sobre o que dizem os estudos sobre os nossos comportamentos individuais mais penalizadores para o ambiente. Desde o nosso consumo exagerado de carne na nossa dieta, ao desperdício, à nossa dependência exagerada do carro e ao nosso consumismo que alimenta toda uma indústria que depois acaba por contribuir para as alterações climáticas e para poluir o planeta. Falámos também dos aspectos sociais e culturais que tornam muitas vezes difícil alterarmos determinados hábitos em realidades como os hábitos alimentares ou até os hábitos de consumo. Sendo que a ação individual é importante, mas a verdade é que dificilmente haverá alterações a sério se não houver uma intervenção cívica e política. E por isso perguntei também à Catarina qual é que ela acha que deve ser a nossa conduta enquanto cidadãos, enquanto intervenientes no espaço público e perguntei-lhe também o que é que ela acha de alguns atores que têm intervindo nesta área como associações ambientalistas, os políticos e, claro, também as próprias empresas. Foi uma excelente conversa com a Catarina, acho que vão gostar muito deste primeiro episódio em vídeo. Antes disso, deixem-me só agradecer, como sempre, aos novos mecenas do Coelho das 5 Graus. São eles o Nuno Ferreira, a Susana Quadros, a Rita Varandas, a Ana Rita Faria, o André Manuel Dias, o Emanuel Furtado, a Sabrina Bacanti e finalmente o Miguel Domingo. Muito obrigado a todos por apoiarem o 45° e agora deixo-vos com a Catarina Barreiros. Até à próxima! Catarina Barreiros, bem-vinda ao 45°! Bem-vinda ao 45° em vídeo!
Graus #163 Catarina Barreiros
Em vídeo, é verdade! Boa novidade!
José Maria Pimentel
Tens a honra, dúbia, de estrear o 45° Versão Vídeo. Olha, para começar, nós vamos falar de sustentabilidade, hábitos, e às vezes falamos como é que tu vieste aqui a parar, não é? Como é que tu de repente vieste a parar ao Instagram, ao podcast, à loja, ou à Cidade do Zero, não é? Como é que vieste a parar a isso?
Graus #163 Catarina Barreiros
Na verdade foi meio random, como a maior parte das coisas da minha vida. Comecei a pensar bocadinho sobre isto, do que é estilo de vida mais sustentável, o que é sustentabilidade, mas eu não acreditava em nada do que via, sou bocado cética. Então queria sempre estudar e às tantas fiz post no Instagram quando eu e o meu marido decidimos, já que tínhamos casado e mudado de casa e mudado de hábitos, começar a nossa vida bocadinho do zero, bocadinho mais alinhado com os nossos valores e pus post no Instagram para os meus amigos a dizer oh malta vou começar a comprar granel e vou fazer umas mudanças de vida acho que a maior parte deles achou que estava bem, isto dura uma semana, mas foi giro, foi assim, foi muito random foi posto nas redes sociais.
José Maria Pimentel
E a coisa começou por aí.
Graus #163 Catarina Barreiros
Começou por aí, os amigos convidaram amigos os amigos convidaram amigos e de repente somos 100 mil amigos.
José Maria Pimentel
Sempre para casa, é incrível. E diz-me uma coisa, este episódio está inserido numa série de episódios que eu tenho estado a fazer com diferentes ângulos a propósito das alterações climáticas, mas a sustentabilidade vai muito para lá disso.
Graus #163 Catarina Barreiros
Sim, sim, sustentabilidade estamos a falar de alterações climáticas, obviamente, de biodiversidade, de gás e efeito de estufa, tudo o que isso implica, mas também estamos a falar daquilo que é justo socialmente, não estamos só a falar daquilo que é ambientalmente factual e científico, a parte social é importante, a parte económica é importante, portanto não existe resiliência num sistema que está em constante falência económica, porque aí não conseguimos prover para as pessoas, nem garantir a subsistência da biodiversidade do planeta. Então, conjunto de fatores, antigamente dizia-se que eram três pilares, o famoso ESG, do ambiente, o pilar social e o pilar econômico, mas na verdade esta teoria dos pilares é muito mais dinâmica do que isso. Nós estamos a falar de dimensões em que entra a cultura, em que entra a qualidade de vida, em que entra monte de coisas que não podem só ser colocadas em caixinhas, não é? Mas pronto, é assim, em geral falamos dos três pilares.
José Maria Pimentel
Mas mesmo dentro do ambiental, tu tens alterações climáticas, tens biodiversidade, tu falaste agora, que não é a mesma coisa. Às vezes têm causas comuns, mas há outra parte das causas que não são comuns.
Graus #163 Catarina Barreiros
Sim, sim, a biodiversidade não tem só a ver com alterações climáticas.
José Maria Pimentel
Exatamente. E tens também a questão da poluição, por exemplo, que também tem alguma superposição com as alterações climáticas. Sim,
Graus #163 Catarina Barreiros
é engraçado porque nós ouvimos falar muito de alterações climáticas, se bem que eu acho que hoje em dia sustentabilidade é mais a palavra da ordem do dia, até está bocado gasta e às vezes não muito bem.
José Maria Pimentel
Sim, e quer dizer tudo e nada, às vezes.
Graus #163 Catarina Barreiros
Exato, porque o que é que quer dizer sustentabilidade? Eu trabalho nisto há cinco anos e eu continuo sem conseguir dar uma resposta que vá para além do que os livros dizem, não é? Portanto, é bocado difícil definir o conceito de sustentabilidade, porque estamos a falar de uma estabilidade própria do nosso planeta que garante o futuro para todas as espécies, para todas as pessoas, mas isso é super ambíguo, não é? E a verdade é essa, é que há distinções entre alterações climáticas, puro e duro, e a diversidade. Aliás, há duas copos, há uma copa das alterações climáticas e há uma copa para a biodiversidade. Existem, efetivamente, várias coisas dentro da sustentabilidade, mesmo no âmbito ambiental, que é preciso avaliar.
José Maria Pimentel
Ah, sim. E tu quando... Quer dizer, ao longo destes anos tu começaste bocado com esse ímpeto inicial e depois ao longo destes anos foste alterando uma série de comportamentos e tentando, por várias pessoas, também alterar os deles com base exatamente nessas preocupações. Qual é que é o sistema que tu tentas resolver? Qual é a tua equação? Obviamente não será uma equação a sério, mas o que é que está na cabeça quando tu pensas nisso? Ok, porquê que eu devo fazer esta mudança ou porquê que eu devo priorizar esta em detrimento da outra? Por exemplo, O que é que está na balança quando pensas nisso?
Graus #163 Catarina Barreiros
Para mim, eu sou uma pessoa muito científica e portanto para mim é muito...
José Maria Pimentel
Baseado em factos.
Graus #163 Catarina Barreiros
Exactamente. Ou seja, existe projeto que eu sei que tu conheces que é o projeto de RoadRound, que é a BK ou o JV de Galvé, que nos diz basicamente onde é que vai haver mais impacto nas nossas escolhas. E portanto, eu tento fazer as escolhas de maneira informada a pensar onde é que eu posso já mais impacto. Mas, ao mesmo peso e ao mesmo tempo, e como eu sou pessoa, tenho as minhas convicções e também tenho as minhas preferências e há coisas para mim que são mais fáceis de mudar do que outras, eu penso naquilo que me é mais fácil mudar e que eu consigo mudar. Porque aquilo em que eu acredito, com todas as minhas forças...
José Maria Pimentel
Ah, isso é interessante, a combinação entre o impacto e a executividade, para cada de nós.
Graus #163 Catarina Barreiros
É isso mesmo, porque, bem ou mal, e eu acredito muito nisto, Nós todos devemos fazer alguma coisa, mas a mudança não é apenas individual ou não é sobretudo individual. Eu acho que aquilo que nós fazemos de mudança individual depois nos...