#129 Pedro Bernardo - Dos segredos da edição de livros aos hábitos de leitura em Portugal
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José Maria Pimentel
Olá, o meu nome é José Maria Pimentel e este é o
45 Horáus. Muito obrigado aos novos mecenas do podcast, Carlos Pires, Ricardo
Duarte, Luís Machado, Ricardo Trindade, muito obrigado também à Ana Leal, à
Cláudia Gomes Batista e ao João Pedro Travassos. Aproveito também para anunciar
que vem aí mais um Festival Pods, o festival de podcast que
se tem realizado, se bem se lembram, nos últimos anos já, graças
ao Márcio Barcelos que teve a ideia e, mais do que a
ideia, teve a capacidade, ou tem tido a capacidade, de pôr em
prática esta ideia. O festival vai realizar-se em Novembro, em Lisboa. Podem
encontrar mais informações em www.podos.pt onde podem também votar no 45° para
o prémio do público de podcast do ano. Portanto, duas razões para
visitarem o site, para ficarem a saber mais sobre o festival e,
de caminho, se acharem que merece, para votarem no 45°. E com
isto vamos ao episódio de hoje. Este episódio tem uma história longa,
de quase dois anos, porque mais ou menos desde o momento em
que comecei a escrever aquilo que viria a ser o livro Política
a 45°, dei por mim como uma curiosidade crescente e um acumular
de dúvidas e questões em relação ao processo de edição de um
livro, as especificidades do mercado de edição em Portugal, comparativamente com outros
países, e os nossos hábitos de leitura, ou falta deles, em comparação
com outras geografias. Agora que eu próprio tive uma experiência imersiva enquanto
autor de um livro, e portanto que passei por este processo, fui
levado a pensar ainda mais nas suas questões e surgiram ainda mais
dúvidas e por isso decidi que estava na altura de trazer este
tema ao 45°. O convidado do episódio que vão ouvir é o
editor Pedro Bernardo. Escolhi-o pela sua longa experiência enquanto editor, sobretudo na
área da não-ficção, Primeiro nas edições 70, depois no Grupo Almodina e
mais recentemente na Eprimatur Bookbuilders. Aliás, foi este o principal motivo que
me levou a convidar o Pedro, porque ele foi um dos criadores
desta editora, ou editoras, porque na verdade são duas, juntamente com Hugo
Xavier e João Reis. E esta Eprimatur Bookbuilders é claramente uma das
editoras independentes nascidas nos últimos anos mais interessantes e com mais potencial.
É uma editora especial por vários motivos, desde o facto de funcionar
e ter se conseguido tornar sustentável com base num modelo alternativo de
crowdfunding, ao facto de ter capas não só bonitas mas originais, como
nós falamos durante a conversa, bem como ainda tendo em conta o
tipo de livros que publica, que tem uma grande ênfase naquilo que
a equipa editorial classifica como obras essenciais que foram capazes de mudar
mentalidades para o bem e para o mal, como os próprios assinalam.
Esta foi uma conversa muito esclarecedora para quem se interessa por este
tipo de temas, na qual percorremos uma série de tópicos desde o
papel de um editor, às várias etapas no processo de edição de
um livro e aos seus vários intervenientes, passando pelas especificidades do mercado
editorial e livreiro em Portugal e pelos hábitos de leitura dos portugueses
em comparação com outros países. Espero que gostem e até ao próximo
episódio. Pedro Bernardo, muito bem-vindo ao 45 Grós. Obrigado pelo convite.
Pedro Bernardo
Olha, o que é que faz um editor? Qual é o trabalho
de um editor? Simplificando e por duas partes. Na acessão geralmente portuguesa,
um editor é alguém responsável pela seleção editorial de títulos de uma
editora. Portanto, passo aqui a redundância. Escolhe os seus títulos com base
em catálogos estrangeiros ou com base em propostas de autores que apresentam
originais para leitura e apreciação. Essa é a versão mais comum. Se
analisarmos o ponto de vista do editor do inglês, aí já é
alguém que recebendo um original de ficção ou de não-ficção, tem uma
determinada intervenção no texto. Pode dizer ao autor, olha, esta parte não
faz sentido, retire isto, acrescente isto, há aqui sugestões de vocabulário e,
portanto, tem uma intervenção no texto que em Portugal não é muito
comum, embora haja alguns editores a fazer esse trabalho e a fazê-lo
bem. Mas, portanto, eu diria que na sessão anglo-saxónica o editor tem
uma intervenção no texto, tem um contacto muito próximo com o autor.
Na sessão, enfim, latina, se memes lhe assim, é alguém responsável pela
gestão e pela escolha dos títulos para construir um catálogo de ficção,
não-ficção, misto, etc. Ou
Pedro Bernardo
Na nossa seção de editores, está mais próximo do publisher, exatamente. O
editor é alguém que pega no texto, mexe, diz ao autor olha
crescente isto, este passo não é bem explícito
e
portanto tem uma intervenção muito marcada no texto. Há um exemplo curioso,
eu acho que ele está disponível online, o TS Elite, a determinada
altura, entregou o manuscrito do Wasteland e pediu ao Ezra Pound que
lhe fizesse uma espécie de editing, revista e portanto há páginas inteiras
com uma cruz em cima do Ezra Pound. Portanto, o Ezra Pound
funcionou ali como uma espécie de editor à inglês. Sim, sim, sim.
Pedro Bernardo
Eu diria que é mais uma questão cultural. Nós temos editores a
fazer esse trabalho, por exemplo, a Maria Rosário Pedreira. Exato, pois, eu
já ouvi o exemplo dele. Na Leia, grande parte da função dela
é analisar originais que lhe chegam e depois ela tem um trabalho
de proximidade com os autores, novos autores e não só, mas principalmente
novos autores, em que trabalha, o gorila o texto, aconselha o autor
E há outros editores a fazer isso. Agora, eu diria que, por
exemplo, o Lobo Antunes é menos suscetível de aceitar algumas sugestões de
alteração aos seus textos do que um autor em início de carreira.
José Maria Pimentel
Mas é curioso porque, enfim, a ficção e a nonficção são bastante
diferentes neste aspecto, não é? No sentido em que é mais argumentável
que na ficção deva prevalecer a vontade do autor, porque tu podes
ter uma idiosincrasia que te torna diferente, e que tem um público
para ela mesmo que possa implicar escrever de uma maneira que não
é perfeitamente linear ou que, no limite, até vai contra determinadas regras.
Na não-ficção é um pouco diferente. Mas ainda assim, sobretudo no caso
da não-ficção, acho que há um benefício grande que se perde. Eu
tenho sempre a sensação, quando leio livros de não-ficção portugueses, ou seja,
de autores portugueses, eu fico sempre com a sensação de que faltou
ali um editor, muitas vezes. Ou seja, de que faltou alguém que
explicasse que há um encadeamento melhor das ideias, que há um determinado
ponto que não se compreende, por exemplo, ou que é redundante, ou
seja, há uma série de coisas que um bom editor percebe e
que depois no limite, e acho que por exemplo no mundo da
enclausaxónica, às vezes até poderia-se já estar numa fase em que tu
passaste para outro ponto em que está demasiado formulaico, não é? Ou
seja, os livros parecem um
Pedro Bernardo
A intervenção e esse grau de detalhe, de acompanhamento, requer tempo e
a verdade é que as editoras não têm muita gente. Como todas
as empresas do tecido nacional, enfim, ou pelo menos a maioria, os
recursos são escassos e têm que se distribuir por uma série de
coisas e há textos que obrigam a leituras atentas, meses e, portanto,
um editor pode não ter tempo para dedicar um ou dois meses
a um ensaio ou a um romance. Aqui a distinção é indiferente.
Na questão dos romance ou a ficção, enfim, há ali coisas mais
de construção romanesca, arquitetura, não é, não se vai tanto ao estilo.
Quer dizer, eu vi, não sendo, eu fui essencialmente, e sou essencialmente
um editor de não-ficção, Mas dos colegas com quem falo, geralmente é
isso. Não se vai tanto à ideia, mas vai-se por vezes. Há
construção romanesca, dizes, olha, veja lá, esta personagem aqui chama-se Manel, mas
há três páginas, era Maria. Há Aquelas coisas que o autor está
embranhado no texto e, portanto, pequenas incongruências. É que
José Maria Pimentel
alguma coisa a ver, porque há aqui um mistério no meio disto
tudo, não é? Porque falavas agora da questão da escala, no fundo
do mercado poder comportar esse custo. Mas a verdade é que se
publica muito em Portugal, pelo menos é a sensação que eu tenho.
E que já, enfim, já ouvi isto comentado por várias pessoas.
Sim, sim, é
verdade. Saem muitos livros. É verdade. Saem, saem. O que parece um
bocadinho contraditório. A explicação possível é que como não se sabe quais
é que vão correr bem, lançam-se muitos, mas também não se vai
investir muito em nenhum deles, o que também pode correr o risco
de ser um círculo vicioso, não é? Porque se não se investe
muito também
Pedro Bernardo
tenderão a estar menos trabalhados. É verdade, enfim, há vários fatores. Primeiro,
a edição é por definição um negócio sem barreiras à entrada. Portanto,
eu monto uma editora num T2, quer dizer, escolho os títulos, é
tudo subcontratado, paginação, tradução, revisão, impressão, armazém, logística, tudo. É um negócio
sem barreiras, portanto, e há ao lado muito romanesco das pessoas que
gostam de edição e há muitas pequenas editoras que funcionam sem o
objetivo do lucro. Há muitos casos desses e, portanto, isso significa que
há muitas editoras a publicar. Algumas só com dois, três títulos por
ano, outras com cem, duzentos, trezentos, quinhentos, portanto, é um mercado muito
diversificado. Mas, de facto, publica-se, eu não sei se é demasiado, quer
dizer, mas a verdade é que há muita armazém cheio, portanto, a
norma mais ou menos internacional, ou assim aquela regra mais ou menos
da experiência, em termos internacionais, é que em cada 5 romances publicados,
2, 3 dão lucro. Portanto, e esses terão de cobrir os prejuízos
dos outros e, portanto, é um negócio complicado, mas, como digo, por
um lado tem este apelo, este atrativo romanesco da edição, dessa edição,
aquela aura da cultura, há muita gente movida por isto e depois
há a parte mais industrial e mais profissionalizada do setor, mas há
editoras que publicam 500 títulos por ano.
Pedro Bernardo
Eu dispenso de representar nomes, mas sei capaz de não resultar muito
bem. Há casos desses, portanto, não tem. Mesmo com revisão, já é
o que é muitas vezes. Exatamente,
não
tem o custo de revisão, mas portanto, tradução, se tiver, revisão, design
de capa, impressão e depois armazenamento, logística e os custos de estrutura
do próprio negócio, quer dizer, há sempre ali uma margem que tem
de ser imputada. Portanto, no caso desta crise do papel, quer dizer,
as contas são fáceis de fazer. A edição, ao contrário de outras
indústrias, não pode imputar indefinidamente o aumento dos custos no preço final.
Porque há um teto para os preços. Eu posso pôr um livro
à venda por 40 euros. A risco é que ninguém o compre.
Isto significa que este aumento vai comer a margem do negócio. E
não sei se isto para muitos editores é sustentável. Já nem digo
a médio prazo.
Editores
que já tenham, por exemplo, as margens muito cortadas. Portanto, estamos a
falar, em alguns casos, de 20, 30% de aumento do papel. Nós,
por exemplo, deixámos de fazer livros cartonados. Eu dei um exemplo, no
nosso blog eu tenho um... O que é que são livros cartonados?
São livros de capa dura. Porque se o papel aumentou 20 a
30%, o cartão, em alguns casos, aumentou 50%. Portanto, tudo isto nós
temos um texto no blog em que eu explico as contas que
eu traduzi. Um livro que nós fizemos em novembro do ano passado,
se fosse feito hoje, em custo de produção, e neste caso o
aumento era só papel e cartão, custar-nos-ia mais 50%. Pois é uma
diferença muito grande. Os ovos aumentaram 50%, mas o produtor consegue fazer
repercutir esse aumento no preço. A edição tem... Mas
Pedro Bernardo
que já dissem que acham que o livro é caro. Enfim, podemos
falar disso mais à frente. Hoje, não até. Em alguns casos têm
razão, mas há uma explicação para isso. Mas o preço do livro
não pode aumentar indefinidamente. Ele tem um teto. Se eu pegar um
livro numa livraria, um livro com 400 páginas, se me pedirem 30
euros, muito provavelmente eu não o compro. Agora, para poder acumular este
aumento todo, em teoria, eu teria de aumentar mais 2, 3 euros
e isso não é, em muitos casos, não é possível. Sim, sim,
sim. Não é porque aquilo que
José Maria Pimentel
está a fazer não é o meio de primeira necessidade, por isso
a tua procura é menos rígida do que noutros bens. E, aliás,
até um caso interessante aí, que sempre me tinha fascinado, há determinados
livros técnicos, técnicos no sentido académicos, não é bem técnico, não é
no sentido de serem livros de determinada cadeira, no
sentido de serem
livros académicos. Não estou a falar, senhor, de livros com fotografias e
papel especialmente espesso ou com acabamento especial, não são livros completamente banais,
mas académicos e que muitas vezes se apanha, sobretudo nos estrangeiros, a
100, 150 euros. E eu sempre me tinha interrogado por isso, até
que me explicaram porque é que isso acontece. É porque, precisamente, eles
são um pouco sensíveis à procura e, portanto, há sempre ali as
universidades, as bibliotecas, que vão comprá-los e, portanto, comprar o preço que
estiver e o restante público praticamente não compra. Portanto, eles compensam-lhes ter
aquilo, aquele valor que não faz qualquer sentido, e as outras pessoas
não compram ou então têm maneira de aceder através do autor, quer
dizer, um público tão restrito gera-se
Pedro Bernardo
aparente paradoxo. O núcleo comprador são as bibliotecas dos institutos e das
universidades, Portanto, o preço é feito para aquele universo, que é um
universo, enfim, com poucas restrições orçamentais, a partir daí tudo o que
vier, e às vezes vem alguma coisa, portanto, é sempre bem-vindo.
Pois é, isso
é. Aliás, não é por acaso que os maiores grupos editoriais do
mundo são da área do livro técnico.
Pedro Bernardo
Duas formas. Por exemplo, eu posso escolher com base em catálogos de
editores estrangeiros, escolho, contacto o editor estrangeiro, diz, olha, nós estamos interessados
em fazer a edição portuguesa deste título. Mas é um livro que
já existe, não é? Exatamente. Quando ele não existe, desde o Zuma
ou aparece um autor com uma proposta, diz, olha, eu tenho aqui
um livro sobre o assunto X, ou o próprio editor vai ter
com o autor A, B ou C e diz, olha, eu queria
que escrevesse sobre isto. Mas qual é que é, na não ficção,
por exemplo, qual é que é mais comum que tu expresses? O
mais comum é aparecer alguém com o manuscrito e depois, enfim, o
editor olha para aquilo, analisa, já nos conta a mim e outros
colegas, alguém que chegue com uma ideia. Eu gostava de fazer sobre
isso e que era um respaldo. Portanto, alguém que lhe diga assim,
senhor, o nosso caso, a nossa história de hétero, do Diogo Noivo,
foi precisamente ele que nos contactou e disse, eu tenho esta ideia.
Diz, olha, Diogo, nós gostamos muito, sim, senhor, avance, assinamos um contrato
e ele pôs-se a escrever o livro. O livro existia na cabeça,
era uma ideia e portanto...
Pedro Bernardo
caso veio da editora, mas foi isso também de início, não era
livro nenhum. Não, não, não. Acontece, muita gente... Era uma ideia, sim.
A editora contacta alguém, qualquer que seja a área, culinária, fotografia, enfim,
é irrelevante. Contacta alguém e diz, olha, quer escrever sobre esse assunto?
E a pessoa diz que sim ou não. Mas o mais comum
é aparecer um autor com o original, a proposta, fazer uma proposta
de edição. Sim, sim.
José Maria Pimentel
E nós temos, em Portugal, há muito a tradição do scout, não
é? Da pessoa que vai do olheiro, não sei como é que
isto se traduz, não é? Não,
não. Geralmente... De
alguém que está, julguei-me a função, é alguém que está à procura
de autores e que vende esse serviço à editora, no fundo, não
é?
Pedro Bernardo
Eu não conheço, pode haver, mas eu não conheço. Acontece às vezes,
é autores que contactam as editoras e depois a editora pode reconhecer
determinado mérito naquele original e presumir que atrás daquilo outros virão e
assine, por exemplo, a 3, 4, 5 títulos. E o autor fica
amarrado, entre aspas, contra atualmente. Portanto, os próximos a escrever estão reservados
para aquela editora. Mas há casos, por exemplo, de editores que publicaram
quatro obras de um determinado autor e aquilo não vendeu. E ele
muda de editora, publica um quinto e é um best-seller.
Pedro Bernardo
que tocou? Juro que aconteceu com a Dulce Maria Cardoso, se a
memória não me falha. Acontece, quer dizer, não há uma explicação.
Não é
necessariamente fruto do mal trabalho do editor anterior, não é necessariamente fruto
de um trabalho excepcional do novo editor, às vezes há ali uma
conjugação. O tema, por exemplo, um tema que há 5 anos não
te seria a ninguém, mas agora é uma coisa oportuna, tem mais
leitores, pronto.
Pedro Bernardo
difícil ou mais fácil a tua experiência? Para um editor, não é?
Os autores são um espelho da natureza humana, como nas outras ediçes.
Há bons e há maus, há boas pessoas, há más pessoas. Mas
há padrões? Ou seja... Não, não. Quer dizer, É natural, o único
padrão que eu diria, nem sei se lhe chamaria de padrão, é
que são, e eu percebo, são ciosos do seu texto. E voltando
atrás, culturalmente tem alguma resistência a que se lhe mexa no texto.
Mas falando com as pessoas, explicando, Na maior parte dos casos as
pessoas aceitam, agradecem, mas há casos em que não. Raros, mas há
casos em que não. Mas não há, quer dizer, é um espelho
da natureza humana, enfim, estamos a falar de autores, podemos estar a
falar de canalizadores, giletes fredistas, é natureza humana, portanto há boas pessoas,
más pessoas, mas eu percebo que tem resistência, há que se mexer
no texto, porque o texto é uma criação intelectual e, portanto, é
natural que as pessoas sejam ansiosas desse mesmo texto. Há textos, por
exemplo, em que o editor praticamente não mexe. Coisas muito bem feitas
acontecem, há outros em que aquilo dá mais trabalho. Eu lembro-me há
uns anos, ainda estava na edição 70, e apareceu lá uma autora
com um texto daquilo, que tinha a ver com pedagogia, era uma
coisa com interesse, mas ela aparece com 600 páginas. O assunto, senhor,
a nós interessar-nos ia, mas isto é demasiado grande para aquilo que
o mercado consegue comportar e pagar. Ai, mas eu não tiro uma
virula ao meu texto. Senhor, então, lamento, mas a nossa reunião acaba
aqui. Não valia a pena continuar. Ela já estava, de tal forma,
pré-condicionada, a não aceitar nada. Aquilo não iria correr bem. Iria ser
uma coisa muito antagónica, confrontacional, que não interessa a ninguém. Mas isto,
enfim, como digo, é a exceção do que eu sei. Geralmente as
pessoas aceitam com maior ou menor resistência, mas aceitam e aquilo acaba.
Pedro Bernardo
Eu vejo isso mais nos textos que vêm da academia. Sim, pois,
exatamente. Sim, sim, era isso que eu estava a referir. Na ficção,
do que me vai chegando em conversas com colegas que trabalham e
como o próprio sócio, o Xavier, que tem o pelouro, enfim, chamamos
assim da ficção de editora, o que eu vejo é autores mais
novos, se eu tivesse que apontar uma falha, entre aspas, é a
falta de vocabulário. Isso nota. Curioso. Nota. Nota-se, enfim, já não... E
o nosso padrão já não é aquele hino, quer dizer, mas nota-se,
em muitos casos, uma falta de vocabulário. Isto na ficção. Na não-ficção,
no ensaio, vejo que muita coisa que vem da academia vem com
uma sintaxe muito colada à sintaxe anglo-saxónica e eu atribuo isto à
necessidade de ter que produzir conteúdo científico em inglês, para publicação em
revistas estrangeiras, etc. Noto que a sintaxe está muito aproximada do inglês
E depois noto, e mais uma vez uma coisa mais cultural, enfim,
de alguma escola francesa, que é as pessoas confundem complexidade ou ininteligibilidade
com profundidade de pensamento. Exato. Não são necessariamente sinónimos. É isso, É
isso, é isso. E, portanto, nesse aspecto, os anglo-saxónicos têm uma tradição
mais clara. A escola francesa, enfim, de que nós somos em parte.
Sim, sim, absolutamente. E a ideia dos tem... Há ali assim um...
Há um culto da opacidade. Exatamente. E aquilo, a nota de rodapé,
eu recordo-me há anos de um texto que me chegou, aquilo tinha
que ver com estética. Estética, educação, e aquilo era de um doutorado.
Não havia duas linhas sem uma nota de rodapé com uma citação.
Portanto, aquilo na prática o que era? Aquilo do próprio não tinha
nada, eram só ideias dos outros, quer dizer, não... Isto não chega.
Sim, sim. E volta a
dizer, de um doutorado, já não era de alguém a início de
carreira.
Pedro Bernardo
Uma pessoa, já lhe digo, um alfabeto, quarta classe, enfim, com uma
cultura geral menos robusta, olha para aquilo, lê, não percebe nada. Não
percebe nada, inclusive não percebe os prazos que tem para reclamar ou
qualquer coisa e pode deixar passar um prazo. Tudo isto tem consequências
na vida das pessoas e chegamos a um assunto básico, devia ser
básico, que era clareza de linguagem. Nós somos antídotes disso, e os
faculdades de Direito são, quanto a mim, muito culpadas disto. Sim, sim,
absolutamente. Eu acho que há... Lá está, o mercado não deve ter...
Não terá dimensão para
Pedro Bernardo
anos no Grupo Almdina, e o core do grupo Almdina é a
publicação de direitos, livros de direitos e das minhas colegas que lidavam
com o direito, quer dizer, não há liberdade para intervir no texto
o texto chega ali como a aura reverencial, então
se for
de um catecrático de direitos nenhuma vírula se mexe, mesmo que ela
esteja mal posta portanto, há ali uma referência, não se consegue, não
se consegue e as inserções vinham de cima. Eu falo, as pessoas
querem agir, mas...
Pedro Bernardo
texto, que intervenientes é que há mais no... O editor recebe a
proposta de edição ou escolhe. A partir dali, vamos seguir um exemplo
que é um livro com tradução. Há mais uma etapa na produção.
Eu escolho um livro e quero traduzi-lo. Tenho de contactar, evidentemente, um
tradutor, assino com ele um contrato que define as condições dessa colaboração,
com duração, prazo, etc. Consequência, não cumprir os prazos, cláusulas punitivas, etc.
Um contrato igual a outro estante. Portanto, o tradutor compromete-se e traduz
o texto. Quando ele traduz o texto, entrega a tradução e a
editora entrega aquilo. Se tiver um departamento interno de revisão entrega a
esse departamento, mas se for uma editora de pequena dimensão há de
ter revisores com quem trabalhe em regime de recibo verde. Portanto, entrega
aquela revisão para ela ser revista. O revisor faz o seu trabalho,
devolve o trabalho ao editor, o editor geralmente dá uma vista de
olhos para ver qual foi o tipo de intervenção do revisor e
faz chegar esse trabalho ao tradutor, que depois concorda ou não. Quando
as colaborações já são fluídas e cordiais, até pode dar-se o caso
do editor ficar de fora desse processo e o revisor lida diretamente
com o tradutor. Pronto, pessoas conhecidas, enfim, o país é pequeno também,
não há muitos bons tradutores, não
há muitos
bons revisores e, portanto, há casos em que isso se faz diretamente
e o editor até não tem de participar no processo. Mas se
quiser participar, por uma questão de controle de qualidade, etc., pode fazê-lo.
Tudo feito, sim senhor, aceitaram as revisões, aceitaram as sugestões, pega-se nesse
original, nesta fase trabalhamos, no princípio, trabalha tudo em Word, em fecheiro
de Word. Pega-se nesse fecheiro de Word e entrega-se alguém ao paginador
para o paginar segundo o modelo, pode ser um modelo já pré-definido,
se for um livro de coleção, o que queremos, feito assim, e
vai para paginar. Paginado, o editor recebe aquilo que se chama as
primeiras provas. Essas provas vão ou ao revisor ou é o próprio
editor ou o departamento da editora que lê essas provas. Se houver
emendas, devolve ao paginador, lance essas emendas. Entretanto, paralelamente a este processo,
em teoria, já haverá uma proposta de capa em que o editor
se sentou com o designer e diz, olha, vamos publicar um livro
sobre isto, título e tal, nós queríamos uma coisa neste género ou,
se for um texto de coleção, já existe uma matriz e, portanto,
há ali depois pequenas variações, cor do título ou isso. Mas portanto
há alguém a fazer o design de capa. E com o autor
ou sem o autor? Com o autor, que é sempre um processo
melindroso porque cada um tem o seu juízo estético. E eu tive
só um caso de um autor que deixei de publicar porque não
aceitou a proposta de capa. E foi deselegante nos comentários. O livro
estava paginado, havia contrato e tal, sendo assim, foi preciso resolver o
contrato, foi o único caso até hoje. Mas há autores com opiniões
estéticas, um juízo estético mais forte do que outro, enfim. Eu posso
dizer de experiência
Pedro Bernardo
exatamente. Em alguns casos, se é um texto de coleção, enfim, aquela
coisa
resolve-se porque
já há uma matriz, já há um modelo gráfico, portanto, agora aquilo
que se chama uma capa à vult, só fora de coleção, pronto,
é preciso chegar a acordo com o autor, lá está, é um
trabalho, enfim, de algum convencimento, no sentido de ter de lhe dizer,
mas a editora tem, o senhor gosta de, mas a editora, apesar
de tudo, tem uma estética, e portanto é preciso que isto tenha
coerência em termos estéticos com o resto dos produtos e distribuíres. Não,
não tinham pessoas, acabam, por chegar a um consenso.
José Maria Pimentel
Como é que a prática em Portugal é a esse nível comparado
com outros países? Porque lembro-me de falar, a certa altura, com a
minha primeira editora, que era na Bertran, que era a Bárbara Soares,
e dela comentar que em Portugal nós éramos um pouco mais conservadores
do que noutros países nas capas, ou seja, às vezes tu tens
umas capas muito revezadas, revezadas muito originais, digamos assim, e às vezes
até com cartoons ou coisas que aqui há a percepção de que
pode tornar o livro menos sério, digamos assim. Então esta é uma
tendência, não sei se tu partilhas. Depois outra tendência, que é quase
em sentido oposto, é que hoje em dia, por exemplo, no mundo
anglo-saxónico, há uma tendência para ter capas muito cruas, muito simples, só
com as letras em grande. Sobretudo na nonficção, estou a falar da
nonficção, que me parece, não que a lista tenha lado nenhum, mas
parece-me quase a exaustão deste modelo, quer dizer, a certa altura já
se tinha testado tantos moldes que se passou a uma coisa mais
despida, uma coisa mais minimalista, que no fundo se foca muito no
título e isso também provavelmente também não é irrelevante para isto a
tendência para usar subtítulos, que é uma tendência nas últimas décadas, não
é? Tens um título qualquer chamativo e depois tens o subtítulo que
explica. Parece quase uma contradição, mas são duas tendências que eu não
encontro bem em Portugal. Tanto a mais original de usar, muitas vezes,
desenhos para ilustrar uma capa de não-ficção, estou a falar porque não-ficção
é um pouco diferente, como esta mais minimalista. Devo dizer que não
concordo do que
Pedro Bernardo
eu conheço. Temos bom design, temos muito bom design editorial em Portugal,
premiado, de vários quadrantes. E eu acho que o problema da edição
é que quando nós falamos de edição é demasiado abrangente, porque ela
vai desde o livro de culinária ao livro infantil e, portanto, não
concordo. Não sei se foi o ano passado ou há dois anos,
houve design premiado em Bolonha, que é uma feira de livro infantil,
portanto, nós temos de tudo. E volto a dizer, temos bom design
e design premiado. Premiado também nos livros de adultos,
Pedro Bernardo
interessantes e distintivas, sobretudo. Tem, tem. É um trabalho da Vera Tavares
que é exatamente distintivo. Criou ali claramente uma... Há muito poucas editoras
em Portugal em que se eu entrar numa livraria a 20 metros
eu já sei qual é. Olhando para cá para a internet, eu
sei qual é a editora. A Tinta de China é uma delas.
Há a Ciri Alvim, era outra. E hoje, enfim, quero acreditar que
a Primatura também está a aproximar disso, sem falsas modéstias. Mas, por
exemplo, eu quando estava no grupo Almedina, trabalhava com a FBA de
Coimbra, que tem muito, muito premiados, com... Portanto, tem vários géneros. Ficção,
não ficção, portanto, e não só, há outros. Eu acho que o
que nós fazemos, o que se faz no resto do mundo, em
alguns casos... Acho que é
Pedro Bernardo
Eu acho que é verdade. O que Eu noto, em algum tipo
de ficção mais generalista, é que há a tendência para as capas
se tornarem muito parecidas. Aí, em algum segmento de ficção, eu noto
essa tendência. Que é uma coisa que já vinha, por exemplo, vi
isso muito naqueles best-sellers de aeroporto. Aqueles paperbacks, aquele formato pequeno, aqueles
layouts gráficos, aquilo era mais... Eram variações, mas aquilo era tudo... É
uma fórmula testada, portanto, e de sucesso. Em alguns casos é isso
que acontece, mas acho que se consegue fazer e faz-se em Portugal
com ilustração, sem ilustração, trabalhando muito a tipografia. Por exemplo, o João
Bicker, da FBA, tem uma coisa feita na Fenda, que premia um
trabalho em termos de design editorial, é uma coisa fabulosa, que ele,
com duas cores, o vermelho e o preto, e em artes gráficas
o branco não é cor, é ausência de cor, com duas cores
e um tipo de letra, ele conseguiu criar uma identidade de uma
editora. Letras, os títulos em círculo, maiores ou menores, enfim, efeitos... E
aquilo estava muito, muito bem feito. E, portanto, há de tudo em
Portugal, há de um melhor e, portanto, não... Eu aí confesso que
não...
Pedro Bernardo
sobretudo, enfim, se é algo positivo também é boa assinalar, não é?
Há editoras que tentam esse design mais clean, mais despojado, precisamente porque
ele vai contra a corrente, com aquela profusão de cor, com que
nós somos bombardeados quando entramos na minha editora.
Uma livraria.
Uma livraria, exatamente. E isso até ajuda porque aquele título, pela sua
sobriedade, acaba
José Maria Pimentel
por destacar relativamente aos demais. Exato, exato. Pois, pois, eu acho que
tem justamente a ver com isso. E em Portugal como é que
nós comparamos com outros países ao nível dos livros que se vendem,
não é das tendências, sei lá, vendemos mais ficção do que em
outros países, proporcionalmente menos, vendemos mais ou menos autoajuda, mais ou menos
ensaios, quer dizer, como é que...
Pedro Bernardo
essa cooperação, não é? Não existem, mas estamos a falar de muitos
países, mas enfim, do que eu vou vendo e do que sei,
o mercado português não é muito diferente de outros mercados. Além de
géneros, eventualmente, purei a questão em termos de formatos, que era para
fazer aponto com o livro de bolso. Aí sim é que... Nós
temos pouco livro de bolso, não é? Temos, por uma razão também
fácil de explicar. A escala. O livro de bolso, para ser barato,
a tiragem tem de ser grande. Ok. E o problema é que
o mercado português não aguenta grandes tiragens para determinados géneros.
Pedro Bernardo
não é? Geralmente ou são de capa dura, ou são de capa
dura, ou então aquilo está mal feito, mas em condições normais, sendo
um livro de capa dura, permitir folheá-lo, manuseá-lo, se por exemplo a
cartolina da capa for excessiva, vai criar resistência e o livro não
abre com tanta facilidade. E depois há formatos mais pequenos, há editoras
que têm formatos específicos, enfim, também faz com que se chame a
atenção para o produto, o livro estando exposto acaba a oferecer também
um produto, mas assim, em média, o formato padrão 15, 5, 23,
5, 15, 24 neste universo. As medidas, depois, têm que ver com
os aproveitamentos de papel, nas folhas de papel, na impressão. Exato, depois
imagina que sim. É um formato estudado para ter um aproveitamento otimizado
do papel. Mas o livro de bolso obedece ali a uma lógica
própria, que é uma tiragem para eu ter o livro a um
preço apetecível e o livro de bolso cumpre essa função. Enfim, em
teoria é o livro mais barato do que a edição normal, chamemos-lhe
assim, mas se eu não conseguir ter uma tiragem muito grande, não
lhe vou conseguir por um preço atrativo. E depois, enfim, há ali
também um fator um bocado cultural que o público português, pelo menos
o mais velho, ficou um pouco traumatizado com as experiências de livro
de bolso feitas pela Europa América, por exemplo.
Pedro Bernardo
Deixaram aquilo em... Em alguns casos as traduções deixavam um pouco a
desejar, em outros, em termos de acabamento, aquilo a cola... As colas
em edição não estavam ainda bem desenvolvidas com o tempo. O bloco
de livros, as folhas começavam a descolar. E aquilo deixou, em algum
público, no qual eu me incluo, deixou ali um pouco... Uma má
memória. Um trauma. Deixou o público um bocado de pé atrás relativamente
ao livro de bolso. Mas, por exemplo, a Leia tem uma coleção
a bise muito bem feita, a Bertrand também, um 11-17, nesse aspecto
as coisas lentamente estão a melhorar, mas
estamos
muito aquém do que se faz noutros países da Europa, onde há
coleções gigantescas de livros de bolsa a preços... Pois, exatamente. A Preços
abdecíveis. E qual é a tua visão
José Maria Pimentel
em relação aos livros digitais? Eu faço esta pergunta porque em Portugal
os dados indicam que se lê... Bom, os dados na verdade são
conflituantes em certo sentido porque a cota de mercado é mais ou
menos 1, 2%, é muito baixo. Sim, isto eu vou vendo. Embora
houve um estudo da Guben, que era só abritos culturais, já vamos
falar mais à frente, que dava 10% de pessoas a lerem livros
digitais, o que é que é um intervalo um bocadinho grande. Não
acredito nisso. Mas pronto, o que tudo indica é que tem uma
cota de mercado pequena, comparativamente com outros países. Porquê que isto acontece
e tu achas que tem potencial para aumentar? Eu acho que potencial
tem. Não vai ser
Pedro Bernardo
a panaceia que durante muito tempo... Pois, isso seguramente. ...Dizeram que ia
ser. Mesmo nos outros países, enfim, nós durante muitos anos fomos bombardeados
com estatísticas do livro digital que era preciso ler com alguma reserva.
As taxas de crescimento eram na ordem das centenas. A questão é
que... Partia de muito baixo, não é? Antes havia 100 pessoas a
ler, dois anos depois há 500 a ler, enfim. Evidentemente o crescimento
é explosivo, mas a amostra é o que é. E, portanto, eu
acho que aquilo é mais um meio, é mais um formato. Não
é aquilo que durante muito tempo se julgou que ia ser. Eu
ainda me lembro de ir a Frankfurt à Feira do Livro e
aquilo era vendido como se fosse, enfim, o futuro radioso da edição.
Enfim, nós encaremos aquilo como mais um formato. Temos estado a converter
o nosso catálogo gradualmente para livro digital, mas requer outro tipo de
hábitos de leitura, culturais, etc., que nós gradualmente vamos adquirindo, mas não...
Mas é residual. Parece-me
José Maria Pimentel
que há aqui um problema também na origem, porque, a partir da
tua visão, era uma impressão que eu já tinha na altura, mas
entretanto a tendência do mercado comprovou isso, porque houve até um decréscimo
em muitos países. O futuro não é toda a gente ler livros
digitais, não é? Provavelmente até haverá alguma complementaridade entre o outro para
a mesma pessoa, ou seja, eu próprio leio livros digitais e livros
em formato físico. Nós em Portugal, porém, temos um problema porque temos
o mercado muito compartmentalizado e temos, por exemplo, há o Kindle da
Amazon, que é o que eu tenho, mas implica comprar o livro
através da Amazon, mas que, entretanto, comprei muito às margens das editoras,
portanto, elas não têm muita vontade de colocar lá, e depois passa-se
mais ou menos o mesmo com os restantes, sendo que o mercado
também está fragmentado, ou seja, quem quiser ler um livro digital tem
a vida bastante complicada. Eu, por exemplo, como tenho ouvintes do podcast
no estrangeiro e os portes de envio do livro são muito caros,
tive muita gente a pedir-me e a verdade é que o livro
ainda não... Na Amazon nunca vai existir, acho eu, quer ser pelo
menos no curto prazo. E nos outros também há de estar para
estar disponível, mas não esteve de imediato, ou seja, também não é
fácil para quem
Pedro Bernardo
está nessa posição, não é? Para ler livros estrangeiros é fácil, para
ler livros em português é bastante mais difícil. Sim, quer dizer, praticamente
aquilo está feito, colocamos aquilo no... Vocês têm na Amazon? Temos. Ah,
não sabia. Através do Aleia tem um serviço bom, que são eles
que fazem o intermediário e põem aquilo na Amazon, na Kobo, na
Uke, enfim, nas principais lojas online. E, portanto, nós temos vendas que
vêm...
Pedro Bernardo
Varia consoante o género. Há géneros mais propícios a isso, há outros
menos. Pois, pois, pois. E Mesmo em alguns casos, nos próprios Estados
Unidos, até já houve regressão nos números.
Já, pois era aquilo
que eu falava há bocadinho. Os próprios números têm de ser olhados
com desconfiança, precisa ver qual é a fonte, se o estudo é
fiável ou não. Mas eu acho que nós encaramos aquilo como uma
espécie de canal complementar, um formato complementar, que não substitui, complementa. Há
casos em que as pessoas têm as duas coisas, têm o físico
e têm o eletrónico.
José Maria Pimentel
Pois, será a maioria das pessoas. Contribua para a continuidade e crescimento
deste projeto no site 45graus.parafuso.net.apoiar Veja os benefícios associados a cada modalidade
e como pode contribuir diretamente ou através do Patreon. Obrigado. E olha,
o elefante na sala, ou seja, que é a evolução dos números
de leitura em Portugal, que é uma coisa que se tem falado
bastante, não é? Tu partilhaste até um estudo que eu não conhecia
comigo, de Miguelngelo Lopes, João Soares Neves e Patrícia Ávila, que é
sobre leitura de livros em Portugal, e eles identificavam este século uma
tendência decrescente da leitura de livros. E depois houve um estudo da
Gulbenkian, que deu muito o que falar aqui há pouco tempo, sobre
hábitos culturais, o estudo não é só sobre livros, e tinha um
número que até me parece que foi descontextualizado ou foi mal reportado
que 61% das pessoas não tinham lido qualquer livro no ano passado.
Na verdade, depois acresce aí os sugestrios 10% de pessoas que supostamente
leram livros digitais, não se percebe como é que uma se relaciona
com a outra, porque há pessoas que terão lido dos dois tipos,
mas enfim, na melhor das hipóteses, 50% das pessoas não leu qualquer
livro no ano passado, o que deu a habitual onda pessimista e
crítica em relação ao estado das coisas, como é que tu vês
isto? Seja este número, seja a tendência, porque dá ideia pelo primeiro
estudo que eu referi que houve uma tendência de aumento da leitura
com a democratização do ensino e, enfim, até a democratização do acesso
aos livros, que depois parece ter mais ou menos invertido na última
década, última duas décadas.
Não sei
se isso é verdade, atenção.
Pedro Bernardo
Pois, eu olho para esses estudos, enfim, eles valem o que valem,
mas eu fico sempre um pouco de pé atrás, porque, em alguns
casos, até acho que as pessoas nem são completamente verdadeiras nas respostas
aos estudos. Mas, dando de barato que os dados são fiáveis, enfim,
dos vários estudos que eu já fui lendo ao longo dos anos,
geralmente a percentagem média que surge é isso, é que metade dos
inquiridos não lê um livro. Isso tem sido mais ou menos considerável,
mais 5, menos 5%, mas geralmente é isso. O que é já
uma percentagem um pouco assustadora. E importa, desculpa interromper-te, isto tudo é
mais relevante se nós compararmos com outros países. E no caso
José Maria Pimentel
de Espanha, por exemplo, andava a salver uns 30% e eu depois
apanhei isto, há alguns, mas não consegui confirmar, de que Portugal seria
o segundo país da União Europeia com o pior índice de leitura,
ou com o índice de leitura mais baixo, não é? E aí
é mais relevante, não é? Ser verdade, não é? Mais do que
provavelmente os 50%, porque a
Pedro Bernardo
próxima... Não me custa a crer, embora, por exemplo, relativamente a Espanha,
há uns anos vi também um estudo em que a percentagem não
era muito diferente da nossa. Mas o resultado é que, enfim, dos
50% a gente não se libra. O que já é uma percentagem,
quanto a mim, um bocado assustadora. Eu pensava tudo, acho que se
lê mais, mas lê-se é em géneros que, por exemplo, há 10,
15, 20 anos não existiam. Eu dou sempre três exemplos. Se eu
entrasse numa livraria há 15 anos, não havia uma banca para a
culinária. Não havia. Não havia uma banca para fotografia. A autoajuda estava
reduzida a meia dúzia de títulos, geralmente importados do Brasil. Portanto, em
15 anos, estes dois, estes três seguidores mais a culinária e a
autoajuda, por exemplo, estes dois géneros em 15 anos geraram milhares de
títulos e tiveram compradores. Eu lembro, por exemplo, da edição 70 para
cada título havia um histórico, Portanto, das tiragens, o ano, o mês
e coisas... Por exemplo, Roland Barre, Nec de 80, enfim, já ali
no auge do estruturalismo, um título de Roland Barre tinha uma tiragem
inicial de 4 mil exemplares. Hoje, isto é impensável. O editor fará
750 e depois vai pôr uma velinha para ver se as coisas
correm bem. Portanto, o público diversificou-se. Houve géneros que reduziram bastante as
suas vendas, houve outros que surgiram do nada. Eu acho que há
mais gente a ler. Agora, leem é outra coisa. Porque nós olhamos
ler e depois temos sempre, no nosso consciente, há sempre o ler,
mas naquela vertente cultural. Claro. De edificação, enfim, aquela crença iluminista. As
pessoas leem outra coisa, livros do chefe A, B ou C, para
fazer rabanadas. Aquilo surgiu, não existia, mas surgiu e tem um
Pedro Bernardo
par de isso, é bem observado, a leitura tem de concorrer com
mil e uma solicitações e a principal das quais precisamente era a
internet, onde eu tenho acesso a conteúdos, mas tudo e mais alguma
coisa, portanto, o número continua a ser exagerado. Eu acho que, apesar
de tudo, se vai além de mais, mas as pessoas leem outras
coisas. Agora, há aqui um problema estrutural que são os hábitos de
leitura, quer dizer, e isso é um problema estrutural de décadas que
não se resolve num ano ou dois. Sim, sim. Se nós compararmos
os nossos hábitos culturais com, por exemplo, a população de um país
em dimensão populacional idêntica, enfim, não digo uma Holanda, mas, por exemplo,
a Bélgica e o resultado agora. Isto é um problema de... Mas,
desculpa, qual é a diferença? É o nvel do número de livros
lidos ou do tipo de livros lidos? As duas coisas. Porque os
outros também leem culinária, os outros também leem historiografia, também leem autoajuda,
mas também leem... Há mais gente a ler, lá está. Enquanto no
nosso caso, por exemplo, metade dos inquiridos não lê, Eu não sei
quais são os dados da Bélgica ou da Holanda, não será metade.
Ou da Alemanha, não será metade. Mas isso é um problema, é
um atraso cultural de décadas, para o qual não há uma solução
imediata. Quer dizer, tem que ser um trabalho que tem que vir
a ser feito. Pessoalmente, acho que a escola não tem ajudado, tem
ido pela via do facilitismo, quer dizer, a lista de títulos de
leitura obrigatória vai caindo drasticamente, quer dizer, já não é preciso ler
quase nada, ou lê-se um excerto, umas coisas e portanto, isto não
inspira o gosto pela leitura. Mas desculpa, agora, sendo provocador, tu achas
que o modelo antigo funcionava? Ou seja, o modelo de
Pedro Bernardo
via de entrada, se quiser. O problema é que a inclinação diminuiu
drasticamente. É que hoje nem difíceis, nem menos difíceis. Há muito por
onde escolher e se não querem ler os mais há outras coisas
para ler interessantes, quer dizer, ah, o universo é infindável. Agora, eu
não partilho a visão da escola meramente lúdica, quer dizer, ela tem
de ser lúdica, mas há ali uma altura em que a conquista
do saber requer algum sacrifício. Aliás, por definição, o miúdo não quer
estar na escola. O miúdo quer estar a brincar. Sim, claro que
é. Não quer estar fechado numa sala de aulas ou ouvir um
professor que para ele é um chato. Portanto, a aquisição do saber,
o processo da escola é chato, mas não pode ser meramente lúdico.
Há ali uma vertente de algum sacrifício que é chato para os
miúdos, eu sei que é, mas eu acho que se passou de
um extremo ao outro. E há muitas formas de tornar a leitura
apetecível e interessante. Há muitas formas de levar os miúdos ao teatro
através da representação para chegarem ao texto. Há muita coisa e as
escolas conseguem fazer isto. Agora, é preciso um esforço concertado e até
por uma questão de igualdade de oportunidades, porque os miúdos que não
têm um livro em casa, e há muitos agregados familiares onde isso
acontece, os pais saem de manhã para trabalhar e chamar à noite,
os miúdos estão sozinhos, se
não
têm bibliotecas em condições, se não tem alguém que puxe por ele,
em casa também não. E, portanto, vão ficando para trás. Porque os
filhos de pais compostos têm livros em casa, têm explicadores, têm... Esses,
de uma maneira ou de outra, vão chegando lá. Agora, as famílias
mais carenciadas, se não for a escola a dar-lhes um amparo e
a levá-las uma determinada direção, a dar-lhes algumas ferramentas e eu acho
que tem-se falhado nesse aspecto.
Pedro Bernardo
Mas lê outras coisas, ele vai para a biblioteca.
Ou mesmo com
a sua antiguidade, ele pode ler outras coisas. Pode ler Sophia de
Melbraeun, eu tenho enteados, uma adora ler, tem 11 anos, Sophia de
Melbraeun adora aquilo, O mais velho de 14, ler nem obrigado. E
crescidos exatamente no mesmo contexto cultural, há duas coisas opostas. Mas têm
livros em casa, têm a possibilidade agora. Se não houver, onde é
que há? Só há na biblioteca, portanto. E há outras coisas, podem
ser coisas mais complexas, outros textos, depois podem requisitar, podem levar para
casa, portanto, o papel devia ser este agora. Mas há, curiosamente, uma
tendência de que se fala pouco. Os livros infantis têm cada vez
menos texto. Há um predomínio da ilustração que no espaço, eu diria,
nem chegou a uma geração. Em menos de uma geração, inverteu-se. Antes
era o nome do autor e depois vinha, enfim, uma coisa mais
pequena, o ilustrador. Agora é ao contrário. Portanto, é o ilustrador, mas
a quantidade de texto nos próprios livros infantis tem-se vindo a
Pedro Bernardo
o conjeto.
Havia
mais, mas eu noto que, em alguns casos, os livros recomendados para
9 anos têm muito menos texto. Por exemplo, na minha infância, não
gosto muito destas comparações, mas na minha infância já lá vão umas
décadas. Aos 9 anos, 10 anos, liamos os 5. 1.2009 anos, não
há muitos a ler os 5, porque eles olham para aquilo e
lêem só texto, uns desenhinhos, umas coisas. Eu acho que há aqui
um hábito cultural que tem de ser cultivado e isso é, antes
de mais, um trabalho da escola.
José Maria Pimentel
Olha, e falamos do mercado, do setor livreiro em Portugal, especificamente, que
tem algumas, nós ainda não falámos disso, mas há algumas especificidades até
de, enfim, algumas mudanças que houve nos últimos anos que têm gerado
algumas críticas, houve uma concentração no mercado. A ideia que eu tenho
é que houve uma concentração tanto ao nível das editoras, porque houve
uma compra e uma consolidação, mas também ao nível das livrarias, ou
seja, hoje em dia há duas ou três cadeias de livrarias que
vendem o grosso dos livros, não é a impressão que eu tenho?
Pedro Bernardo
São fenómenos diferentes. A primeira concentração foi, aliás, a única, porque nas
livrarias não houve concentração. Pois, não é concentração, é mais crescimento. Já,
houve desenvolvimento. Exatamente. Duas grandes redes, mas na edição, Aí começou a
concentração no setor editorial e começou a final de 2007 e depois
em 2008 com a Leia, que eu julgo que é o grupo
Leia, a começar a comprar uma série de editoras. Na altura começou
por comprar, se a memória não me falha, umas editoras que pertenciam
a um fundo de investimento, o Explorer, que tinha, julgo que era,
Casa das Letras, Oficina do Livro e mais uma coisa ou outra.
E depois foi, paulatinamente, foi comprando mais, mais, mais, mais e criou
o Gruplay. Comprou a Asa, comprou a Don Quixote, comprou a Pergaminho,
comprou a Caminho, enfim. Há de estar a falhar aqui alguma coisa,
mas comprou bastantes coisas. Passado algum tempo, houve ali um fenómeno, não
tão intenso, mas a própria Porta Editora também adquiriu o grupo Bertrand.
Portanto, circulatores, temas e debates, Quetzal, pronto. Hoje são os dois grandes
grupos livreiros. São estes, pois enfim, numa dimensão secundária temos a Almedina,
Equalizações de Tempo, Almedina, Minotauro, o atual e depois, enfim, temos a
presença, marcadoras, Jacarandá e depois, enfim, pequenas editoras. Tinta da China, por
exemplo. Já está num patamar abaixo. Portanto, temos defaturação, temos o grupo
2020, que é um caso, é um case study curioso porque em
10 anos conseguiu consolidar-se como um dos maiores grupos. Começou como Booksmile,
de livros infantis, foi crescendo, crescendo, crescendo e em 10 anos parte
do capital foi adquirido pela Penguin e pronto. É um caso interessante
porque em 10 anos fez em 10 anos o que muitos demoram
às vezes 20, 20 e 25. Pronto, foi uma estratégia pensada e
conseguiu os seus objetivos. Na parte do recalho livreiro, o que nós
temos é hoje dois grandes grupos, que é a FNAC e as
Livrarias Bertrand. E depois as superfícies comerciais, o Continente nomeadamente, que também
vende livros. Pronto, eu geralmente esqueço-me sempre dele. Mas é por conceito
teu. Porque nós não formos sempre, por razão, aliás, várias. De facto,
é um...
Pedro Bernardo
é? Sim, sim, não colocássemos lá os livros. Mas para muitos colegas
nossos é um canal importante e, portanto, a não subestimar. Mas em
termos de redes livreiras temos estas duas. Pois temos a Almdina, temos
uma rede ali de 10 ou 11 livrarias. A Uc, uma loja
online que funciona... Mas que é do grupo da Porta Editora também,
não é verdade? Mas pertence precisamente, exatamente, à Porta Editora. E depois
temos, enfim, aquilo a que se chamam os pequenos livreiros, enfim, não
gosto muito do nome, mas é o que é. Ou há quem
preferir a designação mais pomposa, livreiros e independentes. E estes últimos, a
verdade é que têm vindo a perder peso e têm vindo a
perder consistentemente ao longo dos anos, por razões diversas. Eu há uns
anos vi uma análise que tinha sido feita por um diretor comercial
de uma editora que era os 10 maiores clientes, por exemplo, em
1985 e 10 maiores clientes 20 anos depois. Não havia um nome
que se repetisse.
Pedro Bernardo
é que tu achas disto? Quanto à concentração editorial, enfim, eu sendo
um adepto do mercado livre, quer dizer, alguém comprou porque alguém quis
vender. Para mim é simples.
Não, essa parte, enfim,
eu dacordo. Quem vendeu, vendeu, presumo que vendeu bem. Em alguns casos
ficou a trabalhar, enfim, com um salário que se calhar até era
superior àquilo que tinha enquanto era dono da própria editora. Portanto, isso
aí é uma consequência normal de um mercado muito polvorizado que está
sujeito a uma espécie de takeover, hostil,
a menos
hostil, mas neste caso não houve nada de hostil. Portanto, alguém fez
uma proposta e alguém quis vender. Tem depois outras consequências para o
universo editorial, que poderemos falar mais à frente, mas isso não me
choca, porque há uma corrente de pensamento que diz, ah, não, mas
esta concentração tem uma política de terra queimada, arrasou com o universo
editorial. Não acredito em nada disso. A realidade desmente, aliás, porque a
consideração começou em 2007. De 2007 para cá já apareceram dezenas de
novos projetos de editoras. Umas vingaram, outras não vingaram. É prova que
aquilo não é impedimento de nada e eles vieram preencher se calhar
lacunas que esses grupos acharam porque se concentraram em determinados títulos, permitiram
outras oportunidades, portanto, é uma... Para mim encaro isso como um processo.
Pedro Bernardo
Ah, nós? Nós somos um caso, nós somos um caso e vivente,
quer dizer, vamos fazer sete anos, quer dizer, mas eu lia no
outro dia, estão a fazer Guerra e Paz, se a memória não
me falha, está a fazer 15 anos. E ele disse, na altura
em que nós surgimos, surgiram mais ou menos quantos editoras. Desapareceram todas.
Mas, entretanto, surgiu a Tinta da China, surgiram livros de bordo de
pequenos editores, uma série de coisas, surgiu a Ehab, que já desapareceu,
surgiu a Bazarov, enfim, que não sei se ainda continua, mas é
o reflexo normal. Aliás,
Pedro Bernardo
e bancadas de editoras. Algumas meias rebuscadas, meias obscuras. Algumas têm objetivos,
enfim, são editoras comerciais no sentido nobre do termo, querem fazer dinheiro,
querem ganhar dinheiro, mas há projetos de pura carulice, com identidade editorial,
gente que gasta, põe o seu dinheiro para publicar e, portanto, não
acredito, acho que isso é uma coisa com algum viés ideológico, enfim,
o meu também terá o seu viés, mas no outro dependedor. Mas
acho que a realidade desmente essa afirmação. Na parte da concentração das
redes livreiras, aí, enfim, a coisa fia mais fino porque aquilo na
prática é um duopólio, em alguns casos. E sendo um duopólio, põem
condições daracunianas. Para as editoras. Para as editoras. O grande problema deste
duopólio chama-se desconto comercial. Qual é o desconto comercial que me pedem
e qual é aquele que eu posso dar? Eu costumo dizer, quando
nós fomos apresentar os nossos projetos à Bertrand, à FNAC, ao Corte
Inglês, quer dizer, nós não fomos lá discutir condições comerciais, nós fomos
lá aceitar aquilo que nos propuseram. Portanto, aceitamos ou não aceitamos, é
tão simples quanto isso. Agora, não há margem de negociação e, portanto,
aí é que, quanto a mim, está parte de algum problema, porque
aquilo, em alguns casos, pede um desconto comercial grande, pesado. Isso vai
condicionar todo o negócio. Uhum.
José Maria Pimentel
E há um desequilíbrio de poder de mercado entre uma editora muito
pequena e esse distribuidor, não é, esse retalhista que tem um peso
maior. E será que isso também ajuda a explicar uma coisa que
eu ouço frequentemente das pessoas queixar-se, o facto dos livros em Portugal
serem muito caros. Ainda recentemente estava a almoçar com um amigo brasileiro
que veio cá e ele estava-se a queixar que os livros cá
custavam, ele dizia, enfim, se calhar estava a exagerar, mas ele dizia
acerca do dobro do Brasil. É evidente que tem que ser ajustado
também para o custo de vida, não é? Mas não é o
dobro, não é? Dificilmente será. Não, o dobro não é. Os
Pedro Bernardo
livros são caros, quer dizer, são caros porque não podem ser baratos.
Enfim, passo esta coisa óbvia. Mais uma vez, é uma questão de
escala, porque importando os custos todos, tradução, revisão, capa, logística, custo de
estrutura, se eu não consigo diluir os custos numa tiragem grande, o
preço é função da tiragem e dos custos. Portanto, se eu conseguir
fazer uma tiragem grande, consigo diluir os custos. Agora, eu só faço
uma tiragem grande se tiver uma expectativa de venda, porque senão estou
a produzir para o armazém.
José Maria Pimentel
Sim, então, Pedro, deixa-me ser um bocadinho advogado do diabo. Imagina, se
eu for a Inglaterra ou Estados Unidos. Inglaterra é melhor porque Estados
Unidos é tão grande que não é um bom contra-exemplo, mas se
eu for ao Reino Unido, ou a Alemanha, ou outro país europeu,
e pesquisar um livro de um autor meio refundido de ficção, que
escreve um nicho, e portanto, por definição aquilo não pode ser uma
tiragem grande, vou encontrar esse livro mais caro do que os outros,
por exemplo? Não muito. Admito que possa haver uma subsidiação cruzada ali,
é possível, ou seja, que aquele esteja a ser subsidiado por outros,
não
Pedro Bernardo
compenso com outros, pode dar-se o caso. Agora a questão aqui é
que mesmo uma tiragem pequena na Alemanha ou na Inglaterra a Inglaterra
põe livros no mundo inteiro, literalmente. Tudo o que é aeroporto, é
um mercado planetário. Na Alemanha são 80 milhões, com hábitos de leitura
culturais enraizados. A própria Espanha, a população é maior, há mais editoras,
mas há ali mais mercado potencial. O mercado português, o país é
pequeno e aquilo que nós vimos, que a metade dos inquiridos não
compraram um Eclipse, a expressão aqui é que são mesmo 7 quemes
ou outros a disputar um público reduzido com poder de compra, que
é outra coisa que também convém ter em conta. O nosso poder
de compra é o que é, não há como fugir disto. Portanto,
público reduzido, poder de compra escasso, muita oferta. As pessoas gostavam de
comprar três lismas, mas se calhar compram só dois. E, portanto, vão
muito ou querem aquilo, querem aquele especificamente e aquele nem têm, mas,
portanto, isso geralmente é uma função custo, custo e tiragem.
José Maria Pimentel
Nós não conseguimos diluir. Sim. Ouvindo-te falar, estou a pensar que, algo
que não tinha pensado antes, que para uma editora um best-seller tem
um duplo benefício, porque não só tu aumentas os resultados de maneira
paralela, porque estás a vender mais e, portanto, se tiveste um lucro
de 1, vais ter 1 vez o número que vendes, mas a
tua margem também vai aumentando, porque vais diluindo os custos e, portanto,
a tua margem unitária vai aumentando
Pedro Bernardo
quando tu vendes mais. O que torna, enfim, duplamente interessante vender mais
livros, digamos assim. Nós conseguimos diluir o custo porque a impressão gráfica,
quanto mais livros eu fizer, mais o custo unitário baixa. Enfim, esta
progressão não é até o infinito, senão seria zero. Claro, claro, claro.
Mas o custo unitário vai baixando conforme aumenta a tiragem. Tem um
bocadinho de custos fixos. Exatamente. O custo, como se fosse dizer, o
custo é ligar a máquina. A partir do momento em que ela
está ligada, se estiver a trabalhar dois dias seguidos, não há problema
nenhum. Portanto, está a imprimir dois dias seguidos. Agora, para isso é
preciso imprimir muito livro. Mas é, portanto, quanto mais livros eu vender,
então se eu conseguir fazer uma reimpressão, a reimpressão já não tem
uma série de custos que foram importados todos à primeira tiragem. Nomeadamente
capa, tradução, revisão, tudo isso é importado na primeira tiragem. A segunda,
a reimpressão, é assim sim, tem uma margem substancialmente. Agora, a questão
é conseguir reimprimir o livro. Eu lembro-me de um caso há uns
anos, de um editor francês, um pequeno editor, que teve a fortuna
de ter escolhido, antes de ser prémio Nobel, um chinês, Mo Yuan,
ganhou um prémio Nobel e depois foram falar com o editor francês,
todo contente, até o que é que isso significa, nunca mais esqueci
da frase dele, é o fim das dívidas. Porque aquela explosão de
vendas do prémio Nobel permitiu-lhe angariar uma série de facturar e ter
margem, etc, para resolver um... Mas nunca mais esqueci da frase dele,
foi o fim das dívidas. Sim, curioso. E em Portugal sente-se esse
efeito também? Efeito
Pedro Bernardo
nicho, não é? É, mas sente, sente. Porque apesar de tudo, enfim,
as pessoas... Tem notoriedade. Exatamente. Tem um capital de notoriedade, um capital
simbólico, que tem uma consequência prática. E eu já falei, tem colegas
que receberam, tiveram a sorte, enfim, eles também escolheram antes de ser
Nobel, portanto, tiveram mérito nisso, mas me dizerem que aquilo faz logo
duas, três, quatro reimpressões. Portanto, há casos de Nobels que tinham uma
tiragem e aquilo andava ali aos caídos no armazém, mas de repente,
pronto. Vem dar uma segunda vida ao livro e que vida, portanto,
não é uma vida normal, é uma vida plena.
José Maria Pimentel
Olha, eu lancei no... Pude um tweet para as pessoas fazerem sugestões
de perguntas e houve várias, eu ainda não falei de nenhuma, mas
vou falar agora de uma da Ana Martins. Isto é só para
incentivar as pessoas a fazerem mais perguntas para a próxima vez, eu
já mais ou menos depreendo a tua resposta, não é? A pergunta
dela tinha que ver com que papel é que o Estado pode
ter nesta atividade, não é? Se subentende-se que tu consideras que o
Estado pode ter um papel em, pelo menos, minurar esse efeito duopólio
do lado das livrarias, do lado das editoras, conceptualmente até se entende
que há um valor social, se nós quisermos, mais amplo, que editoras
focadas exclusivamente a capturar valor económico não vão criar. Eu compreendo isso,
mas o teu argumento, pelo que eu entendo, é que na prática
não é necessário haver quase um patrocínio estatal, porque há suficientes pessoas
que, ou pela carulice, ou pelo gosto, acabam por ir fundando editores
e, portanto, no fundo não nos falta essa diversidade. Podia faltar em
teoria, mas na prática não falta. Ou seja, não falta quem peguem
autores diferentes. Diferentes.
Pedro Bernardo
Por parte, eu, enfim, por uma cidade ideológica, sou-me cada vez, determinado
tipo de intervenção estatal. O Estado, quanto a mim, o papel que
deve ter, e não que já o tem, é nas escolas. Portanto,
acho que devia começar por aí. Já tomou uma decisão em tempos
que nunca foi revertida e que tem um impacto significativo. Ou melhor,
se ela fosse alterada, teria um impacto draconiano que é a acção
do IVA. O LIVRE tem o IVA a 6%. Eu também não
acho que ele deva estar isente de IVA. Eu não acredito nisso.
Por outro lado, o STAT é uma editora, chama-se Imprensa Nacional Casa
da Moeda, que quanto a mim, enfim, tem o papel a desempenhar,
mas tem no feito de uma forma um bocado esquizofrénica, porque eu
vejo lá coisas que não fazem sentido numa editora como a Imprensa
Nacional Casa da Moeda e sei de uma série de projetos que
deviam estar a fazer e não fazem. Pronto. Em alguns casos fazem
concorrência a editoras comerciais. Há lá títulos e autores publicados, poderiam estar,
e em alguns casos o mesmo autor está publicado noutras editoras. Portanto,
Eu não percebo porque razão é que foram publicados pela Imprensa Nacional.
Pedro Bernardo
uma série de coisas que falta fazer na edição portuguesa que deviam
ser feitas pela Imprensa Nacional Casa da Moeda, por exemplo. Não há
uma edição crítica, por exemplo, das obras completas do Camilo. As obras
completas de Aristóteles demoraram anos a ser feitas e começaram a ser
feitas pelo Departamento de Filosofia da Focal de Letras do Lisboa. Havia
ali uma série de coisas a fazer, que nunca foram fazendo, mas
para mim o Estado já está mais ou menos, ou já sabe
o que é que deve fazer. Eu acho que devia fazê-lo melhor.
A questão do IVA para as editoras é importante. E, por exemplo,
se ele passasse para 13 ou para 23, ia ser uma chatice.
Mas o Estado financia muito a produção académica. Mas muito, muito dinheiro.
Através da FCT, as bolsas da FCT dão todos os anos origem
a muitos, muitos livros e estamos a falar de centenas de milhares
de euros em não sei quantos projetos. Portanto, o Estado também, depois
se o projeto é meritório ou não, enfim, isso é, são contas
para outro Rosário. Mas através da FCT, por exemplo, e enfim, e
verdade, cumpre dizer que no primeiro ano da pandemia, para a editora
de abaixo de um determinado volume de faturação, o Estado comprou diretamente
X mil euros de livros, para depois distribuir para bibliotecas, mas isso
foi uma situação excepcional, de emergência. Portanto, eu acho que o Estado
sabe o que é que deve fazer, acho que, em alguns casos,
está a fazê-lo
José Maria Pimentel
mal. Olha, e um tema que não tem nada a ver com
isto, mas que não cobrimos à bocada. Eu tenho a sensação de
que há uma maior dificuldade de integração do mundo lusófono, nomeadamente do
ponto de vista de Portugal, de co-Brasil, obviamente também incluíremos aqui Angola,
Moçambique, Cabo Verde, do que existe claramente no mundo anglo-saxónico, aí não
há dúvida nenhuma, mas também até exerce sentido no mundo hispânico. Eu
Ainda no outro dia estava a falar com o Diogo Novo, que
falavas há bocadinho, e ele falava de como os jornais espanhóis, e
isto há-vo erro, têm até uma edição na América Latina, autores espanhóis
são editados na América Latina e vice-versa, sem necessidade de alteração da
escrita. Os portugueses, eu sei que muitas vezes também são dessa forma,
mas isso é visto muitas vezes como dificultando as vendas. E a
verdade é que já ao longo das décadas já houve vários projetos
de tentar unir, criar pontos, nomeadamente entre Portugal e o Brasil, que
me parece sempre terem sido difíceis, ter sido pouco execuíveis. Qual é
a tua visão sobre isto? Ou seja,
Pedro Bernardo
primeiro concordas com esta minha visão, que posso descrutar, e achas que
há potencial aqui? Quais é que são os desafios? No caso dos
palópolos, vamos separar o Brasil dos países africanos. No caso dos países
africanos, há ali, quanto a mim, dois ou três obstáculos. Enfim, por
exemplo, as editoras do livro escolar têm filiais, chamemos-lhe assim, em Angola
e Moçambique. Tem lá pequenas editoras para produzir o livro escolar, enfim,
tem lá algum enraizamento. Fora isso, o que havia e há são
alguns importadores que levam para lá. Agora, estamos a falar de mercados
muito pouco evoluídos. Nalguns casos, sim, livrarias, quer dizer, um poder de
compra muito fragmentado. E depois, contrariamente, por exemplo, ao universo hispânico, em
que os processos independentistas foram todos, enfim, ao par no século XIX,
portanto já há ali relações de séculos consolidadas, enfim, nem foram processos
tão antagónicos. O nosso ainda está ali recente e, portanto, há sempre
ali alguma resistência. Mas
Pedro Bernardo
Foi, só que o Brasil tinha os problemas e o internacional tornou-se
um mercado muito, muito protecionista. Portanto, resiste muito à importação. É isso,
é essencialmente um mercado muito protecionista. Tudo demora muito tempo para desalfandegar,
etc. Eu sei que a Leia, por exemplo, teve lá um projeto
que aquilo acabou para não vingar. Sei que a Tinta da China
tentou construir lá uma espécie de Tinta da China Brasil, mas não
sei em que modo é que aquilo se tem vindo a desenvolver.
Não tenho vindo grandes notícias sobre aquilo, portanto, permitiu também fazer uma
ponte e trazer autores brasileiros para Portugal, mas o inverso não resulta.
Temos a questão da língua. Podem criar o acordo de ortográfico e
quiserem, mas implementado uma coisa que nasce torta, nunca mais sem direito.
E, portanto, há o problema da língua. Em alguns casos era preciso
adaptar os textos. Tudo isto são pequenas pedras na engrenagem. Em África,
bem, são mercados pouco desenvolvidos. Não têm poder de compra, sem rede
livreira. O que há são operações, precisamente em parceria e acredito com
os governos, para produzir o livro escolar. Foi alguém que veio buscar
editoras a Portugal com o know-how para fazer
José Maria Pimentel
aquilo. Sim, claro, mas esse é mais top-down, digamos assim, não é?
Sim. Pedro, terminamos com a tua recomendação de livro, mas antes disso
até te queria perguntar uma coisa que não tínhamos combinado, mas me
lembrei ao ouvir-te falar. Não sei se queres deixar alguns bons exemplos,
digamos assim, queres salientar alguns bons exemplos, seja ao nível das editoras,
seja ao nível das livrarias, seja ao nível de autores que te
pareça que faz sentido referir. De editoras, enfim... Para além da EPM-4.
Não, não,
Pedro Bernardo
é assim, não sou suspeito. Sou suspeito em causa própria. Sou um
grande apreciador do projeto da Antígona. Gosto do catálogo, apesar da piada
de ser assim um catálogo, coisas contra a corrente, enfim, com, em
alguns casos, com algum alinhamento ideológico, mas é o que é, quer
dizer, não... É uma coisa assumida, só compra quem quiser, mas são
livros bem feitos, catálogo bem escolhido, bem feitos no sentido de bem
traduzidos, bem revistos, bem paginados, É um projeto de que sou um
grande adepto. E gosto também bastante da tinta de tinta de China,
do design, da abrangência.
Tornaram-se,
enfim, é uma editora mais ou menos generalista, o que para mim
não é apreciativo, mas, mais uma vez, coisas bem feitas, livros bem
paginados, bem traduzidos, há um bom design, portanto, Bom Martin são dois
exemplos, para mim, muito interessantes. Enfim, termos livrarias, continua a haver pequenos
livrais ou livrais independentes, como lhe queiramos chamar, a fazer um bom
trabalho. Livrarias bonitas, bem, venho-me agora à memória à centésima página em
Braga, uma livraria muito bonita, em que percebeu qual é o seu
público, o que é que deve lá ter, porque em muitos casos
as pequenas livrarias foram arrastadas naquela coisa, temos de ter tudo, porque
na pequena livraria não pode ter tudo E, portanto, tem de criar
o seu público, tem de saber o que é que o seu
universo quer e ter uma oferta adequada ao seu público. Quando cai
na tentação de querer ter o que os outros têm, a coisa
não vai correr bem porque os outros têm armas diferentes, quer dizer,
de calibre maior. Bom ponto, sim. Não é possível. Portanto, devem criar
o seu nicho e trabalhar, por exemplo, no Porto há uma coisa
chamada Poetria. Poetria? Livros de poesia. Pronto. Tem o seu catálogo. Atividade
Pedro Bernardo
Mas pronto, lá está. Alguém percebeu o seu nicho e, portanto, temos
livros de poesia, com atividades culturais, leituras, récites, fonte de letras em
Évora, coisa bonita. Mais uma vez, percebe quem é o seu público,
trabalha para o seu público, cria, faz sugestões, consegue ter um trabalho
de acompanhamento que, por exemplo, as grandes livrarias não têm, porque ou
está ali pessoal pouco qualificado ou, nunca mais me esqueço, numa livraria
que tinha... E o lema era de especialistas para especialistas. E estava
lá um autor, um cliente, e chamou o livreiro, fez-lhe uma pergunta
e o livreiro disse, olha, não sei. O cliente não sabe e
apontou para o lema. E o livreiro virou-se para ele, por ordenado
mínimo. Especialistas por ordenado mínimo. Enfim, não deve dizer isso, mas as
coisas são o que são. A gente não pode crer no wow
e competência e depois pagar. A verdade é que o livreiro, a
antiga chamemos-lhe assim, com o domínio do catálogo, aquilo que vendia, com
sugestões aos seus clientes, a tendência é para ir desaparecendo. Ele permanece
onde? Precisamente nas pequenas livrarias, conhece o seu público, o que é
que vai chegando e isso e aquilo. Mas fizeram uma seleção. Não
caíram na tentação de ter tudo o que os outros têm.
Pedro Bernardo
Em certo sentido, sim. E autores? Não sei se queres... Tenho memória
grata de um autor que ainda publiquei na edição 70, ele faleceu
há coisa dois anos, que foi o Robert Fiske. O Robert Fiske
era... Ele foi correspondente do Times e esteve em Portugal depois da
Revolução, em 75, e depois foi colocado em Beirute, logo em 75
ou 76, e portanto esteve lá até morrer. Cobriu as guerras na
Argélia, no Afeganistão, portanto tudo o que é guerra no Médio Oriente,
e escreveu um livro publicado na edição 70 que se chama A
Grande Guerra pela Civilização, em que ele descreve todos os conflitos do
mundo árabe. As origens, as consequências, a evolução, que é um livro,
são 1200 páginas, mas é um portento, é um livro muito, muito
bom e na altura da apresentação nós conseguimos trazê-lo cá e portanto
não me esqueça ele veio na altura veio do Tajikistão. Com a
escala Istambul, Robert Fiske era uma joia de pessoa simpaticíssima com uma
cultura geral enormíssima mas simpaticíssima e portanto andámos a fazer aí o
press tour com televisão, rádio, jornal, depois íamos almoçar assim nos bons
restaurantes, pá, aê lapeteador, peixe fresco, pá, adorava aquilo. À noite ia
levá-lo ao hotel, ficámos lá a conversa no bar, portanto tenho uma
memória grata do Robert Fiss, fiquei com muita pena quando soube a
notícia, mas enfim, assim, dos autores que conheci nestes anos de profissão,
foi daqueles com quem mais gostei de trabalhar. Curioso. Olha, e o
livro final? A tua recomendação de livro? O livro final é uma
coisa de um editor norte-americano falecido já há uns anos, do André
Schifrin, O Negócio dos Livros. Como os grandes grupos económicos decidem o
que lemos. O André Schifrin, ele era o editor e fundador de
um editor norte-americano chamado Pantheon e assistiu em primeira mão porque foi
ali que ele começou precisamente ao fenómeno da concentração editorial. E o
que ele descreve no livro, o livro está publicado pela edição portuguesa
da Letra Livre, e o que ele descreve no livro é precisamente
essa concentração e de como é que essa concentração editorial, por imposição
da gestão, de forma direta ou indireta, vai condicionando aquilo que se
publica. E aquilo que se publica passam a ser coisas sem risco,
que obedeçam determinados critérios de rentabilidade, calculados de forma prévia na célebre
folha de Excel, enfim, que todo editor que trabalha num grupo editorial
já conhece, e de que forma é que isso vai afunilando o
critério porque o editor, mesmo que leve um projeto editorial com risco,
Esse projeto é chumbado em reunião e isso acaba, de facto, por
condicionar o aspecto positivo disto em termos do ecossistema editorial. É que
se alguém deixa de fazer aquelas apostas ricas nos grandes grupos, passam
a aparecer pequenas editoras que apostam e, portanto, aquilo, enfim... A infelicidade
de uns é a sorte de outros e vice-versa. Portanto, fecha-se ali
uma oportunidade, mas ela abre para o outro editor. É um livro
muito interessante em que ele explica como é que isto evoluiu e,
de facto, começou ali a tendência e depois foi repercutindo por vários
países da Europa, em Portugal como disse, começou ali em 2007.