#127 Fernando Soares e Ricardo Marvão - Academia «Próxima Geração»
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José Maria Pimentel
Olá, bem-vindos ao 45 Graus. O meu nome é José Maria Pimentel.
E há o último episódio desta temporada, um episódio mais curto que
o normal, para fazer uma transição suave para as férias. Minhas e
espero também vossas. O tema do episódio é o projeto Próxima Geração,
uma academia partidária que quer ensinar os jovens a fazer política. Os
convidados são dois dos fundadores desta academia. Um deles provavelmente é-vos familiar
porque já foi convidado o episódio 47 em que conversamos sobre empreendedorismo
e inovação. O convidado é Ricardo Marvão, que tem uma carreira longa
ligada a estas áreas, é por exemplo fundador da Beta-I, uma associação
para o empreendedorismo e a inovação, e nos últimos anos tem estado
cada vez mais ligado a projetos na área da educação e da
formação de competências, como por exemplo a Singularity University, uma comunidade global
ligada à tecnologia, criada em Silicon Valley em 2008 e que chegou
a Portugal numa parceria entre a nova SBE e a Câmara de
Cascais. Outro fundador desta academia próxima geração é Fernando Soares, que é
economista, é atualmente gestor de investimentos na Alpac Capital, uma sociedade capital
de risco, antes disso passou pelo ensino superior, tendo liderado a direção
de desenvolvimento da Universidade Nova de Lisboa e co-liderado uma grande campanha
de agregação de fundos que tornou possível a construção do novo campus
da nova SBE. O convidado integra ainda o Grupo de Reflexão para
o Futuro de Portugal, uma iniciativa da Presidência da República. Este projeto
Próxima Geração está integrado na Apolitical Academy, uma academia política global, como
o nome indica, a partidária e que está hoje presente já em
vários países do mundo. A versão portuguesa, chamada então Próxima Geração, foi
lançada este ano e a primeira edição, o primeiro curso, acabou precisamente
no fim de semana passado. O objetivo desta iniciativa, Próxima Geração, é
melhorar a qualidade da democracia e da sociedade civil em Portugal, focando
sobretudo em capacitar os jovens, ou seja, aqueles que terão uma participação
cívica e política que vai definir o futuro do país. Esta academia
é como que um curso intensivo em que os jovens selecionados são
expostos durante 12 semanas a aulas, debates e ainda projetos concretos que
lhes permitem ganhar cultura política, competências e perceber o papel que querem
ter no futuro do país enquanto cidadãos. Como o Ricardo explica logo
no início da conversa, a ideia de implementar este projeto em Portugal
surgiu depois de ver o documentário Knockdown the House, que é possível
ver no Netflix e que nos mostra como alguns movimentos de base
conseguiram trazer para a política pessoas que, até aí, não teriam a
mínima hipótese, como é o caso da congressista que, entretanto, se tornou
bastante conhecida, Alexandria Ocasio-Cortez. Vi, entretanto, o documentário e vale bem a
pena. Quando pela primeira vez soube desta academia próxima geração, achei-a particularmente
interessante por dois motivos. O primeiro é que permite resolver, ou pelo
menos mitigar, simultaneamente algumas tendências conjunturais que são transversais às democracias, como
a polarização ou o afastamento crescente dos cidadãos da política, mas também
algumas lacunas históricas, estruturais, que são específicas da sociedade portuguesa, como por
exemplo a falta de cultura de participação cívica e política. Como dizia
o antigo presidente Ramalhianes, e cito, o 25 de abril trouxe a
liberdade e a democracia, mas que é seu sequer é preciso também
criar cidadãos. Aqui obviamente há alguma caricatura, mas todos nós reconhecemos e
os estudos comprovam que falta ainda em Portugal uma participação cívica e
política que possa tornar a democracia mais funcional. O segundo motivo por
que achei este projeto tão interessante é que tem um aspecto distintivo
de outras iniciativas do género que apesar de tudo tem havido nos
últimos anos e que é resultado direto da experiência profissional dos fundadores,
o Ricardo, o Fernando e outros. É que esta próxima geração foca-se
não só em transmitir conhecimento e divulgar ideias, mas também em desenvolver
nos participantes competências práticas, concretas, e a verdade é que essas competências,
ou a falta delas, é muitas vezes a maior barreira que existe
para se conseguindo implementar aquilo em que se acredita, seja na política
ou numa participação cívica mais lata. O Ricardo e o Fernando dão
assim um twist progressista à conhecida ideia do velho do Restelo de
Camões do saber de experiência feita. Nesta academia, durante estas 12 semanas,
os jovens passam a seguir por uma série de desafios práticos, seja
fazer a engajação de fundos, criar decretos de lei e aprender a
negociá-los, ou mesmo fazer campanhas porta a porta que lhes permitem desenvolver
estas competências que são essenciais na cidadania e na política. Este episódio
é assim uma boa maneira para terminar a temporada, porque oferece mais
uma reflexão muito interessante em relação a uma série de temas que
tenho desenvolvido, quer aqui no podcast, quer no livro, muito relevantes para
as democracias atuais, como o populismo, a polarização ou o efeito que
as redes sociais têm tido na política. Espero que hajam esta iniciativa
tão interessante quanto eu. Como disse, a primeira edição acaba de terminar,
em breve vai ser possível candidatarem-se à segunda, vejam o site e
sigam o projeto nas redes sociais e divulguem-no entre quem tenha interesse
e, se puderem acharem bem, apoiem-no também para que possa ganhar escala
e continuar a capacitar jovens para serem agentes políticos do futuro. Antes
de passarmos ao episódio, muito obrigado aos novos Mecenas do 45°, Hélder
Miranda, Tomás Fragoso e ainda Miguel Ferreira e David Teixeira Alves. Como
disse, voltamos em setembro com episódios e temas novos. Vão poder ouvir,
por exemplo, a neurobióloga Luísa Lopes, do Instituto de Medicina Molecular, a
falar sobre envelhecimento cognitivo e como contrariá-lo, Edalina Sanche, cientista política, a
falar sobre política africana, Pedro Bernardo, editor a falar sobre livros e
o mercado editorial e ainda Maria Manuel Mota, bióloga e diretora do
Instituto de Medicina Molecular, a falar sobre a sua investigação e sobre
os desafios de fazer ciência. Continuem desse lado, boas férias e deixo-vos
então com Ricardo Marvão e Fernando Soares.
Fernando Soares e Ricardo Marvão
ouvir, expliquem lá o que é e de onde é que vos
veio esta ideia. Ok, então a ideia começa em 2019. Surgiu um
documentário no início de 2019, acho que foi em janeiro, chamado Knock
Down the House. E basicamente aquilo era um grupo de jovens que
pertencia à campanha do Bernie Sanders e que depois quando o Bernie
Sanders acaba por sair da campanha presidencial acabam por decidir montar uma
espécie de um think tank ou de uma associação. A associação chamava-se
Brand New Congress e gostava de trazer jovens, tipo uma alofada de
ar fresco ao Congresso dos Estados Unidos, mas com um movimento muito
grassroots, em que conseguiam trazer pessoas que ou eram recomendadas por seus
familiares, amigos, ou então pessoas que se candidatavam diretamente e que queriam
participar ativamente na política, mas que não percebiam como é que tudo
funcionava, como é que eram os mecanismos, como é que se faz
o fundraising, como é que se faz uma comunicação, uma visão estratégica
de uma campanha. E basicamente essa associação o que fazia é exatamente
isso e eu pensei isto era uma excelente ideia para montar uma
coisa destas em Portugal será que seria possível? E começa assim a
aventura.
Fernando Soares e Ricardo Marvão
Esta ideia foi algo que foi sendo também construída e logo imediatamente
ao Ricardo ter a ideia fomos validar um pouco com as diferentes
forças políticas, as forças vivas um pouco da sociedade e ficou muito
claro que havia um espaço natural no país para aproximar, no fundo,
dois mundos que estão relativamente afastados. Por um lado, talvez a geração
mais qualificada de sempre do país, nós conseguimos sistematizar e democratizar o
acesso à educação, essa geração está muito preparada, entra no mundo corporativo,
empenha-se no mundo social, mas está totalmente afastada do sistema político, digamos
assim, do sistema tradicional que nós temos. E é desse afastamento entre
estes dois mundos que nós acreditamos que existia a oportunidade no caso
concreto português.
José Maria Pimentel
Pois, é exatamente isso que eu vos ia perguntar, porque esta iniciativa
nos Estados Unidos acontece numa realidade concreta americana, não é? E há
um lado disto que tem a ver com o potencial que vocês
identificam naquela iniciativa e que é transversal ou que é transportável para
várias realidades e depois há o diagnóstico sobre onde é que ela
faz a diferença especificamente de acordo com uma realidade. E vocês, no
caso português, quais são as lacunas que vocês identificam? São essas que
tu falavas agora, mas têm também que ver com uma cultura política
que já vem detrás? Por outro lado, tem a ver com desafios
mais conjunturais, como por exemplo o papel das redes sociais e o
aumento da polarização, por exemplo? Há alguns estudos recentes, temos sorte, o
país das duas fundações, que era
Fernando Soares e Ricardo Marvão
a Fundação Francisco Manuel dos Santos e que era a Fundação Globo
Banking, estudaram há muito pouco tempo a realidade dos jovens e nomeadamente
a realidade da participação política dos jovens. E torna-se muito claro que
os jovens Até participam, surpreendentemente temos números bons sobre a participação, mas
a forma de participação é sobretudo através das redes sociais, através das
petições. Participam votando, pelo menos declaram votar, perto de metade dos jovens
que são inquiridos, por exemplo, no estudo da Fundação Francisco Manuel dos
Santos, isto é revelado por estes estudos e de facto mostra uma
mobilização. A questão é que continuamos a ver baixos números na participação
nas candidaturas às juntas de freguesia, nas listas pós-governos, nas eleições europeias,
no conjunto de eleições e mais do que o próprio sistema político,
digamos sistema partidário, também no mundo das associações e da sociedade civil.
E, portanto, é aí que nós acreditamos que existe uma necessidade de
contribuir para desafiar esta geração a uma participação que não se fica
apenas no ativismo digital. Sim. Há um aspecto que eu acho especialmente
interessante na vossa ideia, eu disse-vos
José Maria Pimentel
isto logo quando falámos a primeira vez, porque corresponde a uma mágoa
que eu tenho ao fazer o podcast, a autoescrito livre, enfim, a
intervenção que eu tenho aqui, que é o facto de eu em
certo sentido estar a falar para convertidos. Isto não é bem verdade,
mas há uma espécie de círculos concêntricos, não é? Eu posso, que
chego até certo ponto, não é? Consigo expandir um pouco a rede,
mas há pessoas que eu sei que estão completamente fora porque simplesmente
não se interessam por este tipo de programas e, portanto, precisavam, no
fundo, há ali um gap, há ali uma lacuna que precisa de
ser preenchida. E esta vossa iniciativa é muito interessante nesse aspecto, porque
vocês vão pegar nas pessoas, e vocês, por cima, tentam que os
alunos, digamos assim, os participantes, nesta iniciativa sejam o mais diversificados possível,
vocês vão pegar neles e incutir essa cultura política. E isso é
importante porque iniciativas do género da minha, não é, acabamos sempre muito
endogâmicas, não é? Tu estás a falar para dentro, para as pessoas
que já partilham do, pelo menos
Fernando Soares e Ricardo Marvão
de parte das tuas, dos teus pressupostos e de uma certa vontade
de participar. Sim, nós não sabíamos ao início o que é que
íamos receber. Falámos com imensa gente, tivemos um ano a preparar isto,
só para teres ideia, toda a gente trabalha, somos nove founders e
o que nós fazíamos era, fazíamos uma reunião à terça-feira às 8
da manhã, das 8 às 9, todas as semanas durante um ano
e foi assim que se construiu o programa, a estrutura, Depois tínhamos
um núcleo um bocadinho mais pequeno que trabalhava muito todas as semanas
os vários detalhes, mas nós não sabíamos o que é que ia
acontecer. Acreditávamos imenso no projeto. Todas as pessoas com quem a gente
falava diziam-nos que isto é extraordinário. Tivemos até algumas pessoas na política
que até diziam eu só tive pena de não ter tido essa
ideia. E portanto, assim que lançámos, nós tivemos cerca de 600 candidaturas
no início e sentimos que recebemos pessoas, só para teres ideia, nós
temos pessoas dos 16 aos 30 anos, de todo o país, inclusive
a Ilhas, e nós queríamos ter o mais diverso possível e, portanto,
diferentes meios sociais, económicos, diferentes regiões, grandes centros urbanos e pequenas vilas
e foi isso também que fizemos também na seleção dos candidatos. Claro,
queríamos os melhores candidatos, mas também queríamos uma boa seleção de candidatos.
E realmente este programa tem trazido isso. Eu acho que, claro que
ainda temos de trabalhar, acho que podemos aumentar a diversidade. Numa segunda
edição acho que vamos trabalhar muito mais. Nós também não tivemos a
oportunidade para ir a todos os grupos que nos pudessem ajudar a
encontrar essa diversidade total, mas estamos a trabalhar nisso, falamos com imensa
gente e acho que a segunda edição vai ser muito melhor. E
a diversidade, como é que vocês tentam promover essa diversidade?
José Maria Pimentel
era isso que eu ia dizer, mas esse ponto é importante. O
que eu ia dizer é que a vossa... A maneira como vocês
encaram a política, o que faz sentido, é num sentido mais lato,
não simplesmente da participação política partidária, mas de uma participação cívica. Ou
seja, vocês querem que estes jovens sejam cidadãos interventivos, independentemente de eles
estarem a intervir num partido ou estarem a intervir numa associação local.
Certo, é isso mesmo. Ou numa coisa qualquer desse tipo, não é?
Portanto, não é estritamente da política partidária, mas ainda assim vocês tentam
ter, ou é o vosso objetivo, ter essa diversidade ideológica. E isso
criou-me logo uma dúvida de como é que vocês fazem isso, não
é? Porque têm que perguntar, vocês perguntam às pessoas, perguntam aos miúdos
o
Fernando Soares e Ricardo Marvão
isto Não é só o caso português, isto é global. Esta academia
é criada também no contexto da Political Academy Internacional e este movimento
está a surgir num conjunto de vários países. Neste caso, a Political
Academy começou na Suécia, está presente na África do Sul, está a
desenvolver-se para mais de 10 países neste momento. Há um caso de
sucesso de um movimento muito semelhante a este que é o Renova
Brasil, com milhares de participantes formados nesta ideia da participação cívica, de
jovens desafiados a ser mais ativos civicamente e, portanto, esse contexto existe
na realidade global. Naturalmente, diferentes países, digamos assim, a única premissa que
é restrição, e tu falavas no fundo de um contexto político lá,
a única restrição que nós temos é um, digamos, um pró-democracia, portanto
estamos a falar maioritariamente nos países mais ocidentais, de uma cultura mais
ocidental, e a segunda restrição é a exclusão de movimentos totalmente extremistas,
ou seja, nós apelamos a um... Exatamente à diversidade que tu falavas,
mas a uma diversidade que leva a uma governabilidade, a uma solução
de compromisso, a uma solução executiva. E, portanto, para tornar isto possível,
respondendo também objetivamente aqui à tua questão, o que nós fazemos é
falarmos com forças vivas da sociedade. Vamos falar com movimentos associativos de
estudantes, falamos com as escolas, naturalmente professores identificam, quer dizer, nós estamos
a falar de candidatos entre os 16 e os 30 anos que
nós procuramos. É muito fácil a um professor perceber onde é que
nasce alguém que tem um potencial para mobilizar uma turma, que é
interessado na sociedade e que pode canalizar esse esforço não só para
as associações de ambiente, para as associações monocausa, também esses estudos que
falámos há pouco revelam que os nossos jovens participam maioritariamente monocausa. O
que nós temos feito é, vamos a essas associações onde já existem
também jovens a participar de alguma forma nessas causas e desafiamos-os a
candidatarem-se, mas a pensarem de forma mais sistémica, a pensarem o sistema
político como um todo. Não ficarem só nessa causa, porque um programa
governativo é um conjunto de causas, é um conjunto de áreas e
não chega ir só por um tema. Por outro lado, vamos tentando
encontrar veículos através das redes sociais que são também, por muito que
sejam desafiantes, são também um bom veículo para chegar a pessoas que
estão ativas e tentamos tirá-los do sofá, tentamos tirá-los de trás do
computador e agora vamos participar e vamos debater, conforme o Ricardo dizia,
vamos pô-los a debater uns com os outros, porque é muito fácil
dar um tiro ideológico numa rede social, mas é muito mais difícil
fazer o cara-a-cara com alguém que defende uma ideia completamente diferente da
nossa. E
se tiver como objetivo chegar a uma solução de consenso para permitir
a governabilidade, é isso que é a democracia, torna muito mais difícil
o debate cara a cara e nós temos de treinar isso. As
nossas escolas não treinam este tipo de skills, não desenvolvem este tipo
de skills e, portanto, nós procuramos fazer esse approach a diferentes movimentos
cívicos, tentamos aproximar-nos das escolas e das fontes de pessoas que tenham
um eu e que pensam os outros, independentemente de ser já numa
filosofia puramente política. Eu não sei se percebe bem, você pergunta aos
professores se, por exemplo,
José Maria Pimentel
Lembra-me de outra pergunta que eu vos queria fazer, que é, em
certo sentido, um dos grandes méritos desta iniciativa é incutir cultura política
neste sentido mais lato em pessoas que não tenham acesso a ela
no seio familiar. Porque aquelas que já têm acesso não é que
não possam beneficiar, porque este lado do debate e da cultura de
compromisso é um lado importante que eu acho que dificilmente existe mesmo
em muitas pessoas que vivem nessa situação ou crescem nessa situação. Mas
a verdade é que se tu viveres numa família, quer dizer, culturalmente
privilegiada, provavelmente tens acesso a essa cultura. Portanto, onde faz mais a
diferença é em miúdos que não venham desse background. Por outro lado,
isso cria-vos a dificuldade de chegar a eles, porque se calhar eles
também não têm acesso a esta informação. Sim,
Fernando Soares e Ricardo Marvão
torna-se muito claro que no nosso país a política é muito hermética.
Todos nós sabemos quem é que entra na política hoje em dia
em Portugal. Entram tipicamente pessoas que estão na família de alguém que
já fez política, Tipicamente passa de pais para filhos, passa de amigos
para amigos, passa de circuitos próximos. Em grande medida a política faz
também de pessoas que estudaram nas grandes universidades e nas universidades de
elite e passa por um conjunto de cursos, o direito, a economia,
a ciência política. Nós queremos quebrar esta barreira E esta barreira é
quebrada não só desafiando, digamos assim, a nova geração a participar, mas
desafiando também o sistema político a ser mais aberto. Os partidos, as
associações, os think tanks, ser mais aberto em termos de gerações que
participam e que estão no ativo, a ser mais aberto em todos
os temas de diversidade que nós falamos, em todas as representações dos
diferentes núcleos da sociedade. Representação racial, representação de diferentes estratos sociais, representação
das diferentes regiões do país E, portanto, nós desafiamos, tentamos desafiar um
pouco os dois lados e não só os jovens na sua participação
ativa. Quer dizer, o mundo ideal seria partidos a recrutarem tal como
as empresas competitivas fazem processos de recrutamento para apanhar o melhor talento,
porque não há um dos partidos políticos a ir em busca dos
melhores talentos para os seus projetos, para as suas refeições, para as
suas decretes de leis, para as suas equipas parlamentares. E, portanto, eu
acho que Nós acreditamos que o desafio deve vir de ambos os
lados e só assim nós podemos almejar, rejuvenescer o sistema político e
democrático.
Fernando Soares e Ricardo Marvão
pequeno. É tipo, se eu injetar 12 estudantes ou 12 jovens na
política, mesmo que seja no formato específico de partidos ou num formato
mais lato, é pequenino. E, portanto, o que nós pensámos foi como
é que a gente consegue acelerar o processo? E o nosso objetivo
é mil jovens até às próximas eleições, daqui a quatro anos. E,
portanto, isso é um objetivo ambicioso. Como é que tu consegues fazer
isto se não for 12 em 12 a cada nove meses, tens
que acelerar o processo. E portanto o que decidimos foi criar um
programa que tem 12 semanas, que neste primeiro piloto tem só 25
alunos, mas o objetivo é fazer crescer esse número e provavelmente vamos
ter que, passado um ano, vamos ter que repensar a forma como
estamos a acelerar porque senão não chegamos aos mil. Mas temos essa
ambição e acreditamos que é possível ela chegar. E portanto, se tu
só consegues isso, se pensares de forma diferente também a forma como
tu trazes os jovens para a política e depois, se tu tiveres
essa quantidade de jovens a entrar na política, aí sim começas a
ver mudanças. Certamente há alguns destes jovens que vão querer ser eleitos
ou vão querer ir a votos. Há muitos que já nos disseram
que querem criar alguma coisa, querem criar uma associação de apoio ao
voto, querem criar uma associação de bairro para apoio aos idosos ou
outra coisa qualquer. E portanto estes jovens, se forem bem escolhidos, e
claro a escolha destes jovens é muito importante, não é? E essa
seleção é muito importante e por isso é que nós passámos quase
um mês a fazer a seleção dos jovens. Nós fizemos um processo,
teve para aí cinco etapas até chegarmos à conclusão e até pô-los
a trabalhar em conjunto para ver. Uma coisa é quando tu fazes
uma entrevista one-on-one, Outra coisa é quando metes os jovens a colaborar
num tema e tu assistes a eles, como é que eles trabalham.
Será que este jovem está completamente a não deixar falar os outros?
Será que este jovem pensa uma ideia e depois insiste, insiste, insiste
e nem sequer ouve os outros? Sim, sim, sim, tipo um martelo,
sim. Mas isso faz parte do
Fernando Soares e Ricardo Marvão
parte do investimento está aí. Está aí e também está no ser
prático, ser rápido a pensar que novas ideias é que podemos introduzir,
ter o feedback em cada sessão que a gente tem com os
jovens e eles dizem-nos, é pá, isto está super interessante, mas cá
devia ser mais desafiador. Então introduzimos, por exemplo, agora este último fim
de semana fizemos um exercício de gestão de crises. Às 5h30 da
manhã toda a gente foi acordada, depois de termos estado até à
1 da manhã a trabalhar, às 5 e meia da manhã toda
a gente é acordada e diz, senhor Presidente da Assembleia, houve agora
um acidente de avião do Presidente da República em Cabo Verde, ainda
não sabemos o que é que está a acontecer, tem aqui o
brief, daqui a 30 minutos há uma conferência de imprensa com os
jornalistas lá em baixo, esperemos possível lá em baixo. E toda a
gente tem que se levantar e tivemos vários casos, tivemos decorrer um
incêndio na Serra da Gardunha à ministra da Administração Interna e portanto
ela tinha que descer e fazer a conferência de imprensa ou há
um sismo no Algarve e há X mortos e neste momento precisamos
de acalmar a população. Tudo isto com o exercício em que puxámos
pelos jovens, depois temos estado a trabalhar até à uma da manhã,
fazer com que eles percebam que isto é a realidade. Eu até
tive uma conversa depois, estávamos na altura no fundão, tive uma conversa
com o vice-presidente do fundão e ele a dizer-me, isto acontece mesmo?
Quando foram os ensenhos da Gardinha eu tive quatro noites que não
dormi e que foi preciso fazer conferências de imprensa e que eu
não tinha duas horas de sono e eu nem conseguia pensar. Tu
agora já descreveste parte da maneira como eles são selecionados
Fernando Soares e Ricardo Marvão
informal, digamos assim, isto não pretende substituir os tradicionais cursos de ciência
política, de economia, do direito, eles fazem todo o sentido. Nós queremos
é trazer algo muito prático, um toolkit, um conjunto de ferramentas que
eles podem usar no dia a dia. Nós temos três grandes blocos
e após essa seleção muito rigorosa, que é parte do segredo do
sucesso do programa, é de facto uma seleção rigorosa e com todos
esses critérios de diversidade que falámos, nós arrancamos com uma parte de,
digamos assim, de liderança e de conhecimento, em que os desafiamos a
perceberem quais são os seus valores, quais são os valores da sociedade
portuguesa, quais são, digamos, os papéis que cada um quer ter na
sociedade. Depois entramos num segundo bloco muito prático, em que trabalhamos ferramentas,
o como, digamos assim, as ferramentas de comunicação que fizemos. Agora nós
vamos a dois terços do programa de piloto. Tivemos este fim de
semana,
inclusive, no
fundão a treinar as competências, a comunicação, os diferentes tipos de comunicação,
o media training, a capacidade escrita, tudo isso. E fechamos com um
ciclo que é já muito aplicado de políticas públicas, virado para as
políticas públicas, para a quantificação das mesmas e para que eles possam
escolher e apresentar diferentes áreas de atuação onde se podem, no fundo,
envolver. Aplicar, sim. Mas tudo isto com desafios muito práticos, como escrever
um decreto de lei, como apresentar uma lista a uma junta de
freguesia, como escrever um manifesto, este tipo de situações de simulação, mas
também as cotativas junto à população. Eles passaram horas a ouvir população,
foram todos forçados a ir às suas juntas de freguesia e
falar com os executivos
da junta, ou seja, aproximar de facto e forçá-los a sair da
zona de conforto em situações muito práticas e num programa que está
desenhado totalmente orientado já por missões, ou seja, cada uma das 12
semanas tem uma missão que eles são desafiados com exercícios práticos, sessões
inspiracionais e com trabalhos, muitos deles, desenvolvidos no terreno.
José Maria Pimentel
Contribua para a continuidade e crescimento deste projeto no site 45graus.parafuso.net barra
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diretamente ou através do Patreon. Obrigado. Vocês agora estão a dois terços
desta edição piloto, o que significa, como estava a dizer há bocadinho,
que isso ainda é normal, que ainda vai ter ajustamentos, o que
mostra que vocês vão aprendendo, não é? Porque uma coisa é a
teoria, outra coisa é depois pôr em prática. Como é que tem
sido a experiência até agora? Tanto do ponto de vista da organização,
como do ponto de vista do contato com os jovens? Porque eu
imagino que isso para vocês também seja uma experiência interessante de dar
uma escoltação, se quisermos, das novas gerações, não é? Para saber o
que é que vai na cabeça das pessoas, o que é que
eles estão a pensar, o que é que os preocupa, o que
é que os move, em que direção é que eles se inclinam
nos vários assuntos políticos e na maneira de participação, como é que
tem sido? Assim, eu posso
Fernando Soares e Ricardo Marvão
dizer que como é que tem sido para mim, basicamente tem sido
brutal, porque A forma, depois de tanto tempo a trabalhar nisto, depois
de ver o resultado com os jovens e ter o feedback deles,
a pessoa sente-se mesmo orgulhosa do trabalho que está a ser feito.
O que eu também sinto é, os jovens estão, claro, quando começámos
eles não se conheciam, agora há uma camaradagem enorme, estão sempre a
falar, discutir temas, ouvem muito mais, percebem que podem discutir ali assuntos
que se calhar em casa ou que os outros amigos não conseguem.
Este fim de semana fizemos o... Perguntámos, como é que vocês explicam
o que é que vocês estão a fazer? É fácil explicar? Perguntar
aos pais ou perguntar aos amigos e eles dizem mas é uma
academia de política, são muitas palavras, são jovens e depois mas como
é que isso funciona? O que vocês fazem lá? O que acontece
durante esse fim de semana? É tipo parece que é assim uma
coisa um bocado...
Fernando Soares e Ricardo Marvão
pessoas não conseguem explicar bem. E mesmo para os pais, mas tu
gostas, mas estás feliz. E pronto, e isso é o suficiente para
os pais, ok, então pronto, se ele está feliz e está a
gostar, eu não preciso perceber exatamente o que é, mas está ok.
E acho que é isso que tem sido para nós, pelo menos
para mim, tem sido esse o feedback e tem sido ótimo ter
cada vez mais o feedback. Acaba o fim de semana e eles...
Há uma chorrada de mensagens não só de novo feedback, mas também
de obrigado, criei aqui quase uma tribo que me percebe, que percebe
o que é que eu estou a pensar, mesmo que venha de
outra ideologia política e que me ouve e que eu consigo ter
uma discussão com
Fernando Soares e Ricardo Marvão
essa pessoa sobre imensos temas. Uma nota também é muito interessante ter
o feedback dos participantes e eles têm interesses, no fundo, digamos, de
muitas áreas políticas diferentes, portanto, eles vêm com backgrounds e já com
alguns interesses. Nós estamos a falar sobretudo de jovens que ainda não
estão nem nas juventudes, nem nos partidos. Alguns deles têm já uma
experiência ou outra e também alguns têm experiência em associações. Mas, mais
do que o feedback dos participantes tem sido também interessante ouvir o
feedback dos oradores que nós
temos tido,
dos políticos que temos tido, dos agentes de inovação. Nós temos exposto
desde já a presidentes de junta, a autarca, as presidentes de câmara,
vice-presidentes, Deputados, vamos agora exposto também a membros do Governo e tem
sido muito interessante porque é consistente entre todos os partidos que não
existe este tipo de programas, sobretudo a partidários. Aliás é muito interessante
este feedback que o Ricardo estava a dizer, muitos deles dizem aos
pais e aos amigos que estão num programa de formação de políticos
e as pessoas ficam com o ar preocupado. Mas, eles depois dizem,
mas a partir de háreo. Ah, muito bem. Então, as pessoas no
fundo, o que nós temos sentido, também sendo muito transparente, é que
revela-se no feedback dos nossos participantes algum preconceito face aos políticos e
isto tem servido e nós estamos muito satisfeitos com isso para desmistificar
o papel dos políticos, que há bons políticos, que há pessoas a
trabalharem para o dos outros, a fazer um trabalho que deve ser
reconhecido, que deve ser, digamos, nós este fim de semana desafiámos-los a
fazer uma love letter para um político que eles admirem. Ou seja,
é necessário também trazer o lado bom daquilo que está a ser
feito na política e assim como tem sido feito muito trabalho para
reconhecer o trabalho dos professores, é preciso também reconhecer os políticos, não
estamos aqui a dizer se são muitos ou poucos, mas que fazem
também um bom trabalho em pó das populações e dos países e
das organizações. E, portanto, nós temos desafiado a pensar em um pouco
diferente toda esta sociedade e toda esta participação. O que tu queres
realmente é também estes formatos
Fernando Soares e Ricardo Marvão
tivemos um participante nosso que disse claramente que depois da apresentação que
o político lhe fez, que nós tínhamos convidado, tinha ficado com uma
ideia totalmente diferente e não sabia se tinha uma má ideia dele
pela cronista que lê, que está sempre a dizer mal dele, ou
se era mesmo uma opinião que ele já tinha formado e mudou
totalmente a ideia porque conheceu o trabalho e a pessoa. Isto faz
também parte do papel da nossa academia, que acreditamos nós, é no
fundo desmistificar exatamente o que tu dizias, o papel que muitos dos
políticos estão a ter, mas por desconhecimento, por falta de cultura política,
tal como referias no início, as pessoas tipicamente não acedem. E aqui
estamos a falar de jovens que tipicamente já são minimamente informados, minimamente
curiosos, minimamente desafiadores.
José Maria Pimentel
E à esse lado eu estava a falar da má reputação dos
políticos, mas também há muitos políticos bons a que a pessoa não
tem acesso, ou quando tem acesso é via televisão, ou via média
em geral, o que acaba por criar uma barreira, não é? Esse
tipo de iniciativas em que tu estás no mesmo espaço que a
pessoa, e os podcasts por exemplo acabam por ter, não estás no
mesmo espaço mas por ouvires a voz e por estares estendido e
teres tempo, acaba às vezes por ter um efeito parecido ou eu
noto que tem um efeito parecido, isso te promove uma certa empatia,
de parte a parte, não é? Consegues perceber melhor o que é
que vai na cabeça da outra pessoa e ela própria também perceber
o... Enfim, as necessidades, digamos assim, dos eleitores. Tens toda a razão
e os nossos cursos têm decorrido em abordagem, numa
Fernando Soares e Ricardo Marvão
abordagem muito informal. Nós temos tido, de facto, políticos que têm exposto,
além do trabalho que fazem naturalmente e de promover o trabalho que
fazem, contam muito a história pessoal.
Porque
entraram na política? Como é que geram o equilíbrio e o trade-off,
digamos assim, o custo de oportunidade de estarem na política versus não
estarem numa carreira num mundo privado? Como é que as famílias se
envolvem? Como é que geram a relação com a família estando na
política e expondo-se? E, portanto, esse lado mais humano dos políticos, num
registro informal, permite que todos, no fundo, acedam a uma forma de
estar mais humana e mais... Quer dizer, são pessoas como todos nós.
E temos conseguido, e ficamos muito contentes com isso, temos conseguido mostrar
desse lado B dos políticos que cá está, que é filtrado na
abordagem da comunicação social e nas barreiras que existem entre os políticos
e os cidadãos. E portanto, isto também tem servido para isso. Por
Fernando Soares e Ricardo Marvão
E também conhecer mais em detalhe quem é que é esta pessoa
que está aqui à minha frente. E depois passas a perceber muito
melhor, ok, a vida da pessoa, a carreira, os desafios que teve,
por aí fora. Portanto, é isso também que nós queremos. E nestes
fins de semana, por isso é que eles estão três dias connosco
não há uma coisa de estamos aqui duas horas e toca andar
não, vocês vão passar três dias connosco e vão passar, gente, só
para teres ideia nós acabamos tipicamente à meia-noite uma e no dia
seguinte está toda a gente de pé, quer dizer, quando vão haver
situações de crise, às 8 da manhã já está toda a gente
na próxima sessão. Este
Fernando Soares e Ricardo Marvão
série de iniciativas que, ou por outra, dizendo de outra forma, todos
nós beneficiaríamos de algumas dessas iniciativas. Sem dúvida. E mesmo também compreender
os desafios, por exemplo, mesmo sendo político, um político no interior, num
concelho com 5 ou 6 mil pessoas, ou um político numa autarquia
com centenas de milhares de pessoas, são funções completamente diferentes. Eles têm
aprendido que, se calhar, quando estivemos com o Presidente da Câmara de
Campo Maior, ele disse-nos que a maior parte dos habitantes minimamente ativos
do Conselho o conhece e o cumprimenta, ou se ele não passa
em terminadas ruas ao fim de algumas semanas, todos lhe perguntam o
que é que se passa com ele. Portanto, há um sentido de
proximidade e de uma responsabilidade de prestação de contas totalmente direta, muito
diferente, por exemplo, do que temos conversado com deputados e com governantes
que estão um pouco mais distantes da população. E, portanto, mesmo essa
perceção do que são as diferentes realidades da política e da proximidade
aos cidadãos também ajudam a compreender e a desmistificar
o que
é a vida de alguém que, no fundo, está a trabalhar em
prol da sociedade.
José Maria Pimentel
E há um aspecto particularmente interessante desta vossa iniciativa, porque vocês não
estão apenas a tentar dinamizar a sociedade civil, digamos assim. Esta iniciativa
é ela mesma proveniente da sociedade civil, porque vocês não são... Isto
não é a vossa profissão, vocês têm... Vocês os dois e os
restantes criadores deste projeto têm carreiras, têm trabalhos full-time e isto não
parte, não é uma iniciativa que venha, portanto, do Estado, seria ótimo,
não é? Mas é complementar essa iniciativa e no fundo foram vocês
que se mexeram, quer dizer, a acordar mais cedo para ter reuniões
das 18h às 9h e isso é interessante e vocês têm carreiras
diferentes, ou seja, têm experiências diferentes que eu imagino também tenham influenciado
a própria construção deste programa, ou seja, de certeza, quer dizer, eu
tenho suspeito fortemente que a própria construção deste programa que vocês descreveram,
reflita também as vossas experiências, aquilo que a vida vos ensinou que
pode ser útil naquilo que funciona e que não funciona, as competências
que são mais ou menos úteis. Totalmente, é claro que
Fernando Soares e Ricardo Marvão
vem bastante do mundo do empreendedorismo, por exemplo. Como é que isso
influenciou? Por exemplo, o facto de, como é que nós atingimos isto
mais rápido? Ok, vamos usar uma metodologia de aceleração de startups, mas
diretamente para fazer aceleração de políticos. O que é tipo quando pensas
ok vou acelerar um político. Mas é possível e estamos a fazer
e estamos a fazer com bons resultados. Claro que há... E nós
fomos... E o Fernando já falou disto... Que é muito importante, estamos
a falar com jovens, é muito importante sermos transparentes que nós é
a primeira edição, nós não sabemos exatamente como é que vai ser
o resultado final, acreditamos imenso no projeto, queremos muito ouvir, de maneira
a melhorar em cada semana o programa e para isso temos que
lhes dar pelo menos a transparência de que nós não temos as
respostas todas e há aqui coisas que se calhar vão correr menos
bem, vocês são um bocado o guinea pig, não é? Mas estamos
aqui para todos, estamos todos no mesmo barco e estamos todos a
aprender e portanto se eles tiverem essa mente aberta ajuda-nos imenso e
portanto é assim que estamos a levar o curso. A primeira edição
é uma aprendizagem para uma segunda edição que vai ser muito mais
robusta, muito mais... Mas a primeira edição é sempre uma primeira edição,
não é? Tipo, a primeira vez que fazes eles vão todos dizer
não, eu tive na primeira edição.
José Maria Pimentel
Pois, exatamente, estava a pensar nesse aspecto. E outro aspecto que eu
acho que também destina a vossa abordagem e que suspeito também é
resultado da vossa experiência é que vocês podiam-se ficar pelo lado lírico
da coisa, digamos assim, de passar este conhecimento, de engotir um determinado
espírito, mas sem o medir. E vocês têm uma preocupação em medir
os resultados também, dentro daquilo que se pode fazer neste tipo de
iniciativa, cujos grandes resultados são a prazo, não são no imediato, mas
vocês tentam também de alguma forma ter aqui indicadores
Fernando Soares e Ricardo Marvão
que permitam medir o impacto e os resultados que estão a atingir.
Sim, claramente hoje não se pode estar em projetos transformadores, em projetos
de educação e isso tem que ver também com a nossa experiência
em implementar diferentes projetos. O Ricardo na inovação, eu trabalho também na
educação, nós temos pessoas na área da economia, em muitas áreas diferentes,
pessoas que já fizeram outros movimentos cívicos como o Política para Todos,
Temos representados nos fundadores também diferentes geografias do país, o que é
muito importante. Nós queremos tirar as pessoas, nós estamos a fazer questão
de grande parte dos fins de semana e dos projetos que acontecem
na parte presencial fora dos grandes centros urbanos, para que toda a
gente conheça o interior. O
país real.
O país real, digamos assim. E os diferentes países que também constituem
Portugal, as diferentes forças sociais, as diferentes regiões. Sobre a medição de
impacto, nós desafiamos a Gulbenkian para nos ajudar, se há alguém que
tem trabalhado sobre isto em Portugal é a Fundação Carlos Gulbenkian. E
não é difícil, nós no fundo o que nos propomos é acompanhar
o percurso destes jovens após o programa e perceber se participam ativamente
em associações, em projetos da sociedade civil, se se candidatam e o
nosso objetivo é mesmo ter uma percentagem de pessoas que se candidatem
e uma porcentagem de pessoas que participem civicamente. E participar civicamente é
de todas estas formas que nós já falámos. E, portanto, o que
nós vamos fazer é acompanhá-los e dinamizando também essa rede, como as
escolas tradicionais fazem, as redes de antigos alunos, para que eles também
se possam ajudar mutuamente, ir partilhando os desafios que vão tendo nas
suas vidas da participação cívica e que, de edição a pós-edição, se
construa uma rede que possa, ela também, da sociedade civil para a
sociedade civil, que se alimente e que se apoie mutuamente nesse designio
de serem todos um pouco mais ativos e mais participativos. E esse
follow-up é interessante, porque isso permite-vos também, de certa forma,
José Maria Pimentel
Sim, exatamente. Bom, para terminar, olhando para o futuro, próximos passos, o
que é que está na agenda? Vocês estão a dois terços da
primeira edição, eu sei que tem algumas novidades, entretanto, frescas. Sim, então,
se calhar
Fernando Soares e Ricardo Marvão
Exatamente, e de patrocínio da causa pública e do interesse público. E,
portanto, temos que agradecer a todas as entidades que acreditaram no projeto
desde o início. Estamos, obviamente, disponíveis para ser apoiados, tal como tu
também o fazes com outras entidades da sociedade civil, individuais, empresas, instituições,
fundações. Não comprometemos o financiamento desta academia com movimentos partidários, portanto, neste
momento é totalmente independente do sistema partidário e, portanto, queremos agradecer a
quem já nos apoiou. Estamos disponíveis para quem nos quer apoiar e,
ao mesmo tempo, queremos também agradecer-te a ti a promoção
que te permite,
através deste teu podcast, que tem claramente uma audiência cada vez maior
E, portanto, agradecer-te a tua disponibilidade para nos receberes e apoiares a
promoção deste projeto. Também tu, um agente da sociedade civil, com um
projeto também da sociedade civil para a sociedade civil. E, portanto, temos
isso em comum, partilhamos esse espaço em comum e muito tens feito
para também essa divulgação do conhecimento que existe no país e dos
portugueses e que ele seja e chegue a todos que seja do
conhecimento de uma rede mais alargada de pessoas e
Fernando Soares e Ricardo Marvão
portanto agradecer de sermos parte desta tua iniciativa. Já agora deixa aqui
também, falamos aqui também do financiamento mas realmente esse é um ponto
importante que eu e o Fernando já estamos nisto há muitos anos
e já financiámos muitos projetos, eu acho que não tive nenhum projeto
tão difícil de financiar como este e portanto Deixo aqui um pedido
de se alguma organização, alguma instituição, até indivíduos, que também já tivemos
financiamento de indivíduos, se quiserem apoiar a academia e acreditamos que isto
é... E é o feedback que temos. Toda a gente diz, projeto
magnífico, é tão importante ter os jovens a participarem, mas depois para
chegar à frente é difícil. E, portanto, deixo aqui o pedido, se
por acaso alguém tiver
José Maria Pimentel
interessado em apoiar a academia, estamos todos ouvidos. Sim, sim, bom, não
faz todo sentido, porque eu percebo que a política seja um terreno
em que as pessoas evitem muitas vezes meter-se e aqueles que quereriam
meter, vocês querem evitá-los por razões compreensíveis, porque querem manter o espírito
a partidário, mas a verdade é que este tipo de coisas precisam
de financiamento, senão não conseguem cumprir a sua missão. Para terminarmos, tu,
Ricardo, já falaste disso no início, mas fica reforçada a recomendação do,
que neste caso não é um livro, é um