#100 Carlos Fiolhais - Fronteiras da Ciência: buracos negros, exoplanetas, multiversos e muito mais
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José Maria Pimentel
E, pegando num matemático que interagiu com Einstein, um grande matemático alemão,
David Hilbert, ele tem escrito na sua sepultura, em alemão, Wir wissen
wissen, wir werden wissen, que significa nós temos de conhecer, nós havemos
de conhecer, digamos, de algum modo, o conhecimento ao nosso futuro.
Carlos Fiolhais
Olá, o meu nome é José Maria Pimentel e este é o
episódio número 100 do 45°. Parece incrível, mas já lá vão uma
centena de conversas e outros tantos convidados. Como se lembram, lancei há
umas semanas o inquérito para votarem no convidado anterior que gostavam de
ouvir outra vez no podcast. A votação foi renhida e já lavou
essa parte e o grande vencedor, como já perceberam, foi Carlos Fiolhais,
que teve a simpatia de aceitar o meu répito. E é engraçado
porque eu já nem me lembrava, mas tinha terminado o nosso episódio
original, gravado há quase 3 anos, precisamente a desafiá-lo para regressar ao
podcast. Este encaro que lancei foi também muito útil para ficar a
conhecer aqueles convidados que mais vos marcaram. E há 3 outros nomes
que tiveram também muitos votos e que conto voltar a trazer ao
podcast até porque estão também entre os meus episódios preferidos. Curiosamente destacaram-se
nesta votação dois temas bem diferentes, ciência e política. O outro nome
da área da ciência, para além do Carlos, é o Paulo Gamamota,
biólogo com quem conversei recentemente sobre biologia evolutiva. Fiquei muito contente com
a vossa vontade em voltar a ouvi-lo, por dois motivos. Primeiro, porque
mesmo tendo gravado dois episódios com ele, eu próprio fiquei com vontade
de repetir a dose, porque ficaram ainda muitas coisas por discutir. Segundo
e mais importante, porque o Paulo é o único destes nomes que
não é uma figura pública e isso diz muito sobre o interesse
do tema e sobretudo diz muito sobre a qualidade intrínseca dele. Aliás,
para mim, uma das melhores descobertas que tive a sorte de fazer
no podcast. Do lado da política teve também muitos votos o Luís
Aguiar Conraria, com quem também gravei recentemente. Este resultado não me surpreende
porque o Luís foi de facto um ótimo convidado e foi das
melhores conversas que tive ultimamente, portanto, havemos de repetir a dose. Finalmente,
quem teve também muitos pedidos de regresso foi o Adolfo Mesquita Nunes,
julgo que em parte porque lançou recentemente um livro, chamado A Grande
Escolha, que tem dado muito que falar. Também neste caso sinto-me happy
to oblige e, neste caso, mais brevemente, aliás, eu já tinha pensado
de conversar com ele sobre o livro, portanto, em princípio, fica já
anunciado, vamos gravar já em janeiro. Mas voltando agora ao episódio de
hoje com o Carlos Fiolhais. Foi uma ótima conversa, uma espécie de
viagem pelas fronteiras da ciência e da física em particular. Falámos sobre
algumas das grandes descobertas deste século nestas áreas, como as ondas gravitacionais,
que vieram mais uma vez comprovar a teoria de Einstein, ou a
revolução silenciosa que tem acontecido nas últimas décadas no nosso conhecimento do
cosmos, com a descoberta, em poucas décadas, de um número enorme de
planetas fora do nosso sistema solar. Já vai em 4000. Muitos destes
teoricamente com condições para ter vida. Mas a verdade é que estes
progressos são sobretudo empiricos. Ou seja, resultam de mais tempo a recolher
dados e sobretudo, do facto de hoje termos melhor tecnologia para observar
o cosmos. Porque a verdade, como o Carlos diz, é que ainda
há muitos mistérios das leis do universo que continua por explicar e
a verdade é que desde o grande golpe de Asa de Einstein,
continua sem ser dado um grande salto teórico que permita, Por exemplo,
conciliar a teoria da relatividade com a realidade quântica ou explicar fenómenos
que permanecem misteriosos, como a matéria escura ou a energia escura. Entretanto,
chamo também a atenção para dois livros que o Carlos lançou recentemente
com outros temas. Um deles, o mais recente de todos e mais
pequeno, chama-se Apanhados pelo Vírus – Factos e Mitos acerca da Covid-19
e foi escrito, já não é a primeira vez, com David Marçal.
O outro livro, um tomo bastante mais grosso, chama-se História Global de
Portugal e foi coordenado também por José Eduardo Franco e José Pedro
Paiva. É um livro lá que está sobre a história de Portugal,
mas numa lógica um pouco diferente, focada na abertura de Portugal ao
exterior e portanto vendo Portugal como um ponto de chegada e de
partida de gentes, produtos, ideias, etc. E pronto, vamos ao episódio 100
do podcast. Obrigado por estarem desse lado. E um agradecimento aos novos
mecenas da última quinzena, Carlos Cardoso, Marta Cunha, Sheila Almeida, João Milagre,
Pedro Fontes, Luís Elias, Pedro Brito, José Losa, Hélder Moreira, Diogo Fonseca,
Frederico Apelónia, Gabriel Sousa e André Abrantes. Carlos Filhais, muito bem vindo
de volta.
Carlos Fiolhais
correto. Exatamente. Está bem, Carlos, então vamos começar, se calhar começamos assim,
até porque eu há um bocado estava a pensar a que há
um ano começou-se a fazer aqueles recaps, aquele recolher dos eventos da
década, mas na verdade se nós quisermos ser preciosistas, a década acaba
agora e não no ano passado. Pois, é. E portanto acho que
é um bom protesto para eu começar com essa pergunta. Nas áreas
para que o Carlos tenha olhado, quais é que foram, na última
década ou vá, neste século, se quisermos,
José Maria Pimentel
vir tudo. Conforme queiram encarar. A primeira coisa que eu gostaria de
dizer é que esta duas décadas, não é? Portanto, este novo século,
se compararmos com as duas primeiras décadas do século passado, o século
XX, isto deixa um bocadinho a desejar. Porque no início do século
XX foi uma revolução na física. Em 1900 tínhamos a tria quântica
de Max Planck, que resolveu um problema da luz e que se
veio a revelar muito frutuoso, porque desse mistério da luz viemos a
perceber os mistérios dos átomos, dos núcleos atômicos, das partículas, e portanto,
com grandes aplicações, não esqueçamos que estamos a viver uma revolução da
informação até por base ao transistor, que é um artefacto quântico. E
depois em 1905, seguido de uma complementada em 1915, Einstein apresenta a
sua teoria da relatividade, primeiro restrita e depois geral, que não tendo
aplicações tão visíveis, também tem algumas, sei lá, se pensarmos, por exemplo,
na energia nuclear, transfusão de matéria e energia, ou o próprio Sol.
Para nós percebemos o Sol, temos de pensar na famosa equação de
Einstein, energia igual à massa veloz do quadrado avançado da luz. E
José Maria Pimentel
continuamos a explorar corolários. Com certeza, isso é que é notável, passa-se
todo o resto do século XX, passam-se duas décadas do século XXI
e ninguém
ainda subiu nem aos ombros do Planck, nem aos ombros do Einstein,
para ver mais longe. Quer dizer, para saber mais. Quer dizer, sabemos
mais, com certeza, mas os pilares mantêm-se inabaláveis, não quer dizer que
sejam eternos, mas a teoria quântica está muito bem e recomenda-se, e
a teoria da relatividade também, e as duas até foram unidas entretanto.
As teorias quânticas de campo são, digamos, uma maneira de unir a
teoria quântica e a teoria da realidade estrita. O que falta unir,
e é um dos grandes desafios, é um dos grandes problemas que
enfrentamos, é a teoria da letariedade geral, que é o Einstein de
1915, que é uma descrição da gravidade, portanto das forças entre os
astros, no fundo a força também que nos prende ao planeta. É,
uma escala muito grande. Exatamente. E faltam desunir isso com a tria
quântica. Esse é um dos grandes problemas da física. Bem, para não
falar de outras coisas, no início do século XX, em 1911 se
descobre o núcleo atómico e também logo a seguida estudo o átomo,
percebermos, e depois mais tarde, como é que os átomos se... Roubás
não teria conta de como é que os átomos se ligam em
si, no fundo, à base da química. Isso vai-nos permitir mais tarde,
em 1953, a descoberta da estrutura da maior molécula, que é a
molécula do ADN, que é uma revolução enorme na biologia. Portanto, isto
no século XX foi, digamos, um festival. Um festival que, de algum
modo, começou com essa grande revolução na física, que vai originar revoluções
tecnológicas e avanços grandes nas outras ciências. O caso da biologia molecular
é um caso paradigmático. Aliás foram os físicos, refiro aqui a Irving
Schrodinger, um dos físicos quânticos, que em 1943 escreve um livro, o
que é a vida. E o Watson e Crick, os descobridores da
Estudar, tinham lido esse livro e estavam interessados no mistério da vida
e isso, digamos, teve um impacto brutal no nosso conhecimento de nós
próprios e da biodiversidade toda a vida. Então chegamos ao início do
século XXI e não vemos esses grandes avanços teóricos. As antigas teorias
estão aí e eu ensino-as e pronto, e têm validade grande.
José Maria Pimentel
XIX houve uma grande arrogância... Peço desculpa, no fim do século XIX.
No fim do século XIX, Lord Kelvin tinha dito que a Física
estava praticamente feita, havia duas pequenas nuvens e tal, mas essas nuvens
vieram-se a revelar, digamos, muito maiores do que aquilo que ele pensava.
Não foi o único que pensava que a Física estava acabada, e
não estava. Portanto, o século XX foi muito rico do ponto de
vista da Física. No século XXI nós temos problemas para resolver, do
ponto de vista teórico esse talvez seja o principal. Do ponto de
vista de física fundamental, unir a teoria da realidade geral com a
teoria quântica, há uma candidata que é a teoria das cordas, mas
não está... Prevê muita coisa, prevê coisas demais e é uma escala
difícil de medir. E, portanto, já há concorrentes, como a teoria do
loop quântico, etc. É um domínio, digamos, em que se tem apostado
muito do ponto de vista teórico, mas sem, eu devo dizer, sem
resultados muito visíveis ou sem resultados visíveis, mas eu também não quero
ser, enfim, não quero dizer que não haja grandes avanços e a
pergunta é que grandes avanços é que eu distinguiria neste início do
século XXI. E eu diria relacionado com a teoria da Relatividade Geral,
Há uma novidade de facto que tem a ver também com o
Prémio Nobel da Física 2020, com o último, tem a ver com
o Prémio Nobel da Física 2017, a descoberta das ondas gravitacionais, que
é uma previsão de Einstein. Exato. Ah, quer dizer, Não é a
teoria, a teoria estava lá, mas é uma operação, digamos, instrumental, tecnológica,
poderosíssima, dois detectores imensos, feitos com base em lasers, com técnicas muito
avançadas. É preciso ver aqui uma aposta em ciência fundamental muito grande,
feita pela Fundação de Ciência Americana, dois dispositivos afastados de mais de
3 mil quilômetros, um em Washington e outro na Louisiana, estado de
Washington, E o que ali aconteceu foi a detecção de um sinal
extraterrestre, enfim, em 2015. Há muito pouco tempo, em 2015. Que eu
acho que isso é um abalo muito grande, porque neste momento já
houve dezenas de registros como esse e nós sabemos interpretar com auxílio
de computadores, nós sabemos que isso são colisões de buracos negros e
é a primeira evidência direta que nós temos de fusão, da existência
dos próprios buracos negros que se manifesta através de colisão uns com
os outros. E, portanto, os dois prémios Nobel muito recentes, os 2020
e o 2017, foram dados por causa da descoberta de ondas gravitacionales.
Por que é que isto é tão importante? Isto é muito importante
porque são sinais novos que vêm do cosmos. E Nós estamos a
aprender coisas com eles que não sabíamos antes. Por exemplo, a existência
destes buracos negros, agora há certeza. O tamanho deles, estamos a ter
descobertas assombrosas. Sobre o tamanho, até pensámos que eram mais pequenos, mas
logo o primeiro que foi detectado, era uma coisa de 30 vezes
a massa do Sol, mais 30 vezes a massa do Sol e
dá 60 vezes a massa do Sol, que é uma coisa gigante.
Claro, depois também há os buracos negros super gigantes, como aquele que
deu, digamos, de algum modo, metade do Nobel de Outubro passado, que
foi o buraco negro super maciço que está no centro da nossa
galáxia. Até agora nós víamos o universo principalmente através da luz. Ou
exclusivamente, vamos lá, exclusivamente através da luz. Era a luz de uma
maneira ou de outra que nos permitia saber que era feito o
mundo. Agora temos uma outra maneira de ver o mundo e não
lhe vou chamar som, porque não se trata de som no sentido
convencional. Sim, do ouvido humano. Mas é semelhante ao som porque também
são ondas. Claro que a luz também é onda, mas é outro
tipo de onda. E que ondas são essas? É o próprio espaço
e tempo que abanam. Quer dizer, aqueles dois braques negros que se
juntam, de acordo com a teoria da relatividade geral de Einstein, a
matéria e a energia dizem ao espaço e ao tempo como se
iam de comportar e o espaço e o tempo perante aquela bala,
há não. E nós cá longe, há milhões de anos de luz,
milhares de anos de luz de chance e nós temos tecnologia suficiente
para apanhar esse sinal e portanto temos novas maneiras de saber notícias
do universo. É essa e isto é uma indústria, indústria entre aspas,
agora que foi testada, está a ser desenvolvida a novos detectores, entrou
agora nos Estados Unidos, na Europa, entrou agora em funcionamento um no
Japão, andia também está a fazer e o que é que isso
vai fazer? Vamos fazer uma rede mundial de detectores de ondas gravitacionais
e eles em conjunto podem fazer uma super antena, quer dizer, vamos
poder localizar com precisão a origem desse evento. Já há casos de
eventos em que conseguimos ao mesmo tempo ver luz e ver som,
espetáculo de som e luz, som sempre neste sentido geral. Isso pode
nos trazer novas do universo, por exemplo, notícias do Big Bang. Há
um projeto muito interessante que é um projeto da Agência Espacial Europeia
que vai demorar, mas consiste em pôr em órbita três satélites que
por triangulação fazem uma gigantesca antena, enviam luz laser uns para os
outros, fazem uma gigantesca antena e vai permitir recolher ondas relacionais de
um comprimento de onda maior do que aquelas que recolhemos aqui na
Terra, porque o tamanho da antena é espacial e isso se calhar
vai nos permitir ouvir o Big Bang, que é dizer saber qual
é que o espaço e o tempo surgiram. E isso é uma
coisa verdadeiramente extraordinária. Portanto, eu sei que é mais tecnologia do que
ciência, porque a ciência de Einstein está lá só hoje. Mas vai-nos
permitir... O universo não é uma caixinha, é uma grande caixa. Uma
caixa gigante de surpresas. E quando o cérebro humano, que é também
uma grande caixa de surpresas, não é capaz de elaborar mais surpresas,
então o que é que lá está? Está lá o universo para
nos surpreender. Por outras palavras, às vezes não temos imaginação suficiente, mas
o universo tem imaginação sempre superior à nossa. E a imaginação dos
grandes cientistas, como Einstein, é conseguir chegar mais perto da grande imaginação
da natureza. Mas isto é apenas um exemplo,
José Maria Pimentel
exatamente as ondas gravitacionais e porquê é que o modelo de Einstein
as previa? Einstein, na sua teoria de 1915, uniu conceitos que, enfim,
que todos nós temos uma noção intuitiva, mas que são noções difíceis,
de algum modo abstratas e que são difíceis de compreender, grandes mistérios.
Já antes tinha unido a matéria e a energia por essa famosa
equação que explica o funcionamento dos óleos e das estrelas. Energia e
matéria são as duas faces da mesma moeda. E ele resume isso
numa equação muito simples. Energia é matéria, matéria é energia. E ele
tinha também unido, de algum modo, de um modo diferente, o espaço
não é o tempo, mas para compreender o conjunto tem de se
usar uma entidade matemática a quatro dimensões, com três dimensões de espaço
e uma dimensão de tempo, e um absoluto, um invariante, era uma
coisa que tem a ver com a velocidade da luz, que dê
respeito ao espaço e ao tempo. Quer dizer, uma velocidade é fixa
e, portanto, combina. Uma velocidade é sempre um espaço sobre um tempo.
E, portanto, há um invariante no espaço-tempo. Portanto, espaço e tempo estão
relacionados, matéria e energia estão relacionadas. E o que ele faz nessa
grande epifania que ele teve, digamos, é prodigioso o que é que
o cérebro humano consegue, esta coisa, é juntar tudo. A ânsia da
ciência, do cientista, a ânsia, neste caso, do gênio, é juntar aquilo
que está separado, unir aquilo, eu vou usar uma metáfora, enfim, teológica.
O Einstein gostava muito de metáforas teológicas, mas não se entenda, digamos,
pela expressão de Deus, aquilo que normalmente se entende. Para Einstein, Deus
significa a harmonia do mundo. Portanto, o que ele queria ver eram
os planos de Deus. Ele queria Deus porque é aquilo que aparentemente
está separado, mas que segundo ele devia estar unido. Há uma harmonia
que significa que há uma coerência no mundo. Então, a mensagem resumida
de uma equação da realidade geral é esta. De um lado está
a matéria e a energia e do outro lado está o espaço-tempo.
E tem o igual no meio. O que é que se quer
dizer? A matéria e a energia, se acontece alguma coisa, se tem
uma dinâmica, o espaço e o tempo têm uma dinâmica. E o
que são as ondas relacionais? São uma dinâmica periódica, assim como um
abanar, pensamos nas ondas do mar, por exemplo, em que no mesmo
sítio, digamos, há um movimento de vai e vem para cima e
para baixo, portanto há uma variação ao longo do tempo no mesmo
sítio, e em cada sítio, não é? Chamamos isso de uma onda.
Agora imaginamos isso aplicado ao espaço e ao tempo. Quer dizer, quando,
muito em particular ao espaço, que é aquilo que aqui detectamos na
Terra, imagine-se, são dois espelhos colocados de grande distância uns dos outros,
os espelhos estão... Isto é feito com uma precisão espantosa, porque os
espelhos não vão... Os espelhos não vão abanar. O espaço entre eles
é que vai abanar. Por outras palavras, há um detector lá no
norte e outro detector lá no sul, detectores que são, digamos, medem
distâncias, no fundo, entre espelhos que são, realmente, absolutamente iguais, e há
um sinal que não foi o sobressalto causado por um passo humano
ou por algum camião a passar na estrada ou por algum tremor
de terra, porque isso é tudo descontado. Porquê que nós sabemos isso?
Porque tanto de dois observatórios à distância tão grande um do outro
não pode ser coincidência, aquele sinal é extraterrestre. E aquilo tem a
bana de uma maneira que é mesmo, as equações de Einstein explicam
isto, Isto simula-se no computador, portanto aqui lá há uma equipe enorme
de físicos experimentais mas há também equipas mais pequenas de físicos teóricos
que fazem contas, conseguem por simulações saber exatamente qual é a origem.
Quer dizer, não se vê a origem mas adivinha-se por simulação, de
acordo com o que o Trinidad e Zagant só pode ter sido
isto. E, portanto, estas ondas gravitacionais podem nos revelar mais segredos do
cosmos, que é isso. Portanto, de algum modo, o cosmos continua a
dar-nos surpresas, continua a dar-nos motivos para pensar e não é a
única coisa. Por exemplo, começando no século passado, em 1995, foi descoberta
o primeiro exoplaneta, o primeiro planeta fora do sistema solar. Essa descoberta
deu o Prémio Nobel de 2019, portanto há um ano atrás, dois
astrofísicos suíços, Michel Mayorg de Diakielos, que descobriram, portanto, um outro sistema
solar. E O que é incrível é que hoje, fui agora ver
à Wikipedia, já vai em mais de 4 mil. É um crescimento
incrível. Dos quais muitos pertencem mesmo ao sistema solar. Há cerca de
3 mil sistemas solares. Quer dizer, eu que aprendi na escola que
tínhamos um sistema solar, agora temos de ensinar na escola que há
sistemas solares por todo lado e até nós suspeitamos praticamente todas as
estrelas dos planetas. E isso de facto abre-nos
José Maria Pimentel
uma mudança enorme de pensamento, não estamos sozinhos, o Giordano Bruno falava
dos outros sóis, dos outros mundos, dos outros... Mas nós agora procuramos,
e é uma descoberta que está em curso, outras terras. Nós começamos
a olhar com cuidado para esses exoplanetas mais parecidos com a Terra,
quer dizer, a substância correta, para poderem eventualmente ter condições de habitabilidade,
se tem atmosfera, se há sinais alguma de presença de água, etc.
E isso, enfim, já tínhamos visto na ficção científica, o Avatar, por
exemplo, e estamos a, de algum modo, a ficção tornasse realidade. Os
escritores de ficção científica imaginaram novos mundos habitados. Nós, enfim, estamos a...
Habitados não sabemos, mas estamos a encontrar novos mundos. E isso são
descobertas que têm a ver com a física e têm de grande
impacto para a compreensão do nosso lugar do universo. Portanto, vivemos num
mundo que não é estático, não é parado, as coisas abanam, há
monstros no universo e tudo está em movimento e há choques, há
carambulagens, isto parece uma pista de carrossel e por outro lado há
também sítios onde temos a esperança que existe vida, não temos a
certeza, não sabemos mesmo. É um dos grandes mistérios da ciência e
se liga-se a outra ciência que é a biologia e é uma
ligação muito interessante porque nós sabemos que existe vida na Terra, nós
somos uma parte da grande árvore da vida, nós sabemos, a teoria
de Darwin, baseada também, ali, sarçada na biologia molecular, no exame do
ADN, nós sabemos que deve ter havido um único organismo primordial. O
que significa que há um pequeno ser microscópico que depois se multiplica
e as mutações dele explicam o aparecimento da biodiversidade. Com certeza depois
algumas espécies extinguem, se outras não, tudo tem a ver com a
adaptação ao ambiente. A Tria de Darwin. Mas o que nós não
sabemos é como é que se foi a origem do primeiro ser.
Que existiu na Terra? Existiu. Agora a questão é, será que se
formou por maquinaria fisico-química? A certa altura aparecem moléculas orgânicas. Aquilo que
é fundamental à vida, digamos, com certeza há multiplicação, o metabolismo, etc.
A capacidade de adaptação surgiu, nós sabemos que o planeta existe, enfim,
o sistema solar, foi tudo formado ao mesmo tempo, também sabemos isso.
O Sol e os planetas à volta. Quem estudou, por exemplo, isso
foram dois... Estudou ou não teve uma visão de algum modo disso,
foi o Laplace e o próprio Kant. Tiveram uma teoria de origem
de formação do sistema solar em Torbilhão, sem terem os dados que
a ciência moderna hoje tem. E o que nós, voltando à questão
da vida, portanto a Terra é tão antiga, ou quase tão antiga,
como o Sol, faz parte, digamos agora, há um processo de formação
enquanto aquela nuvem em Turbilhão, 4 ou 5 mil milhões de anos
e a vida, será, a 4 mil milhões
José Maria Pimentel
Martins. Sim, sim, que é especialista nesse assunto, digamos, da vida. De
tal modo, na minha opinião, estar a atribuir a criação de vida
lá fora e para os que caem aqui é um bocadinho afastar
o problema para fora daqui, não é? Nós nem sequer temos a
certeza se não haverá outras possibilidades de vida sem ser que o
código das quatro letras que conhecemos aqui. E isto é um assunto
para as novas gerações, quer dizer, porque também aqui está a haver
avanços notáveis. Ainda há pouco tempo foi anunciado uma investida portuguesa, primeiro
estava no MIT, mudou-se há pouco para outro lado da rua, para
o Harvard. E essa investigadora, chamo-lhe da doutora Fuxina, é muito interessante
diz que Vênus na alta atmosfera, a 30 quilômetros de altitude, tem
lá moléculas cuja explicação parece apenas ser devida à existência de bactérias.
Enfim, essa descoberta, como acontece na ciência, é disputada, outros grupos tentaram
perceber melhor. É muito recente. É muito recente e as últimas notícias
são que talvez não se confirme, porque foram ver melhor, é a
parte dos sinais, foram ver melhor e talvez não seja exatamente um
sinal claro de fosfina. E isso é a ciência a funcionar e,
portanto, temos aqui outro grande fronteira. Eu gosto da palavra fronteira porque
fronteira é o sítio um bocado vago, mas que delimita a parte
que sabemos da parte que não sabemos. As fronteiras... A palavra fronteira
tem uma carga metafórica muito forte. Quando, sei lá, em 1953, Edmund
Hiller e o seu companheiro local, nativo, chegaram ao Everest, ao topo
do Everest, estavam na fronteira mais alta da Terra. Estavam, digamos, no
sítio onde não se podia subir mais. Mas podia-se subir mais porque
o Gagarine subiu mais alto, porque em 1969 o Neil Armstrong e
o Buzz Aldrin chegaram à Lua e nós, enfim, no final do
século passado, em 1927, a sonda Voyager 1 saiu para fora do
Sistema Solar. Portanto, nós já tivemos um objeto, está-me a lembrar daquele
filme do 2008, o espaço, em que a calcinha inicial em que
é lançado pelo primata um objeto e nós de facto já lançámos
o objeto que saiu para fora do sistema solar, passando a chamada
heliosféria e está cem vezes mais longe do Sol do que está
a própria Terra. E portanto nós temos esta... Como a mensagem, que
lá está, quer dizer, é muito interessante que Carlos Sagan esteve envolvido
nesse caso. E portanto nós tentamos passar fronteiras, fronteiras de espaço, também
na Terra tentamos passar fronteiras, ao fundo dos mares, foi conseguido logo
em 1960, Picado, no fundo do Pacífico, mas nós agora estamos a
falar aqui de fronteiras do conhecimento, estamos a falar de ir mais
longe. Falei do Kant
Carlos Fiolhais
de ousar saber. É isso mesmo, é isso mesmo. Se calhar eu
acho que vamos voltar à dos exoplanetas, que é, ou seja, dos
planetas fora da Terra, que é dos mais interessantes, daqueles em que
houve mais progresso. De facto é incrível porque nós, a ideia que
eu tenho é que sempre se considerou altamente provável que existissem mais
planetas no universo para além do nosso sistema solar, mas só tivemos
provas de facto disso no início dos anos 90. Sim, em 95.
Talvez o primeiro foi em 92, mas
aquele que
era um sistema solar à volta de um solo foi o 95.
Estás bem informado. Eu sou um Google, não é?
Carlos Fiolhais
E de facto, ao mesmo tempo é incrível. Depois, paralelamente, temos informação
que vai surgindo que indicia no nosso próprio sistema solar poder existir
vida a um nível bacteriano, ouvi-me, ou seja, a nível de micróbios,
ou ter existido vida no passado,
seja em
Marte, falávamos de Vênus há bocadinho, Luas de Júpiter, exatamente. Estes dois
fatores em conjunto real são um paradoxo que vai tornando cada vez
mais pesado, que é conhecido pelo paradoxo de Fermi, que é o
facto de, com tudo isto, nós continuarmos sem indício nenhum de haver
vida... Aqui falo de vida inteligente, não é? Portanto, quando falamos do
nosso sistema celular estamos sempre a falar de seres unicelulares, mas aqui
falando de vida inteligente continuamos sem ter qualquer sinal dela. E há
aquela chamada equação de Drake, que é mais um mecanismo útil para
nós organizarmos o problema. A questão é que nós, quando ele postulou
essa equação, não sabíamos muitas coisas. Hoje em dia nós já sabemos
várias das variáveis, já temos uma ideia muito precisa das variáveis dessa
equação, já sabemos, por exemplo, que a quantidade de estrelas que existem,
ou seja, de outros sóis, se quisermos, a quantidade de sistemas solares
que existem,
como o
Carlos dizia no início, são praticamente todos, já sabemos que existem dentro
desses sistemas ou nesses sistemas solares muitos planetas com condições idênticas ou
relativamente idênticas às da Terra e no entanto continuamos sem ter grandes
sinais. O que é que pode estar aqui a falhar? É a
vida que é mais difícil de ver do que nós estamos a
pensar? É a vida inteligente que é mais difícil ou muito mais
difícil, mesmo numa escala tão grande? Ou é simplesmente uma questão de
tempo, não é? Ou dos sinais para que nós estamos a olhar?
José Maria Pimentel
provável, é quase certo, se o universo é infinito é quase certo
que exista. Igual ou não à vida baseada no ADN é outra
questão. Porque é preciso aquele código para... Aquele código o que faz
é, de algum modo ou de outra, ler as instruções para fazer
aquelas proteínas que são as máquinas ferramentas da vida. Mas em princípio
pode haver outro código. Digamos, a vida está baseada em informação, informação
é o programa para fazer. Pode haver outros códigos. Agora a questão
é da inteligência. Nós podemos pensar que a evolução vai dar ao
cérebro. E aqui deu. Já passaram, aqui passaram-se 4 mil milhões de
anos desde que há vida e temos cérebros e temos, digamos, um
ser que partilha muito das coisas com... Às vezes esquecemos disso, partilha
muitas coisas com os organismos vivos, tem muitos géneros em comum com
muitos organismos vivos. Com o fim para 0 é 98, óbvio. Exatamente.
José Maria Pimentel
Exatamente, há a história de Artal, que afinal tem a capacidade de
dizer... Olha, um dos grandes, Não falámos aqui de outros mistérios da
ciência. A origem humana é um dos mistérios sobre o qual conhecemos
mais coisas. Novas descobertas fósseis, etc, etc. Agora, a questão é, porquê
que... Vamos por partes. Porquê que, primeiro, outra vida lá fora e
depois vida que dê em cérebros e que te adquiram essa capacidade,
até capacidade de consciência. E depois de cérebros civilizações com capacidade especial?
Eu diria que não há prova nenhuma que não possa existir. Portanto,
estejamos abertos, quer dizer, esperemos que... Há esta ânsia de encontrar o
outro. Esta ânsia de encontrar o outro é muito patente no Carl
Sagan. Que é não só um grande astrofísico, mas também um grande
comunicador de ciência. O maior que tivemos nos tempos mais recentes. Ele
foi o primeiro a usar, em grande escala, a televisão, pá. E,
de algum modo, conseguiu vender o livro à custa da série de
televisão. O livro é o guião da série de televisão e vendeu
milhões. E ele falava, toda a gente se lembra dos anos... Toda
a gente que tem mais idade, os outros vão ao YouTube e
vejam. Aquele, a falar dos bilhões e bilhões de estrelas e a
falar da possibilidade do contacto. Ele, como não conseguia provar com a
ciência o contacto, ele fez um romance com a ciência científica, que
é o romance do contacto, depois deu um filme. O filme foi
feito com o Andrew, e eu acho que depois ele já não
conseguiu. Ele morreu em 96, se não me engano. O que é
curioso é que o contacto é um tema, e depois o Steven
Spielberg pega no assunto, é um tema que nos persegue a todos,
porque estamos sós no universo. Por um lado nós, enfim, nós não
queremos estar sós, mas por outro lado também temos medo do outro.
Lembramos da ficção sim-dívida, do A.G. Wells, da Guerra dos Mundos. Temos
medo do outro. Talvez um dos problemas, porque hoje em dia a
procura de sinais, agora não estou a falar de vida, estou a
falar de sinais que vêm de fora, ele defendeu isso, o SETI,
um grande projeto de procura de vida inteligente no cosmos, é uma
coisa que era considerado extravagante, mas hoje é considerado científico. Quero dizer,
é considerado científico. Ver se os sinais de galáxias que vêm de
lá... Por exemplo, quando foi descoberto os primeiros trilhos neutrões, são os
trilhos que rodam muito rapidamente, chamados de pulsares, que emitiam ondas de
rádio e aquilo era periódico. Está ali uma emissão de rádio, se
calhar são seres alienígenas. Não, era simplesmente uma estrela a rodar. A
questão é, nós ouvimos esses sinais da rádio do espaço, encontramos ali
algum sentido. É preciso também ver o seguinte, nós emitimos sinais para
o espaço desde há 50, 60 anos. Da rádio, da televisão, a
televisão então mais em grande escala, mas não foi assim há tanto
tempo. Há umas décadas. E esses, portanto, só pode haver consciência da
nossa existência há 50 anos de longe.
José Maria Pimentel
Claro. A nossa estrela mais próxima, chama-se Próxima, está há 4 anos
de longe. Quer dizer, quando olhamos para ela estamos a ver a
luz... Dá
4 anos.
Dá 4 anos. Os nossos sinais só vão há 50 anos. O
universo é grande. O Blaise Pascal, o famoso filósofo francês do século
XVII, foi também físico, trabalhou em pressão, aliás, na unidade de pressão
é o Pascal. E matemático, há o triângulo de Pascal, uma série...
Ele até fez uma calculadora, uma calculadora de Pascal, era também teólogo,
ele dizia assusta-me a imensidão dos espaços siderais, assusta-me o vazio, e
ele não fazia ideia nenhuma de quão vazio era o vazio. No
século XVII, estávamos no início, digamos, para ele o vazio eram os
planetas. Lembramos que para lá... E não eram os planetas todos que
hoje conhecemos, não é? O Galileu, quando no século XVII, quando pega
na luneta e vê coisas que nunca ninguém tinha visto. Lá está
os instrumentos a permitir estender o alcance do nosso olho. Ele vê
coisas como montanhas na Lua, nunca ninguém tinha visto. Ele vê coisas
como luas de Júpiter, que não se vê à vista desarmada. Ele,
de algum modo, para ele isso é um indicador que a Terra
não está no centro, porque Jupiter também é o centro de algumas
luas e, portanto, enfim, há o famoso processo de Galileu na Inquisição,
1633, e o Pascal é desse século e, portanto, o conhecimento dele
era apenas até ao sistema solar e uma parte dele, conhecida na
altura. Realizei, assustava-me esse vazio. Agora, quanto não nos há de assustar,
o vazio muito maior, esse vazio de milhões e milhões de luzes,
Qual é o tamanho do nosso vazio? Enfim, o Big Bang foi
há cerca de 14 mil milhões de anos e, portanto, a luz
está a percorrer 14 mil milhões de anos desde o início, desde
que há luz, desde que aquele Fiat Luxe, que não é uma
marca de carros e uma marca de sabedos. É a expressão latina
da biblia. Que se faça longe, é uma expressão logo do início
do gente, e fez-se longe. E o que é que nós vemos?
Vemos que o universo se chama de observável, nós estamos confinados de
algum modo aquilo que
José Maria Pimentel
Já lá vamos, já lá vamos. O que é que acontece? Acontece
que fora disso a gente não sabe, não é? Nós não sabemos
se esse universo é infinito ou infinito. Provavelmente é infinito, eu acho
que é infinito, mas não temos a certeza disso. Mas sabemos que
só vemos uma parte, só vemos, só temos encerrados dentro do horizonte
cosmológico. Portanto, É vazio que nunca mais acaba, porque já o Demócrito
tinha dito, sem saber nada da física moderna, ou da astrofísica moderna,
que tudo é feito de átomos e espaço vazio. E de facto
é verdade, mas os átomos são poucos no espaço vazio, os átomos
são seres solidários. E os átomos e as partes deles, os núcleos,
as partículas dos núcleos, o vazio está polvilhado disso, mas é poeira.
Mas é poeira e cosmos, quer dizer, o universo é vazio, o
universo é vazio. O universo é coisa nenhuma. A questão é que
tipo de matéria, que tipo de energia, uma vez que é isso
que preenche o vazio, que torna o vazio menos vazio, é que
encontramos. E ainda não falámos aqui, já desta aí a dica, de
alguns dos mistérios que podem tornar, digamos, apetecível o futuro dos jovens
físicos, porque eles têm mistérios para resolver, que são ligados por nós,
a atual geração não resolveu, é a obrigação da próxima, tem isso
como herança, quero dizer, Terem algumas dúvidas para resolver é bastante bom
porque têm material para trabalhar e então talvez possa vir a relacionar-se
ou não, não sabemos, com aquela questão de ter uma teoria unificada,
de ter uma teoria que junta a gravidade e a teoria quântica.
José Maria Pimentel
Obrigado. Mas a questão é que nós, pela observação das galáxias, nós
sabemos que há matéria negra, que é uma espécie de um halo,
que é matéria que não dá luz, mas que no entanto está
lá e não fazemos ideia nenhuma do que é. Ou antes, fazemos
as mais variadas ideias e não estamos de acordo sobre isso, não
há concesso. Andamos à procura em minas no fundo da Terra, à
superfície da Terra, em satélites lá em cima. Não sabia que andávamos
à procura na Terra. Com certeza, por todo lado, porque se a
nossa galáxia tem matéria negra como tem as outras todas, isto para
aqui entre nós dois está cheio de matéria negra. A questão é
tetala. E, portanto, aliás, só podemos andar à procura na Terra no
seguinte sentido, à volta da Terra, no nosso canto.
José Maria Pimentel
E a coesão, que dá coesão às galáxias. Porque senão nós não
conseguimos perceber até o próprio movimento de rotação das galáxias, são carrosséis.
A nossa, a Via Láctea, tem um grande buraco negro e nós
pensamos que a maioria delas devem ter também grandes buracos negros no
meio e anda ali um carrossel à volta. O nosso Sol já
deu cerca de 25 voltas ao centro da galáxia, mas há aqui
uma espécie de... Chama-se halo, é um nome, chama-se nuvem, entre aspas.
Qualquer coisa que ajuda à coesão, que explica a rotação até das
galáxias, ajuda a explicar, mas que não se vê, não dá luz.
Podem ser partículas novas e então essas teorias de tudo, chamadas também
teorias de tudo, lembramos do nome do filme sobre a vida do
Stephen Hawking, essas teorias de tudo podem dar novas partículas que seja
a explicação disso ou então pode ser que a teoria de Newton
esteja errada. Newton que significa Einstein, porque Newton é um limite da
teoria da realidade geral de Einstein da gravitação. Que esteja errada, que
haja pequenas... Nós estamos a dizer que existe esta matéria escura, admitindo
que aquilo que sabemos está certo. Isto pode conduzir a falhas na
nossa teoria e então isso temos uma teoria nova que tende a
encaixar, como sempre, a teoria antiga. A dificuldade não é inventar novas
coisas, é inventar novas coisas que encaixem naquelas que nós temos como
bastante seguras.
José Maria Pimentel
matéria são matérias escuras. Black hole, dark matter and dark energy.
E o
que é que acontece? Vou explicar rapidamente a energia escura. É diferente
da matéria negra, é um outro mistério, nós sabemos que são coisas
diferentes. A matéria negra ainda não deu nenhum prémio Nobel. Podia ter
dado às pessoas, há pessoas que de algum modo perceberam que existiam
problemas. Mas houve aqui há alguns anos um prémio Nobel de 2011
para três astrofísicos, Perle, Muta, Schmidt e Risse, duas equipas independentes, que
descobriram a expansão acelerada do Universo. Eles descobriram isso a partir da
observação de supernovas, que é a explosão de estrelas maciças, que nós
sabemos, certo tipo de supernovas sabemos que explodem em certas condições e
sabemos a energia com que explodem, é como se fosse um padrão
de medida para a luz, dá uma certa luz. Aquela explosão corresponde,
é como se fosse uma lâmpada de uma certa potência. É um
flash de uma certa potência. E o que acontece? Com isso não
há um padrão, portanto, não há um padrão de luz, nós podemos
afinar a escala de distâncias. E nós sabemos a velocidade com que
essas estrelas, ou melhor, galáxias, onde elas se situam, através de um
efeito chamado de viewpaw vermelho. Seíamos as velocidades e houve correções relativamente
à imagem que tínhamos da expansão do universo e a correção é
basicamente esta a longas distâncias, a distâncias mais longe, mais perto do
horizonte cósmico, a expansão é mais acelerada, não é, uniforme. Portanto, dá-se
um ritmo maior do que devia dar-se. E a única maneira de
explicar isso é inventar, conceber, uma energia, se quisermos sinónimo de força,
mas que faz o contrário do que faz a gravidade. A gravidade
puxa as coisas. E, portanto, a gravidade devia tornar a expansão do
universo, digamos, retardar a expansão do universo. Não é isso que vemos,
é precisamente o contrário. Portanto, a maneira de explicar isso é pensar
numa força à escala cósmica, a grandes substâncias, a tua melhor, quanto
maior for a distância, que nós chamamos provisoriamente de energia escura. Nós...
Há várias também teorias, mas nem quantitativamente lá vamos, quer dizer, e
aí estamos mais atrasados na matéria negra, porque na matéria negra nós
andamos aqui com os detetores, pomos grandes detetores em vários sítios e
tentamos ver se há novas partículas. No fundo, estamos a ver se
há novas partículas que não são conhecidas de matéria negra. Para a
energia escura o mistério é ainda maior.
José Maria Pimentel
engraçada para ver que mais vezes ideias antigas dos gregos e da
Idade Média se volta a usar. Há quem fale de uma coisa
chamada quinta essência. E portanto é um fluido imponderável que de facto
nós temos de ser humildes, Nós temos de dizer que não fazemos
ideia nenhuma. E isso pode resultar de falhas na nossa compreensão fundamental
do Universo. Se calhar, quando tivermos essa teoria de grande unificação, essa
teoria de tudo, talvez esses dois mistérios, que nos parecem separados, a
matéria escura e a energia escura, talvez venham a ser eliminados e
talvez possam vir a ser unidos e não sabemos, quer dizer, não
sabemos. Normalmente quando há uma grande solução teórica há uma unificação, quer
dizer, há coisas que estavam dispersas, coisas que não sabíamos e que
de repente se... Sempre foi assim. Há coisas que não sabemos e
de repente ao juntar nós percebemos tudo. Fazemos um ahá. Fazemos uma
exclamação. E neste caso resolve vários problemas ao mesmo tempo. E neste
caso resta-nos continuar a pensar, resta-nos continuar a medir. As duas coisas
não são independentes, nós pensamos sobre aquilo que medimos. Mas
José Maria Pimentel
Aí está o problema. Na matéria negra há várias tentativas. Naquele grande
acelerador do CERN, Um projeto grande no qual a Portugal participa. E
que, digamos, e não falámos ainda disso, mas a última grande coisa
foi o Boson Diggs. Depois, apesar de grande funcionamento, ter aumentado a
energia, não há assim... Afinou-se a descoberta do Higgs, percebeu-se melhor o
Higgs, mas não há assim grandes descobertas depois disso, apesar do grande
investimento, do trabalho de muitos físicos, etc. Por outras palavras, não estão
a aparecer ali surpresas. Já se fala de um sucessor do LHC,
é o nome desse lá, o Hadron Collider, grande colisionador de hadrões.
Fala-se do futuro dele, eventualmente da construção de um da China, que
se está a afirmar que uma grande superpotência da construção também de
um grande equipamento desse tipo. Fala-se de um acelerador em versão circular,
linear, eventualmente no Japão. Mas fala-se já de um novo projeto porque
aquele está a ser, ainda pode ser, mais espremido, entre aspas, mas
não está a dar solução para estes problemas da medida. Porquê? Nós
até esperámos que partículas, se existirem de matéria escura, que pudessem ser
produzidas nessas colisões e não estamos a encontrar. Uma das esperanças de
coisas não era... Bem, Partícula X foi prevista, mas há algumas das
partículas que possam explicar a matéria escura e isso não está a
ocorrer. E, portanto, nós temos também de reconhecer que os instrumentos que
estamos a usar e puxados aos limites... E, no entanto, até do
ponto de vista teórico, aquilo que nós chamamos modelo padrão, que é
certas partículas e certas forças, as partículas são basicamente partículas mais pesadas,
são os quarkos, constituintes dos protees e neutróis que estão no núcleo.
E os outros chamamos, partículas leves, do grego leptões, que são os
eletrões e os neutrinos e depois há três variedades cada um, três
famílias, digamos, e depois parece que acaba aí. Mas esse modelo é
altamente insatisfatório, porque olha, a gravidade está de fora, Isso é José.
E depois há coisas demais, quer dizer, há
José Maria Pimentel
A beleza pode e deve ser um critério de verdade. Para Einstein
era. A tal harmonia do mundo, ele procurava aquilo que é belo.
E há vários matemáticos e físicos que disseram, prefiro ter beleza nas
minhas equações do que tê-las de acordo com a experiência. Porque a
experiência pode ter alguma falha, pode haver efeitos que perturbam alguma beleza
fundamental que lá esteja presente, mas na matemática nós gostamos que ela
seja a expressão da estética, que seja de algum modo a expressão
da perfeição E isso é muito nítido na física. Quando, sei lá,
o Paul Dirac, um dos físicos da tria quântica, dos anos 20
e tal, do século passado, quando ele faz uma descrição em que
une a tria quântica e a relatividade restrita, a tria quântica relativista,
e faz uma equação matemática em que está lá, simples, uma equação
para o eletrão, em que é quântico e é relativista, e ele
descobre nessa equação, que ele é bonito primeiro, quer dizer, que ele
é feito com base em simetrias. Eu tenho pena de não poder
mostrar aqui no tempo limitado o meu podcast, nem tenho aqui um
quadro negro. Ele é mesmo bonito, acreditem em mim. Vale a pena
uma pessoa ficar piada ao ver a beleza daquilo. Mas ele, daquela
beleza, tira duas coisas, duas coisas que ninguém sabia. Uma é a
existência da antimatéria. Até pensava que duas partículas que ali existia, que
era o protão e o elé... Não, era o eletrão e o
anti-eletrão. Anti-eletrão, opositrão, tudo igual ao eletrão, mas com um caracol. Era
uma consequência de teoria. As simetrias conduziam à existência da antimatéria. Hoje
José Maria Pimentel
eu não me meti por aí, eu não me meti por aí,
porque isso está mais para outro lado, quer dizer, há quem diga
que os buracos negros são uma espécie de pontes para outros universos,
multiversos, e essas teorias de tudo, essas teorias, modelos de tiras de
cordas, etc, Estão muito a ir para o lado de multiversos, quer
dizer, universos de algum modo paralelos, mas sem comunicação com o nosso,
porque há alguma impossibilidade de comunicação. Eu acho que isso é multiplicar,
é não usar aquele que se chamava na idade média na valha
de Alcã, que é, se uma coisa pode ser simples, não a
vamos complicar. Porque nós não temos razão nenhuma, digamos, prática para... Porque
estamos a falar de coisas, a física tem de falar de coisas
que se medem, que se observam, que se experimentam. E esses universos
são puramente imaginários no sentido em que... Não quer dizer que não
sejam um exercício útil para a mente, mas não... Também é o
meu ponto de vista pessoal, há outros físicos que podem pensar que
aquilo é muito apelativo, mas não é uma coisa comecedora pensar em
outros mundos com os quais nunca poderemos comunicar e portanto
José Maria Pimentel
eles falam de muitos universos paralelos com leis de física diferentes das
nossas. Com constantes de física diferentes das nossas. Isto significa que o
nosso universo de algum modo é radicalmente único e há uma infinitude
de uma espécie de espuma de outros universos em que as leis
de física são diferentes, em que as coisas acontecem de maneira diferente.
Há quem relaciona isso até com aquela coteria quântica dizendo coisas que
não acontecem neste universo acontecem nos outros, etc. Mas é tudo especulação.
Isso é tudo especulação. Uma coisa é a diferença. Nós temos uma
segurança, não digo certeza, nós não podemos usar a palavra certeza de
um modo categórico, Mas temos uma segurança que as leis da física
são universais no nosso universo, que é o único que conhecemos. Nós
não sabemos que leis é que estão noutros eventuais universos, nem sequer
sabemos se existem. Portanto, é nesse sentido que não é bem a
mesma coisa falar de coisas. Nós lemos partes supernovas há milhões de
anos e sabemos explicar, sabemos que temos lá uma capacidade. Não digo
de previsão exatamente quando vai explodir, mas de saber que vai explodir,
por exemplo. Saber que vai explodir. Por exemplo, no Orion, que há
uma estrela grande, uma supergigante vermelha, está a ver como fica, que
é a Betelgeuse, nós sabemos que mais milhão de anos, menos milhão
de anos, quer dizer, se calhar já depois do Sporting ganhar o
campeonato, vai perder-se uma metáfora futebolística que aquilo vai fazer ali uma
super nova.
Carlos Fiolhais
Mas, Carlos, fazendo aqui o... Não estava à espera de ir para
esse tema, mas fazendo aqui um bocadinho a advogada do Diabo, ou
defensor dessa tese dos multiverso, eu acho que o que os defensores
dessa teste, tal como da teoria das cordas dirão, é que ela,
embora seja muito difícil de medir, não ocorre sequer de nenhuma forma,
mas também não, estou muito longe de perceber disso, pode justamente explicar
as causas últimas de vários dos fenómenos que nós não conseguimos perceber,
ou seja, atualmente nós já conseguimos prever várias coisas, mas não sabemos
porquê que as constantes do universo são aquelas que são. Não sabemos
lá está porquê que há mais matéria e menos antimatéria, porquê que
o... Não, não sabemos. Porquê que os fenómenos quânticos são daquela forma,
quer dizer,
José Maria Pimentel
não... Não sabemos, mas também, vamos lá ver, a Física não tem
que saber as causas das causas das causas, quer dizer, vamos lá
ver, física não é metafísica. E são coisas separadas. Vamos separar aquilo
que é física do que é filosofia. Eu não quero dizer que
os físicos não façam coisas. Os físicos são muito bons a fazer
outras coisas. Meteram-se já na Biologia, metem-se na Filosofia e eu não
tenho nada contra as ocupações mentais, seja dos físicos, seja de qualquer
outra profissão e são mentes férteis, mentes brilhantes, podem imaginar mundos, etc.
Mas a física tem uma... A questão também... Há uma questão da
filosofia, a questão da limitação das ciências. A limitação das disciplinas. Nem
tudo tem que ser uma ciência, não é? A filosofia, não direi
que é uma ciência, é um ramo do conhecimento, mas não é.
Não há uma ciência até porque está de fora das ciências, porque
pode examinar as ciências. É
José Maria Pimentel
Ou para outras coisas. Podem dar o prémio Nobel, mas por coisas
mais palpáveis. Mais palpáveis porque tem de haver uma ligação à realidade,
tem de ter os pés na terra. E eu direi para... Deixem
cá ver, se eu dou um argumento. O nosso universo já tem
tantos mistérios, tem tanta coisa que nós não sabemos, e para esses
meta-meta-mistérios, que é coisas que não sabemos, nem nunca saberemos, pois não
é? Coisas que sabemos e vamos saber, temos alguma confiança. Sim, isso
é verdade. Há coisas que não sabemos E eles dizem logo à
partida que nunca vão perceber. Vamos lá ver, a mente humana vai
para onde for. Mas acho que aproxima-se mais, não sei se de
especulação literária, que é interessante, que é muito interessante. Esses mundos paralelos
já foi aproveitado na ficção científica.
José Maria Pimentel
Eu acho muito difícil, há uma história, que é a história da
razão dourada, que há muita gente tendo a ver, ao longo dos
anos, a história é muito antiga, tendo a ver nos templos gregos,
até nos pirâmides do Egito, depois nos quadros do Renascimento, por exemplo,
no Leonardo da Vinci, tende a haver uma medida, um número mágico.
Ou no Código da Vinci aparece essa história. Há uma certa... Misticismo
em que a matemática, de algum modo, poderia dar a medida certa.
Por exemplo, o chamado retângulo dourado, que é um retângulo cujas proporções
estão na razão dourada, que é um certo número irracional, é a
solução de uma certa equação, e que se constrói geometricamente bastante bem,
esse retângulo dourado. Ou então aparece também nos pentagramas, nos pentágonos aparece
aquilo, são triângulos dourados, aquilo que lá estão. Um dos arquitetos mais
conhecidos do século XX é o suíço Le Corbusier, que pertenceu à
equipa que construiu a sede das Nações Unidas, onde está agora o
António Guterres, em Nova Iorque. E ele foi a Nova Iorque e
ele trabalhava muito nessas questões da razão dourada. Ele era um pouco
místico. Em Portugal também há alguns exemplos. O Almazer Negreiros, vejam, por
exemplo, o painel que está no atrio da Fundação Gulbenkian. E muitos
trabalhos geométricos. Ele sempre perseguiu essa questão da geometria, com alguns equívocos,
etc., mas foi atrás desse tema. E o Le Corbusier tem um
livro chamado Le Modulor, que é sobre isso, sobre a aplicação da
razão dourada na arte, na arquitetura, etc. E foi tentar transmitir as
suas ideias ao Einstein. E o Einstein respondeu-lhe assim, e a resposta
acho que é muito sábia. Diz-lhe assim, o senhor está à procura
de uma equação que torne o belo fácil e o feio difícil.
Era isso, parece-me um pouco difícil. Por outras palavras, para Einstein, e
eu se calhar partilho esta ideia, o belo é que é o
difícil. E não é o fácil.
José Maria Pimentel
Não, ao contrário. Ah, a energia escura, sim. Eu pensei que é
a matéria escura que eu disseste. A energia escura, sim. De algum
modo, muitas pessoas veem... A matéria escura não entra aí, mas a
energia escura associam a uma, digamos, a uma constante que o Einstein
introduziu nas suas equações chamada constante cosmológica. O que é isso? Ele
a certa altura, durante a primeira parte da sua construção do entendimento
do mundo, ele pensou que o Universo era estático, mas as suas
equações davam-lhe soluções dinâmicas do Universo em movimento, o Universo em expansão,
em grande escala, em escala total. E então, ele, levado pelos seus
preconceitos, introduziu à mão um termo que parava a expansão do universo.
Então agora está equilibrado, é um termo que... Ah, eu se tenho
a dinâmica, mas eu ponho aqui... Ele chegou a dizer que isso
foi
O maior
disparate da minha vida. Mas mesmo os maiores... Enfim, os maiores disparates
cometidos pelos maiores cientistas não são disparates. E o que acontece é
que essa expressão constante dos maiores foi recuperada recentemente no quadro precisamente
não da matéria escura, foi aquilo que eu julgava ter ouvido, mas
da energia escura. A questão é que há um desajusto, há um
desajusto muito grande, quantitativo mesmo, quer dizer, é preciso... É uma questão,
digamos, da ordem de grandeza. Como é que nós vamos explicar... Aquela...
Essa constante cosmológica tem de ter um fundamento e o fundamento seria
uma espécie de energia de ponto zero, quântica, etc. Mas nós não
conseguimos quantitativamente fazer a relação. Portanto, há uma relação, sim, do ponto
de vista quantitativo nós não sabemos estabelecê-la em base firme. E, portanto,
nós não sabemos uma previsão quantitativa com base... Cá está, trata-se de
juntar gravidade e tiria quântica. A diferença parece enorme. Parece-nos dois mundos
completamente diferentes. E, no entanto, estão no mesmo mundo. No entanto, estão
no mesmo mundo. Deixem-me fazer aqui uma apologia do Einstein. Ele de
facto não era um observador, quer dizer, ao contrário do Kepler, por
exemplo, que observou, do Galileu que observou, ele não Olhava para o
céu. Tinha o céu dentro da cabeça, dá-me um modo. Tinha o
universo dentro da cabeça. Por isso que aquilo simboliza a capacidade humana
de nós fazermos representações do mundo. Simboliza ao mais alto grau, não
é? O Roland Bach tem um livro chamado Mitologias, em que uma
das mitologias é o cérebro de Einstein. Simboliza, digamos, a nossa capacidade
de compreender o mundo, e o Einstein conseguia fazer experiências mentais. Em
alemão, Gedanke nächste Perramente. O que é isso? Experimenta a experiência, percebe-se
logo, gedanke significa de pensamento, experiências de pensamento. Portanto, ele tinha essa
capacidade de de efabulação, de imaginação, saber como era o mundo, por
exemplo, da Tireira da Realidade Geral, ele imaginou que estava lá um
dia sentado na sua repartição de patentes, como eu estou sentado agora,
o que aconteceria se houvesse um alçapão e eu começasse a cair?
A cadeira sentiria o meu peso, mas a cadeira está a cair.
Eu estou a cair com a cadeira, portanto, eu relativamente à cadeira
não há peso nenhum. Portanto, estamos os dois em cada libra. Ou
o que é que, antes disso, ele pensou assim, o que é
que eu veria se fosse à velocidade de um fóton? Se fosse
à velocidade da luz? E são coisas que parecem até atitudes infantis,
não é? O que é que conseguir-se? O que é que conseguir-se?
Mas é isso que lhe permitiu de algum modo imaginar o mundo.
Agora, a grande conclusão é que ele teve a capacidade de imaginar
o mundo tal como ele é. Nós podemos imaginar o mundo e
depois falhar a correspondência com a realidade. Aqueles fulanos dos universos protoss
nem sequer tentam a correspondência com a realidade porque não podem. Mas
o Einstein conseguiu isso. Há uma anedota engraçadíssima, não sei se é
real ou não. Eu não me adivinhava nada que fosse real. Fica
como exercício aos nossos ouvintes averiguar se esta anedota é real ou
não. Estava a visitar nos Estados Unidos com a sua mulher, a
segunda, Elsa Einstein, que era prima dele. Estava a visitar o maior
observatório astronómico, o Mount Wilson, nos Estados Unidos, onde o Hubble fez
as suas observações da expansão do Universo. E a certa altura perguntou
à mulher de Einstein, que não sabia nada de Física, ou sabia
muito pouco de Física, sabia só, enfim, para alguma conversa lá em
casa. Não tinha formação nessa área. Ao contrário da primeira mulher de
Anderson, tinha sido seu colega na Universidade, na escola Filipe Tecna de
Zurique. Perguntou ao diretor, muito orgulhoso, o diretor do observatório, Então, mas
explica-me lá, para que é que isto serve tudo? Isto parece tudo
muito caro, porque é que se... Ah, é... Aqui descobrimos os segredos
do universo, disse-lhe muito orgulhoso o diretor. E ela respondeu, tem piada.
O meu marido também faz isso, mas é nas costas do envelope.
E portanto... E portanto é... Estava a referir-se à capacidade teórica. E
portanto, isto passou-se na costa oeste dos Estados Unidos. E há outra
história curiosa do Einstein com o Charlie Chaplin, em que estavam numa
estreia de um filme e eles estão muito bem vestidos para a
estreia e passaram na rua e as pessoas aplaudiram os dois porque
conheceram os dois, o Einstein já era famoso, o Charlie Chaplin era
famosíssimo e o Einstein comentou é estranho, assim aplaudem porque o compreendem
bem. E a mim aplaudem porque não me compreendem.
José Maria Pimentel
algum tempo, não foi logo, mas se a teoria da relatividade prevê
uma deformação do espaço-tempo, nós podemos pensar em deformações extremas, aquilo que
se chama singularidades.
E
o buraco negro é isso. Do ponto de vista matemática é o
sítio onde o espaço e o tempo acabam. É o sítio onde
está a manter a energia de algum modo infinita e o espaço
e o tempo colapsam. Há um horizonte também à volta, que é
o tal como o horizonte para o universo todo, o horizonte de
Cusbó, está ali um horizonte chamado Horizonte de Schwarzschild, o nome do
matemático é alemão, que significa que, uma vez lá dentro, já não
volta para dentro. Há um ponto de não retorno. Esta ideia dos
buracos negros demorou algum tempo a impor-se. A palavra também é muito
interessante, a origem da palavra, foi um físico, John Wheeler, que foi
supervisor até do Richard Feynman, mas parece que a palavra era anterior
a isso. Enfim, estou-me a lembrar que até o Stephen Hawking chegou
a fazer apostas em que ele apostou que não existiam buracos negros
e que... Ah, sim? Sim, ele gostava de apostar também para provocar
outros. Os físicos são muito brincalhões. O Feynman era muito brincalhão, o
Hawking era muito brincalhão. Sim, o Feynman até tem um livro... A
aposta pequena era a assinatura da Playboy. Apostou com... Acho que até
foi com o Kip Thorne e depois a certa altura provou-se, mostrou-se
que havia o Buraco
José Maria Pimentel
Há vários tipos de buracos negros. Os buracos negros mais pequenos são
assim. Os buracos negros, por exemplo, que estão no centro da nossa
galáxia, são milhões e milhões de estrelas, o que significa nós nem
sabemos bem se foram estrelas que depois colapsaram juntas ou se foi
a própria matéria que foi atraindo matéria e que nunca chegou a
ser estrela de alguma forma. Ah, ok. E portanto há várias tipos,
portanto há escalas muito diferentes de buracos negros. Aqueles buracos negros mais
pequenos são de facto estrelas. O que é uma estrela como, sei
lá, como eu falei daquela de Petaljéz, que é uma supergigante vermelha,
a certa altura explode e lançando fora a supernova é isso. O
Kepler chegou a observar, é muito raro, mas chegou a observar uma
gigante vermelha no seu tempo. Pensa que uma supernova no seu tempo.
E gigantes vermelhos nós observamos, Olhem para o Oriente, vejam uma mais
avermelhada, que é essa. Vê-se bem porque é muito grande e tem
essa cor vermelha. E o que é que acontece? O envolto vai
para fora e fica lá dentro, eventualmente, uma de duas coisas. Ou
uma chamada estrela de neutrões. O que é uma estrela de neutrões?
É uma espécie de núcleo atómico gigantesco, os núcleos atómicos são muito
pequeninos, mas têm proteínas e neutrões. Aquilo é como uma nucleotide, portanto,
uma matéria extremamente pesada, extremamente tensa, mas tem muito mais neutrões do
que proteínas e, portanto, basicamente é neutro. E esse é um objeto
muito, muito, muito pesado. Estão a ver um objeto de 20 ou
30 quilómetros de raio, mas que tem, digamos, mais que a massa
do Sol. E, de facto, é uma coisa extremamente... O Sol é
muito maior que a Terra, portanto, é uma densidade brutal, a densidade
da matéria nuclear. Mas é aguentado pela gravidade esse objeto. Portanto, é
um objeto muito pesado, mas aguentado pela gravidade. E é muito curioso
como é que... Enfim, é também a teoria quântica que permite-se perceber
a estabilidade desses objetos. Mas pode acontecer que essa estabilidade não se
verifique. Então, quando não é estável o objeto, quando há um colapso
gravitacional total, temos o buraco negro. E são esses buracos negros que
sabemos que existem. Primeiro por meios indiretos, eu vou dizer um meio
indireto. E a discussão no tempo do Hawking era essa. A matéria
da aposta. Havia uma certa estrela, uma certa constelação. As estrelas geralmente
são binárias. Na maior parte das estrelas, somente o nosso Sol é
uma exceção. Ainda bem, porque se a nossa estrela fosse dupla, outras
eram Júpiter, que fosse maior, e então não havia estabilidade, sei lá,
até para o aparecimento da vida na Terra, que é muito importante
haver estabilidade. Aliás, se calhar a própria Terra não teria tempo suficiente
para o aparecimento de vida porque cairia sobre uma das estrelas. As
árvores são instáveis quando temos um problema de dois corpos. E o
que é que acontece? Via-se uma estrela, a outra não se via,
mas observava-se através de raios X um sugadouro de matéria de uma
das estrelas para a outra. E só que significava que havia ali
um centro de atração muito poderoso. Invisível. Ou só visível indiretamente. E
a discussão do Hawking com era muito essa, com o Thorne era
muito essa, fizeram uma aposta. Mas às vezes os físicos também gostam
de apostar em coisas que não acreditam plenamente, porque ganham de duas
maneiras. O Hawking, deixa-me explicar a história do Hawking. O Hawking trabalhou
toda a sua vida em buracos negros. E ele, tentando casar a
tal história da relatividade com a teoria quântica, propôs, embora isto nunca
foi medido e nunca foi observado e ele, portanto, nunca ganhou o
Prémio Nobel, porque não há uma base firme para isso, mas talvez
pudesse ter ganho. Mas A questão é, ele propôs que os buracos
negros afinal não eram negros, que nas bordas do buraco negro-campo é
tão intenso que havia efeitos de criação, matéria-antimatéria, criação de
José Maria Pimentel
Sim, e depende agora do tamanho. Depende agora do tamanho. Se forem
grandes é muito lentamente, se forem pequenos, muito rapidamente. E, portanto, nós
até esperamos, sei lá, até está a mini buracos negros. Alguns podem
ter vindo do Big Bang. Houve até, na altura em que se
abriu o colisionador, o LHC, houve alguns cidadãos que sabiam um pouco
de ciência, mas que puseram em tribunal uma providência cautelar, porque pensavam
que aqueles colisões podiam produzir mini-buracos negros e um mini-buraco negro podia
crescer, engolindo a Terra e fazendo um apocalipse, o final era o
fim do mundo. E depois os juízes, felizmente, chamaram os físicos e
os físicos explicaram que as energias que ali estavam em causa eram
energias do mesmo tipo que alguns raios cósmicos, que são partículas e
radiações de partículas muitas vezes vindas dessas pernovas. Um chuveiro cósmico bate
nas altas camadas da atmosfera e a intensidade é tanta como aquela
que se ia reproduzir na Terra, o que significa que se pudessem
formar buracos negros já tinham acontecido naturalmente e nós já cá não
estávamos para ver. E o juiz não deu seguimento à providência cautelar.
Há buracos negros em princípio de todos os tamanhos e evaporam com
velocidades diferentes conforme os tamanhos. E ele estudou isso e era um
indivíduo muito, muito capaz, apesar de fisicamente ter a incapacidade que todos
nós conhecemos, e ele teve uma atração mediática extraordinária. Foi, digamos, um
dos maiores comunicadores de ciência, precisamente a pessoa que mais dificuldade tinha
em comunicar de viva a voz, nem voz tinha. O que mostra,
digamos, a possibilidade que temos de superar as nossas limitações.
Sim, sim,
sim. Alguém que não pode falar é a pessoa mais escutada. É
o símbolo também de um cérebro que está contido dentro de um
corpo, em que é prisioneiro do seu corpo, mas um cérebro que
consegue fugir daquela prisão e consegue, com a ajuda da empatia, naturalmente
cria o facto de ele estar preso, e nós, enfim, nós tínhamos
uma simpatia enorme. Vimos todos aquele filme da... Diria tudo, em que
de facto é a história de amor do Stephen Hawking. E porquê
que ele tinha essa atração pelos bracos negros? E porquê
José Maria Pimentel
E algumas estão muito distantes, estão há muito tempo e, portanto, são
mais contemporâneas do Big Bang. São os quasares, que também são objetos
misteriosos, são os objetos mais distantes que conhecemos, mas que são núcleos
ativos de galáxias e portanto, eventualmente, buracos de supermassif, há um grande
mistério sobre isso. Mas nós não temos neste momento teoria alternativa ao
Big Bang. Não Sabemos o que é que foi, é o início
de tudo e os primeiros instantes estão em grande mistério.
José Maria Pimentel
podemos... A data está relativamente fixa, 14 mil milhões de anos, enfim,
mais coisa menos coisa, mas a incerteza é relativamente pequena. Mas nós,
por exemplo, não podemos dizer, não sabemos mesmo quase nada sobre o
início. Nós não podemos dizer, por exemplo, que não houve nada anterior.
Por exemplo, um dos recipientes do Prémio Nobel da Física deste ano
é Roger Penrose, um físico teórico britânico, que até defende, é uma
mente, enfim, inquieta, que gosta de imaginar
José Maria Pimentel
Exatamente. E o Roger Penrose, o Prémio Nova foi atribuído a duas
pessoas, metade para o Roger Penrose, que é um teórico, e portanto
dá o modo, o Stephen Hawking também podia ter recebido, porque também
é um teórico, e eles têm vários artigos em conjunto, e portanto,
trabalhavam os dois em buracos negros, embora o Roger Penrose fosse muito
mais eclético. Está vivo, felizmente, e recebeu o Prémio Nobel pela sua
descoberta da... A formação do buraco negro tinha uma base segura na
Teoria da Realidade Geral. Por outras palavras, ele faz um teorema que
permite a justificação do aparecimento de buracos negros. Coloca o buraco negro
em base sólida. Exato. O buraco negro já tinha, no Prémio Nobel
2017, já tinha sido certificado através das ondas gravitacionais, mas agora era
a base teórica ligando, digamos, mais diretamente o Einstein. E a outra
metade foi para dois astrónomos, um alemão, Reinhard Ginzel, e uma americana.
Elas estão, as mulheres, a aparecer, e estão a aparecer em várias,
em força, em vários Nobel, na literatura. Já havia, enfim, já, na
literatura não era tanta, O júri não era tão machista como por
vezes nos ramos da ciência, mas apareceu uma senhora, Andréa Gué, que
é simplesmente a quarta mulher a ganhar o Prêmio de Aula da
Física, que é muito pouco, muito pouco. A Madame Curie foi uma
delas, a Bova Maria Maier e as outras duas são muito recentes.
Portanto, é incrível como é que as mulheres têm, digamos, um trabalho
tão pouco retribuído. E na astrofísica há muitas e brilhantes mulheres. E
então, Rainer Gensel e Andréa Guedes descobriram esse objeto compacto, super maciço,
que se acha muito bem, que está no centro da nossa galáxia.
Como é que eles descobriram, digamos, a massa desse objeto? Para já
é muito difícil ver esse objeto, porque o disco da nossa galáxia
é relativamente plano e há muitas estrelas entre nós. Nós estamos a
dois terços do caminho para a periferia. Aquilo tem os braços e
há muitas estrelas entre nós e o centro. Portanto, o caminho de
visibilidade está muito tapado. Mas eles conseguiram seguir estrelas que estão muito
perto do centro, que andam muito rápido, que andam muito rápido, são
coisas muito difíceis de observar e eles, pela velocidade dessas estrelas, conseguiram
saber a massa que estava lá, que era o centro da atração.
E é extraordinário porque isso é um trabalho muito meticuloso, um trabalho
muito cuidadoso e, portanto, o buraco negro da nossa galáxia ainda não
foi fotografado. Há dificuldades, mas também há tentativas, mas já foi fotografado
um buraco negro que foi com radiotelescópios. E aquela fotografia que vemos
de um buraco negro que apareceu há um ano até, não foi
há muito tempo, Não é uma fotografia no sentido convencional. Portanto, não
é fazer assim no botão. Para já não é luz visível. Segundo,
é uma exposição longa.
José Maria Pimentel
fotografia. Sim, sim, sim. E portanto, começamos a ver os buracos negros,
é que é uma espécie de paradoxo, não é? Mas vemos o
escuro e vemos o que
está à volta.
Vemos o que está à volta, não é? Vemos ali, De algum
modo, vemos ali as fronteiras do conhecido e eu acho que os
buracos negros são... O nome também é bom, não é? Os físicos
são os mais publicitários. O nome é mais galhado, sim. Alguns físicos...
Exatamente. Alguns físicos podiam ir para a publicidade, podiam ir para as
agências publicitárias. O Einstein, que é a palavra de Deus, sabe? Deus
não joga aos dados. Quer dizer que o mundo, se calhar, não
é quântico, não é por probabilidades. É uma frase publicitária de grande
efeito. Deus é subtil, mas não é malicioso. Quer dizer que as
leis da natureza são complicadas, mas no entanto não são inacessíveis. E,
portanto, sobre o Roger Penrose, então eu tenho uma grande admiração por
este físico, é um físico teórico, eu sou também físico teórico, porque
ele não apenas trabalhou em Relatividade Geral, ganhou o Prémio Nobel por
causa de teoremas que ele tem sobre buracos negros, mas ele trabalhou
noutros ramos da física. Ele trabalhou, por exemplo, até numa coisa que
tem a ver com estética, falamos da relação entre arte e estética.
Trabalhou em pavimentações, mosaicos, portanto, coisas que têm a ver com pavimentações
não periódicas, quase cristais. Também já deu um prémio Nobel. Os quase
cristais são cobrir o espaço todo, mas não de uma forma absolutamente
periódica. E ele é muito motivado por aquelas figuras de pavimentações do
Escher, um grande artista holandês que faz gravuras fantásticas em que, por
um lado, há uma divisão do espaço, mas essa divisão não é
feita de uma maneira repetitiva, é feita com variações. E o Roger
Penrose, há os cristais de Penrose. E não apenas isso. Eu lembro
que ele a certa altura propôs coisas que são, de algum modo,
provocações. Não há certeza. Nem é acompanhado pelo mérito das pessoas, mas
ele acha que meteu-se na questão do cérebro, do funcionamento do cérebro,
está a tal última fronteira, com a qual vamos explicar a consciência.
O eu, o que é isso do eu? E ele meteu-se, disse
que havia fenómenos quânticos. Claro que a gente sabe que há fenómenos
quânticos, porque a química é quântica, quer dizer, só as leis da
física quântica é que permitem explicar a ligação química. E os neurónios
que estão no nosso cérebro, nós vemos que são células e as
células há a maquinaria fisico-química. Mas ele diz que do ponto de
vista fisiológico havia sítios em que se passavam fenómenos a uma escala
microscópica, portanto fenómenos quânticos, que estariam na base. Foi acompanhado... Na consciência.
Exatamente, por um outro, um autórido de base médica, que fez com
eles. Mas esses artigos foram muito contestados. Mas, de algum modo, desafiaram
pessoas para perceber o que é inteligência. Será que há qualquer coisa
de estranho na inteligência? Eu
José Maria Pimentel
Eu acho que não. É mais especulativo. Sim, mas não era bem
isso. Era um mecanismo dentro da base neuronal, mas que havia de
algum modo um fenómeno que não era tipo convencional para explicar a
capacidade que o cérebro, não só humano, o cérebro de outros animais
também, porque há um contínuo, tem. Eu tenho aqui até, eu recomendo
dois livros do Roger Penrose, aliás ele tem vários em português, alguns
são mais difíceis de perceber, mas é uma mente de facto brilhante,
é uma mente que se preocupa com várias coisas, ainda está felizmente
viva e ativa e vai além das soluções convencionais. Ele pode estar
errado, mas ousa estar errado. Isso é muito importante. Especular. Quer dizer,
há um bocado eu critiquei um bocadinho aqueles universos paralelos, mas eu
acho que é útil as pessoas pensarem fora da caixa. Neste caso
é fora do universo. É completamente fora da caixa. E tenho aqui
dois livros da coleção Ciência Aberta da Gradiva, que tenho o gosto
de dirigir, que já tem algum tempo, mas que são especulações do
Roger Penrose. Um, Ciclos de Tempo, uma visão nova e extraordinária do
Universo, que é um livro em que ele fala do tempo cíclico,
quer dizer, da possibilidade de ter havido um tempo anterior ao Big
Bang, portanto ter havido um universo antes do Big Bang e ter
havido ali, de algum modo, um túnel entre o universo anterior e
o nosso universo. Claro que a informação do universo anterior terá toda
apagada.
José Maria Pimentel
Exatamente. Seria uma espécie do universo paralelo anterior. Não podemos dizer muito
sobre isso, mas a ideia é sedutora, porque nós temos a questão
do finito e do infinito. Quando temos a teoria do Big Bang,
dizemos que o universo é semi-eterno, quer dizer, é eterno para a
frente e não existia para trás. E o espaço e o tempo
surgiam ao mesmo tempo. E é essa ideia que é o que
encontramos no mundo, o mundo é como é, não fomos nós que
o fizemos, mas para muita gente é insatisfazória, gostavam de ter algo
infinito. Infinito para os dois lados, eterno para os dois lados, verdadeiramente
eterno. E ele vai por
José Maria Pimentel
o nosso universo é um mundo novo que vem do mundo antigo.
Hum. Por outras palavras, é uma novidade, é uma novidade. E se
calhar isso dá-nos a possibilidade de universos bebés infinitos virem a nascer
deste universo e eventualmente outros não sabemos em que circunstância. E ele
discute esta questão, fornece aqui algumas, está ali cerçado, até tem um
apêndice matemático para assustar quem quiser ser assustado com as equações. Mas
o resto, a primeira parte lê-se bem e é muito interessante, quem
não souber a letra vê a música, porque há aqui uma música
da procura do mais além. E há um outro, então, este é
o 124 da Coleção de Ciência Aberta, em que ele é um
diálogo, não apenas dele, mas com filósofos da mente, a questão do
que é a mente humana. Há também um texto aqui do Stephen
Hawking, em que ele fala de mistérios de física quântica, mas também
é física e a mente. Nancy Cartwright, a Abner Shimoni. O Shimoni
é professor de Filosofia e Física, a Universidade de Boston, nas duas
coisas, Filosofia e Física. Nancy Cartwright é professor de Filosofia Lógica e
Médio Científico no Estudo de Economia e Ciência Política de Londres. No
Estudo de Economia e Ciência Política também tem uma professora de Filosofia
Lógica e Médio Científica. E a questão aqui é muito interessante, é
falar dos grandes mistérios do mundo e falar se calhar, talvez seja
esse mesmo o maior mistério de todos, talvez seja esse. Quem somos
nós? Já estava escrito no templo de Apolo em Delfos. Conheces-te a
ti mesmo. Quem somos nós? Nós vivemos neste mundo grande, está começado
pelo Big Bang, cheio de espaço vazio, com matéria negra, matéria escura,
energia escura. Somos nós que compreendemos o universo, até ver, não há
mais ninguém que o possa fazer, mas o nosso cérebro é uma
parte do universo. E deve ser, portanto, uma parte do nosso objeto
de conhecimento. Deve ser objeto do nosso conhecimento. Mas aqui há também
um paradoxo, quer dizer, há aqui uma autoação, nós estamos a olhar
para dentro. Com todos os problemas que daí vêm. Com todos os
problemas que daí vêm. Porque ninguém é bom observador de si próprio.
Mas há várias maneiras de ver o interior de nós. Começamos por
usar, sei lá, a própria filosofia. Penso, logo existo. A introspeção, a
literatura. É muito interessante as coisas que se pode ler. O Marcel
Proust, até podemos quase dizer que o Marcel Proust não era o
cientista. Há um livro com esse título, porquê? Porque ele, para saber
os mecanismos da memória, leia-se o Marcel Proust. Mas depois há as
imagens. É o do Holland Button, não é? Não, é outro. É
José Maria Pimentel
qual é o título. O que acontece é que temos também imagens
hoje, aqueles métodos de ressonância magnética dinâmica, MRI, fMRI funcional, ver o
cérebro. E nós hoje sabemos, sei lá, associar certos pensamentos a funcionamentar
este cérebro. Quase pela observação sabemos o que a pessoa está a
pensar, quase que podemos ler, ou podemos mesmo ler o interior dos
nossos pensamentos. Isso pode ser uma coisa perigosa também. E por último,
esta questão da inteligência artificial, estamos a construir modelos que de algum
modo adquirem capacidade do nosso cérebro. O que é que o nosso
cérebro faz? O nosso cérebro consegue fazer modelos da realidade, consegue adaptar,
consegue aprender e a questão é, os nossos máquinas de algum modo
aprendem. A Inteligência Artificial é isso, a Inteligência Artificial é a capacidade
de aprendizagem. Foram muito modelados pelos neurônios, ainda hoje se usam redes
neuronais, por outras palavras, em muitos casos não apenas, mas em muitos
casos é modelado pelo nosso cérebro, O nosso cérebro é a inspiração
a novas máquinas. Será o cérebro é uma máquina? É uma máquina
muito especial. É uma máquina capaz de coisas assombrosas. É uma máquina
que, neste momento, é muito mais capaz de todas as máquinas que
esta nossa máquina fez. E, portanto, é uma máquina que não para
de nos surpreender a nós próprios, apesar de nós sermos donos, em
traspas, dela. Há uma Poetisa americana, poeta ou poetisa, muito conhecida, um
grande personagem da literatura, Emily Dickinson, que tem um verso que é
sobre o cérebro e o céu. Ela, Emily Dickinson, disse só, o
cérebro é mais amplo do que o céu, pois, colocá-los lado a
lado, um ou outro irá conter facilmente e a voz também. Isto
é uma coisa extraordinária, porque diz que o infinito do cosmos está
dentro de nós. O nosso cérebro é tão infinito como o cosmos
do qual ele faz parte.
Carlos Fiolhais
gosto. Este episódio foi editado por Martim Cunha Rio. Visitem o site
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através do Patreon ou diretamente, bem como os vários benefícios associados a
cada modalidade de apoio. Se não puderem apoiar financeiramente, podem sempre contribuir
para a continuidade do 45 Graus avaliando-o nas principais plataformas de podcasts
e divulgando-o entre amigos e familiares. O 45 Horaos é um projeto
tornado possível pela comunidade de mecenas que o apoia e cujos nomes
encontram na descrição deste episódio. Agradeço em particular a Paulo Peralta, João
Baltazar, Tiago Leite, Carlos Martins, Joana Faria Alves, a família Galaró, Corto
Lemos, Margarida Varela, Gustavo, Gonçalo Monteiro, Felipe Caires, Miguel Marques, Nuno Costa,
Nuno Pinheiro, Francisco Armando Gildo, Mário Lourenço, João Ribeiro e Miguel Vassal.
Até no próximo episódio.