#8 Pedro Janela - Marketing, Negócios, Tecnologia
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Bem
José Maria Pimentel
vindos ao 45°. Neste episódio estou a conversa com Pedro Janela. Pedro
Janela é CEO do iGroup, que é o maior grupo de capitais
nacionais dedicado ao marketing digital e, entre várias outras ocupações, é também
docente na formação de executivos da Católica Lisbon. Para além da experiência
em negócios e marketing, Pedro Janela tem formação de base em Engenharia
Electrotecnica, o que lhe dá uma perspectiva singular sobre a evolução tecnológica
e, sobretudo, a sua aplicação ao marketing. Durante a conversa, que foi
muito animada, falámos destes temas, tecnologia e inovação, marketing e também internacionalização
de negócios e de vários outros assuntos que foram surgindo. Ora ouça!
Pedro, obrigado por teres aceitado o convite. Obrigado, Will. Para vir ao
45°. Há essencialmente duas razões pelas quais eu acho que dás um
convidado interessante para este programa, para este podcast. Por um lado, tu
és alguém que trabalha em marketing digital há muito tempo e, portanto,
conhece o seu setor, mas conhece-o, ou e conhece-o, com uma perspectiva
diferente de muitas outras pessoas porque o teu próprio background é engenharia,
portanto, está ligado à inovação. Engenharia, eletrotécnica. Exatamente, e com especialização em
robótica, não é? Eu isso achei engraçado. E, por outro lado, és
não só uma pessoa que gera uma empresa, como alguém também, e
isso foi, quando nos conhecemos, aquilo que eu achei cativante, que pensa
também os temas, tem uma certa curiosidade intelectual por pensar estes temas.
Eu acho que isso pode ser raro, não é necessariamente raro que
a faça esse trabalho, porque se um tipo não fizer isso, também
não tem pensamento estratégico. Na prática é quase essencial, mas como sabes,
muitas vezes não acontece. Muitas vezes as pessoas têm o interesse por
fazer, o que é essencial, mas não tanto o interesse por pensar,
o que é essencial para a parte estratégica. E isso acho que
dá uma conversa interessante para este programa. E, aliás, eu começava até,
se calhar, para perguntar isso. Trabalhas já em marketing digital há, que
há cerca de 15 anos, não?
Pedro Janela
Trabalho em marketing digital há cerca de, desde 99. A minha história
é que comecei como diretor de informática depois de estudar e isso
foi em 95, o primeiro site é programado um técnico em 94,
portanto no advento do que nós conhecemos como World Wide Web, e
quem está no advento de uma coisa tão poderosa como a troca
de informação através de dois computadores em um formato textual e visual,
percebe-se que muita coisa ia mudar a partir daí. E portanto eu
depois acabo por ter a oportunidade de estudar marketing para os Estados
Unidos durante um período curto de tempo, mas acabei por ligar o
marketing à tecnologia e que em 95 ou 94 era uma coisa
que ainda ninguém falava, mas que acabou por ser desde essa altura
quase que o caminho que toda a gente está a ver e
todos os anos se aproxima cada vez mais e que o marketing,
o branding, a tecnologia, o chegar aos consumidores, a interação, a inovação,
acabam por ser muito baseada no que a tecnologia digital está a
trazer ao mercado e, portanto, eu estive, digamos assim, na Genes estudando
marketing, estudando tecnologia, fazendo a programação do primeiro salho propiado em 94
e depois em 95, o que me levou mais para o lado
do marketing porque acabei por ser, o meu primeiro e único emprego
foi diretor de informática de uma agência de publicidade, o que me
permitiu perceber como é que uma agência funcionava e a partir daí
quando tive a oportunidade de ir de facto, não da parte operacional
da agência, mas para a parte de front-facing do cliente e pensar
na estratégia de marca, muito baseada em, digamos, quer até tecnologia digital,
comunicação digital, tomei essa oportunidade imediatamente e logo a seguir, digamos assim,
acabo por o bichinho empreendedor e ter a percepção de que eu
só vou conseguir crescer financeiramente e crescer intelectualmente se gire a minha
própria empresa e a minha própria equipa e tiver uma sociedade, portanto,
lancei a minha primeira empresa neste domínio, que não correu bem, mas
foi, digamos, a semente para a segunda, que de facto acabou por
correr bastante bem e, portanto, desde 2002 até hoje, aqui é a
mesma sociedade, que começa praticamente com 3 ou 4 pessoas e hoje
se transforma num grupo de empresas que de um lado tem 270
pessoas e do outro deve ter mais umas 100, onde temos algumas
participações. E portanto, todas elas têm sempre a visão do que é
que vêm a seguir e todas elas têm sempre a velha máxima
de onde é que está o oceano azul e todas elas têm
de tentar entender que é muito mais difícil começar um mercado onde
os clientes não estão a ver que possam comprar alguma coisa, mas
entender claramente que mais vale ir para um mercado desconhecido que para
um mercado que é conhecido por todos, porque aí a única coisa
que nós vamos ter é pressão de preço. E isso depois acabou
por nos permitir crescer numa altura, e crescer e sobreviver, diria eu,
numa altura em que praticamente todo o mercado do marketing, que começa
claramente a partir de 2001, 2002, começa a haver um desaparecimento, digamos,
do que é a passagem dos orçamentos de publicidade pura para tudo
o que são plataformas digitais, para tudo o que são redes sociais,
para tudo o que são aplicações, seja de marketing e por aí
adiante, e nós estávamos lá, portanto foi claramente apanhar toda essa via.
Apesar do mercado, na minha opinião, ainda se vaziar nas métricas tradicionais
que nada tem a ver com o que hoje em dia é
o marketing.
Pedro Janela
desenvolver, não é? O marketing digital, por si, tem imenso espaço para
se desenvolver, por uma questão é que ainda não atingiu a maturidade.
Sim. Ou seja, um, porque há novas coisas a entrar no mercado
e, portanto, claramente essas ajudam, e são todas digitais, portanto, também não
sabes onde é que o comércio acaba, não é claramente fazer sites,
mas hoje em dia tem a ver também, claramente, com tudo o
que tem a ver com tecnologias emergentes, seja realidade virtual, seja tecnologia
de interação por voz, sejam tecnologias de melhoria do que tu podes
fazer do ponto de vista de publicidade nas redes sociais, o que
faz com que há sempre uma coisa nova para fazer e são
tudo coisas que vão expandindo, digamos assim, o mercado, tirando cada vez
mais o que nós falávamos de que serão os quatro grandes pilares
tradicionais, rádio, televisão, imprensa e autovome, ou outdoor. Apesar do autovome e
outdoor, continua bastante ativo e bastante forte.
Pedro Janela
ter preparação, talvez técnica, porque aí foi o que mudou também há
cerca de 15 anos atrás. A comunicação deixou de ser feita apenas
por um estratéga, por uma pessoa que tinha uma ideia, mas há
uma série de componentes técnicas muitíssimo mais complexas do que eram antigamente
e, portanto, trouxe uma série de instrumentos e uma série de ferramentas
e uma série de conhecimento que não estava imediatamente disponível a quem
estava, digamos, num mercado mais tradicional. E, portanto, quem tinha essa capacidade
de entender que a tecnologia, a engenharia de software, componentes técnicas do
negócio, data-driven models, tudo o que era, o entendimento que muitas das
equações algorítmicas de conversão iam estar baseadas em dados, isso acabou por
depois transformar e continua a transformar de facto um modelo bastante emocional
num modelo bastante mais racional. Não é que eu acredite num modelo
puro racional, o marketing não tem nada de racional,
portanto a
cabeça das pessoas continua a ser muito emocional e continuas a necessitar,
naturalmente, de tocar essas emoções e esses sentimentos e essa capacidade de
ligar com o coração dos consumidores, porque eles acabam depois de ter
uma decisão, em muitos dos casos, muito mais emocional do que propriamente
racional, mas o que é um facto é que todos estes modelos
de conversão digital são muito importantes e esses são data driven.
Pedro Janela
impactar um consumidor ou um cliente com mensagem de comunicação e se
o estás a fazer do ponto de vista do que é o
consumidor particular e não uma empresa, uma empresa é bastante mais racional
na sua somada decisão, mas que, digamos que, grosso modo, a comunicação,
o marketing trata de tentar que uma marca ou um produto seja
comprado, digamos, por um consumidor ou passa a ser comprado regularmente por
um consumidor. E obviamente, se tu estás a falar de commodities, seja
um fast moving consumer goods, seja, não sei, até automóveis, tem muito
a ver com a criação, digamos, de uma emoção ou a criação
de uma imagem de marca na cabeça do consumidor. E para tu
conseguires gravar isso na imagem do consumidor, por muitos números que lhes
atires, grande parte do teu consumo e grande parte daquilo que tu
vais seguir tem sobretudo a ver com elementos emocionais do processo de
construção da
Pedro Janela
inconsciente. E, portanto, isso, a forma mais eficaz de fazer não é
mostrando números e mostrando argumentos, apesar dos argumentos que têm que lá
estar para construir uma boa comunicação de marca, são claramente uma composição
eficaz de grandes ideias de comunicação que te vão fazer chorar, rir,
emocionar, chatear ou vão-te alterar o estado emocional, porque essa alteração de
estado emocional grava alguma coisa na tua cabeça e se fizeres isto
muitas vezes a tua marca vai-se começar a construir naquele domínio que
tu achas que efetivamente vai provocar mais vendas e portanto, neste momento
o mercado divide-se muito entre quem faz o data-driven model de marketing
e quem está, e continua a estar, na construção de ideias que
vão, digamos, martelar ou vão cravar ou vão construir uma imagem emocional
da marca na cabeça dos consumidores.
E
José Maria Pimentel
que é menos subjetiva à parte mais analítica. Isso, isso. Agora fizeste-me
lembrar de uma distinção que existe no estudo do comportamento do consumidor
que eu sempre achei interessante e que suponho que ainda seja atual.
Aprendi isto há poucos anos, mas suponho que ainda seja atual, que
é a distinção do tipo de necessidades, e portanto tem que ver
com isto que estamos a falar, em três tipos. O tipo chamadas
necessidades funcionais, que é alguém que precisa comprar uma camisola porque tem
frio, por exemplo, as necessidades identitárias, que é o tipo que compra
a camisola, por exemplo, com o lobotipo de uma marca conhecida, para
repararem que ele tem a marca, ou, e as, aquelas que se
chamam hedónicas, não sei se a tradução, se em português haverá outra
tradução, que é as necessidades estão relacionadas com o gozo e com
o prazer, ou seja, a pessoa compra um gelado porque aquela é
uma necessidade adónica.
Pedro Janela
isso. Eu acho que não é... Estas teorias, de alguma forma, académicas,
acabam, o modelo de serem teorias académicas, acabam por se certificarem pirâmides,
matrizes ou alguma coisa qualquer entre as duas. E o ser humano
não funciona em matriz e pirâmides, portanto funciona por 3 ou 4
coisas um pouco mais complexas, tem a ver com o teu sentimento
de sobreviver e naturalmente de tu compras coisas que não precisas e
portanto não te esqueças que o consumo atual e a sociedade em
que vivemos é rica, de alguma maneira, e continua a crescer pelo
simples facto de que nós queremos cada vez mais coisas das quais,
na maior parte dos casos, não precisamos. E se assim não fosse,
a economia era um desastre.
Pedro Janela
nós conseguimos sobreviver com 3 ou 4 peças de roupa ou uma,
mas na prática temos que ter 20, portanto há aqui uma. E
isso tem a ver com o sentimento de sobrevivência. E anos tínhamos
menos. E isso nem tem a ver com o sistema de sobrevivência.
A sobrevivência tem a ver com comprar comida, ir a restaurantes e
comer mais do que devemos. Portanto, as pessoas costumam dizer que morre-se
mais da obesidade, de fome, muito mais,
porque
as pessoas têm uma vontade de comer para sobreviver. A segunda tem
a ver com o nosso instinto de duplicação e de sobrevivência pela
reprodução, o que faz com que nós façamos muita coisa por esse
simples instinto. Portanto, o ser humano tem uma capacidade de se querer
ligar para se procriar, o que nos leva a criar um mercado
só por isso e a nos diferenciarmos do nosso competidor mais direto
nesse campo específico e é muito animalesco, não é? E nós não
nos podemos esquecer que o nosso instinto que está na nossa cabeça,
a maior parte das decisões que nós tomamos são totalmente
animais.
Exatamente. De
comer, de procriar, de nos defendermos e naturalmente de querer saber mais.
Porque nós ao querer saber mais, obviamente esta componente intelectual de conhecimento
que tu fazes com este blog, portanto é uma...
Pedro Janela
E depende dos pares, e depende de onde vem, e depende de
experiências passadas, e depende de boca a boca, e depende de uma
série de coisas que são tudo menos racionais. E naturalmente quando tu
fazes, por exemplo, uma campanha de comunicação que tem um filme que
está na cabeça das pessoas e que te cou as emoções e
que tu choraste e aquilo, cria-te uma alteração de estado emocional que
te vai fazer recordar a marca num momento zero do consumo ou
num momento em que tu inicias a descida no funil de compra
de um determinado produto. Portanto, do awareness, da decisão,
Pedro Janela
luta, ou seja, existe essa quase duas escolas. Existe, não, eu acho
que existem duas escolas, existem duas aulas, existem dois pensamentos, existem duas
fações, existem, existe isso tudo. E, efetivamente, uma não vive sem a
outra, ok? Não é, não, tu não consegues criar uma marca sem
toda a componente de arte e tu não consegues ter, efetivamente, nos
dias de hoje, uma boa campanha que não tenha métricas até ao
fim, ou possível. E nós estamos neste momento num... Mas
Pedro Janela
Eu acho que faltam duas coisas. Uma, as plataformas que fazem inferência
programática de dados, são praticamente todas norte-americanas e funcionam todos muito bem
em mercados anglo-saxónicos ou em mercados que tenham dezenas de milhões de
consumidores, que estão em digital a fazer as suas pesquisas. Nada existe
em Portugal, nem na língua, nem as marcas portuguesas na sua maioria
têm orçamento para poder pagar essas plataformas à data de hoje. Não
quer dizer que daqui a 3 anos as plataformas não tenham o
mínimo de 10 vezes o preço porque vão fazer. Portanto, nessa altura
talvez. Mas para que tu possas fazer alguma inferência, algum trabalho, há
um investimento muito grande que tem de ser feito pelas marcas e
pelas companhias e naturalmente as multinacionais fazem do ponto de vista central
e em Portugal há muito poucas empresas que efetivamente tenham a capacidade
de fazer. O Portugal, a grande empresa que pensou o marketing desde
o início chama-se Sonaio, não é? Portanto, a Sonaio é a única
empresa portuguesa, os bancos também o fizeram, hoje em dia com menos
capacidade, digamos assim, mas foi a empresa que mais investiu em tecnologia
de marketing, em sistemas CRM, em automação de marketing, em empreendedor, portanto,
há que ver que também o marketing e o estudo do marketing
chegou tardiamente a Portugal e foi tomado pela banca e pela estada
de comunicações e depois pelas grandes cadeiras de retalho, tinha um orçamento
suficientemente grande para investir
José Maria Pimentel
neste tipo de empresas. Exato, tinha uma dimensão para isso. Mas, as
multinacionais, se é verdade que as multinacionais têm a dimensão e, em
certo sentido, também o mindset, porque normalmente são empresas cuja sede está
fora de Portugal, portanto pensam em gestão a nível global. A sensação
que eu tenho, eu não sei se partilhas, é que muitas vezes,
por serem empresas muito grandes, por serem por natureza incumbentes do setor,
também muitas vezes lhes falta a flexibilidade, é quase um jogo de
rins para adotar o que é novo. Ou seja, muitas vezes, embora
tenham a capacidade, também ficam presas àquilo
Pedro Janela
Portanto, a Amazon, o Google, o Facebook, a Microsoft e a Apple,
as 5 maiores empresas do mundo têm todas, de facto, São empresas
muito recentes, o que quer dizer, e são as maiores empresas, não
são as maiores por número de funcionários, mas são as maiores porque
é posição bolsista, e estamos a falar de 5 empresas, essas 5
empresas somadas, devem valer cerca de 2.5 trilhões de dólares nos dias
de hoje, o que quer dizer que devem ser a segunda economia
do mundo, a terceira economia do mundo, a quarta, ou seja, depois
da China, dos Estados Unidos e do Brasil, talvez, ou do Japão,
são eles. O que faz com que sejam empresas muitíssimo importantes, então
muito mais importantes que qualquer nação dos dias de hoje. E isso
não é que não fosse verdade nos tempos de petróleo e coexem
móveis, nos tempos de distribuição com o Almar, nos tempos do ferro
com as empresas americanas desse setor, mas o que é um facto
é que nunca houve um favorecimento tão grande para empresas tão ágeis,
tão novas e que tenham uma capacidade financeira tão grande.
Pedro Janela
que eu tive uma conversa engraçada e falámos disso há pouco tempo,
em que uma tecnologia que se transforma num banco tão escrotínio e
total americano e transforma-se, se 1% do negócio deles for um banco,
eles na lei americana, e atenção que estas 5 empresas são todas
americanas, passam a ser um banco. O que é um passo que
eles nunca vão fazer, porque é um sector demasiadamente regulado para que
eles possam estar e temos que ver que estas 5 empresas são
entendidas como muito boas, têm um problema muito grande nos dias de
hoje que é a serem entendidas como monopolistas de alguma coisa, porque
são todos, excepto a Apple, digamos assim, e que poderão ser quebradas,
nomeadamente pelo setor relevantar europeu, que é o que está mais na
frente disto, não é? Portanto, foi o único que se impôs, porque
estas 5 empresas são muito boas e espetaculares, especialmente para os Estados
Unidos, na Europa só trouxeram, entre aspas, desgraça e os consumidores estão
contentíssimos, mas as mídias foram todas para o galheiro. É preciso continuar
aqui do ponto de vista do desastre que houve em tudo o
que eles puderam tocar, porque, por exemplo, no caso da Amazon, se
tu fores ver as capitalizações bolsistas de todos os grandes montes do
retalho americano, o valor de bolsa que eles perderam é exatamente igual
ao valor de bolsa que apenas uma empresa ganhou, que chama-se a
Amazon. O que quer dizer que é grave, porque aconteceu também na
Europa, mas não está lá a contabilizar.
Ainda não aconteceu.
Pedro Janela
Qualquer coisa que, quer dizer, não é uma questão de dormir mal
à noite ou não dormir mal à noite, não faz nenhuma diferença,
ou seja, eles bastam aumentar em 0, 1% do custo por clique
do Google e já foram uns 2 bilhões para trás e para
a frente. Estamos a falar de empresas que têm mais do que
estas neste momento, estão parqueados na Europa, eu acho que é a
única razão por que não terem partido aquilo. Meio trilhão de dólares
em ativos financeiros que ainda não exportaram para os Estados Unidos é
capacidade financeira desta malta e estas multas é o que eles fazem
em um dia de lucro, ou numa semana de lucro, portanto não
estamos ainda num campo de... Eu acho que os reguladores não perceberam
o que se passou e não perceberam claramente a diferença do ontem
e de hoje, ou seja, ainda continuamos preocupados com se é que
televisão compra aquele jornal ou se do que propriamente entender que o
Facebook e o Google já ganharam isto há mil vezes e que
são os detentores da atenção mundial por muito e que são os
maiores meios do mundo. Talvez nos deixemos afastar do ciclo da conversa,
mas é muito...
Pedro Janela
este ponto, este ponto de... E o marketing digital, atenção, isto é
importante perceber que é Google, Facebook, Amazon, nos dias de hoje, a
tecnologia que nós utilizamos para o fazer, portanto, através da Apple e
equipamentos da Microsoft e equipamentos que estão ligados ao ecossistema Android, que
é da Google, diga-se a passagem, e portanto todo este ecossistema de
publicidade é, eu diria, do ponto de vista de investimento de mídia
digital, os dois que falo são responsáveis por 70% do mercado. E
70% do mercado a nível global é uma barbaridade. O único país
que não está nesta história é a China, por razões que foi
o único mercado, e é engraçado ver isto, foi o único mercado
que tomou, e a Rússia também em certa medida, tiveram práticas absolutamente
leoninas de impedir a entrada destes países naquele mercado. E foram os
únicos que safaram. E tu dizes assim, eles fizeram bem ou fizeram
mal? Claro que fizeram bem, porque a economia desenvolveu-se lá. Desenvolveram-se empresas,
desenvolveu-se tecnologia e tu perguntas-me assim, mas a Europa devia ter feito
o mesmo? De certa maneira devia, porque tu olhas para o sector
tecnológico e olhas para as primeiras 50 empresas do ponto de vista
de valorização bolsista a nível global e a primeira que aparece, europeia,
chama-se SAP, e que não conta para o Toto Gola, conta um
bocadinho para a evolução tecnológica e não há mais lá nenhuma, depois
tens algumas chinesas e não há lá mais nada, E tu perguntas-te,
mas que futuro tem a Europa se nenhuma das tecnologias prevalentes que
hoje em dia existe, pode digital ou qualquer que seja, tem base
europeia? Nenhuma. E portanto, depois tu levas isto naturalmente para... Isto é
agora, já
é agora
assim. E só vai tender a piorar, porque esta malta tem neste
momento orçamentos infinitos, que é isto que se trata, para fazer o
que quiserem e para comprarem tudo o que merecem. E a Europa
não conseguiu ajudar por esta paralisia de decisão internacional, não conseguiu, e
talvez na banca tenhamos duas ou três hipóteses de ter alguma empresa
de banca a nível global que possa mexer nisto, mas não conseguimos
ajudar, que é o papel do Estado, ajudar a criar empresas sucessivamente
fortes para competir à escala mundial na área tecnológica, por investimentos de
defesa que foram feitos mas que acabaram por não ser recuperados. Naturalmente
pela guerra que agraçou a Europa há 60 anos atrás que teve
um impacto gigante no que está a acontecer agora, muitas pessoas talvez
não se recordem, mas os investimentos de tecnologia que foram feitos e
a existência de Silicon Valley deriva do desmantelamento do Departamento de Defesa
a seguir à criação da bomba atómica aqui dos anos
50,
e lá a gente foi da costa este para a costa oeste,
e todos aqueles cérebros que estavam a construir todas as tecnologias que
o Departamento de Defesa precisava por causa da Guerra Fria, foram criar
coisas fantásticas lá no Silicon Valley, que era um sítio melhor para
estar. Há
José Maria Pimentel
um trabalho que foi feito agora, não me ocorre o nome, mas
que tem muita piada, até porque é um tema delicado, porque entrejou
aquela questão do Estado versus privado e o que eles provaram, e
eu acho que isto é verdade, independentemente da posição da pessoa neste
debate, é que, era exatamente aquilo que estavas a dizer, é que
o Estado americano, via orçamento de defesa, via investigação que foi feita,
está na origem de, por exemplo, praticamente todas as componentes do iPhone,
que falámos há pouco. Até o Siri tem origem no meu celular.
E
Pedro Janela
as que não são americanas são israelitas, por causa da mesma treta,
ou seja, do mesmo investimento massivo em tecnologia de defesa para estar
à frente do inimigo, e isso leva por um esquema muito bem
montado de israelita na produção de tecnologia, que por causa dos laços
que existem com os Estados Unidos e civilização mais ou menos, ou
seja, aquilo não é por acaso, não sempre por acaso, existe esta
irmandade económica e vai tudo parar nos Estados Unidos a seguir, portanto,
esta dualidade da criação de novas tecnologias para investimentos massivos em defesa
que não têm nenhuma razoabilidade económica, tal como foi feita a bomba
atómica, portanto aquilo não tinha nenhuma razoabilidade económica. A internet nasce de
uma irrazabilidade económica do departamento de defesa norte-americana a fazer e a
robótica é o que está a acontecer agora e nós não nos
podemos esquecer que quando os Estados Unidos lançam um novo caça, que
custa um bilhão, ou dois, ou três, ou quatro a fazer, uma
das razões que eles o fazem é naturalmente ter o caça, mas
o que é mais relevante à volta daquilo é tanto a tecnologia
que aquilo vai permitir fazer que depois os privados vão ocupar e
que os privados nunca vão pagar de volta. Tanto a discussão hoje
é, mas nós temos o Facebook, o Google e Apple e esses
gajos todos a parquear os impostos lá fora para não pagar impostos
aqui quando o próprio Estado é que fez
com que
isto acontecesse por causa dos investimentos em defesa. Mas funciona, porque é
muito favorável ao... Mas no final, e eu acho que isto é
a questão mais relevante de todas, que talvez isto na Europa falhe
verdadeiramente, em todas estas camadas burocráticas que nos Estados Unidos existem menos,
não só políticas, mas também de taxação e também de ecossistema fiscal,
de alguma forma. A primeira coisa na cabeça de uma sociedade abricana
é o retorno para os investidores. E esse retorno para os investidores,
tal como acontece, acaba por gerar ainda mais investimento e acaba por
gerar uma aversão ao risco porque o dinheiro está lá mais cedo
ou mais tarde, que leva à criação de uma dinâmica económica muito
superior à que acontece na Europa. Porque há muito dinheiro a circular
em digital, ou seja, para uma empresa como a Apple ter 200
bilhões na Europa, ou ter 200 bilhões nos Estados Unidos é diferente,
está no balanço. E como está no balanço, a empresa RK mesmo
pode ir ao banco e buscar mais 5 bilhões para fazer o
que quiser. Ou seja, os balanços norte-americanos, eles não querem saber onde
é que está o 0 e o 1. O balanço é tão
forte, podem fazer aquilo que quiserem e isso leva a ganhos para
o investidor e leva a ciclos de investimento em ideias, em startups,
que não tem parálogos na Europa, porque esses balanços não existem, diga-se
passagem, porque os balanços foram massacrados, digamos assim, pelo fisco e foram
massacrados. E aqui em Portugal, e é um tema interessante da carga
fiscal que naturalmente as empresas têm, eu acredito profundamente que as empresas,
quanto mais taxadas são, menos capacidade têm de se desenvolver e naturalmente
criar mais produtos para que naturalmente os consumidores os possam comprar, mas
também há que dizer que não há nenhuma empresa que se desenvolva
se os consumidores não comparem os produtos dela, então é um pau
dois bicos.
José Maria Pimentel
Sim, pois é. O que aliás é um argumento para aumentar o
peso dos impostos indiretos em detrimento dos direitos, por exemplo. Mas a
Europa depois tem vários problemas. Tem o problema de não é um
mercado uno, ao contrário dos Estados Unidos, por exemplo, a questão do
orçamento de defesa também tem que ver com isso, nós não conseguimos
ter, aliás, é uma coisa que está agora em cima da mesa,
ter o orçamento comum e uma política comum de defesa enquanto os
Estados Unidos conseguem ter isso. Por acaso, o exemplo da Rússia é
engraçado, que estava a falar há pouco. Num dos primeiros episódios estive
à conversa com o José Melhados sobre a Rússia, ele falava da
questão da intranet e do computador e o ponto que ele levantava
faz todo o sentido que é, não foi por não terem aquela
tecnologia, não foi para a Rússia não ter aquela tecnologia que ela
não se desenvolveu lá. Ou seja, esse lado daquilo que eu falava
há pouco, da pesquisa que estava por trás daquilo que depois veio
dar origem ao F1, a Rússia tinha o mesmo ou praticamente o
mesmo, eles andavam mais ou menos taco a taco. O que eles
não tinham, e os Estados Unidos tinham, era uma economia privada dinâmica
o suficiente para depois mastigar aquilo e isso é o ponto crucial.
Eu acho que eles não tinham
Pedro Janela
estamos a falar que todas as empresas norte-americanas, o marketing é uma
componente crítica do negócio, é visto como uma componente crítica do negócio.
E no resto do mundo, e talvez só o Japão o teria
feito, mas só começou a fazer depois da influência americana, diga-se de
passagem, porque era um marketing muito interno, o resto do mundo não
se apercebeu muito bem como é que este marketing de influência global
podia fazer. Depois tiveram a sorte da língua e tiveram os potes
Marshall e essas coisas todas, e tiveram, a seguir à guerra, tiveram
naturalmente a americanização da sociedade ocidental, e toda a gente começou a
comprar tudo da mesma maneira. Toda a gente bebe Coca-Cola, toda a
gente faz McDonald's, toda a gente tem um iPhone, porque houve essa
americanização da cultura e foi um processo de embaixada económica que a
China começou a fazer de inverso, portanto, haver lojas chinesas e restaurantes
chineses em todos os países do mundo não é por acaso, quer
dizer, era
Pedro Janela
mas os americanos fizeram com essa componente do marketing e das marcas,
de entender o consumidor, de serem muito mais analíticos no consumidor, isso
foi a primeira coisa. A segunda, claramente que os modelos capitalistas que
os Estados Unidos tiveram e de transferência para mãos de privados com
um racional absolutamente ganancioso de fazer dinheiro acabaram por criar aquilo que
criaram hoje, com estes 5 ou 6 players. Há que dizer que
o Google provavelmente não existia nos dias de hoje, se não tivesse
também havido regulação há uns tempos atrás, mas, ou seja, todo este
ecossistema de investimento e de transporte de conhecimento público para as mãos
de privados foi o que fez aqueles monstros, de facto, surgirem. E,
por último, e bastante importante, tem a ver com a captação de
talento que os Estados Unidos sempre fizeram pelo seu mercado universitário, aliado,
naturalmente, àquilo que já falámos, de um investimento completamente desproporcionado pelo Estado
norte-americano em coisas que têm, portanto, este círculo virtuoso. Captação de talento,
investimento em ciências básicas sem nenhuma razão de ser. A captação de
investimentos de eficiências básicas vem de Israel. A transferência com muito poucos
custos, obviamente a patente das universidades, são hoje em dia as boas
universidades da tecnologia americanas, são multibilionárias à conta dos registros de patentes
e dos royalties que recebem, há que ver isso. Mas novamente são
fundações ou estão na mão de privados. E todo esse ecossistema que
depois passa para os privados e que gera muito dinheiro no balanço
associado a um muito bom plano de marketing leva a um ecossistema
nos Estados Unidos que é quase impossível de combater e depois a
um mercado naturalmente de 300 milhões de pessoas em que a maior
parte delas têm disposição de link-in para testar coisas que não fazem
Pedro Janela
E tem uma baixa aversão ao risco. Eu acho que essa é
uma das diferenças. E na Europa isso, quer dizer, várias línguas, vários
mercados, várias regulações, agora já não temos várias moedas, mas tivemos, mas
a questão da moeda é uma questão relevante, mas a questão fiscal
e a questão de transferência de bens entre os diversos países é
uma questão relevante, quer dizer, é mais fácil eu nos Estados Unidos,
que temos lá um escritório, faturar a outro estado sem nenhuma complexidade,
é indiferente, apesar de ter que abrir, digamos, o meu fiscal status,
digamos assim, nesse estado, uma fatura transfronteiriça aqui na Europa é relativamente
fácil, mas existe uma série para serviços, mas para outro tipo de
produtos não é bem assim, e portanto existem limitações maiores do que
existia no mercado americano, apesar de estarmos muitíssimo mais avançados do que
estávamos há uns tempos atrás. Digamos assim.
Pedro Janela
Sim, mas muito focada no negócio, muito focada em resultados, muito focada
nos quarters, muito focada... Todas as empresas, pequenas ou grandes, estão sempre
focadas naqueles 3 meses. Pode parecer, não penso a longo prazo, penso
a longo prazo, mas apresentam resultados a curto prazo com viabilidade económica
e isto dá ali um ritmo às empresas que é impossível de
acompanhar, porque uma empresa que não pensa com o ritmo trimestral, como
eles quase sempre pensam, acaba por ficar para trás. Portanto, o impor
um ritmo muito veloz às empresas é por defeito nos Estados Unidos.
Portanto, estás sempre a pensar no próximo negócio, no próximo mês, nos
resultados. Pois tudo tem, tudo é descrito e tudo é quase colocado
nas paredes e tudo tem um objetivo. E tudo tem um objetivo
de ser maior e tudo tem um objetivo de ser melhor e
tudo tem um objetivo muito ambicioso. Ora, na maior parte da cultura
europeia, essa ambição financeira ou económica, em alguns sítios, em Portugal é
um deles, apesar de hoje em dia ser menos, é mal visto.
Lá não, lá é bem visto. Por último, as empresas são tão
grandes, porque o mercado interno é tão grande, que tu ficas com
uma preparação estrutural para competir onde tu quiseres. E o mercado europeu
dificilmente permite uma empresa ser daquela escala e daquele tamanho, de uma
maneira muito rápida, até porque as pessoas têm... Nós dizemos que os
portugueses, uma pessoa faz qualquer coisa. É verdade, porque as empresas, tu
dentro de uma empresa tens de fazer praticamente tudo, mas lá não
é assim, a pessoa é altamente especializada a fazer aquilo. Portanto, as
grandes empresas, tu faz aquilo, aquilo e só aquilo e a gente,
ah, mas ser português é muito melhor. Epá, é. Se tiveres um
problema, como costumo a dizer, epá, as empresas todas deviam ter um
português lá na caixinha de vidro e dizer que quebraram em caso
de emergência.
Também já tinha
José Maria Pimentel
Tudo o que seja intensivo em mão de obra, no fundo, que
é um bocado o que é exatamente o caso do Walmart. Isso.
Mas, falando dos Estados Unidos, eu estava a pensar nisso antes, quando
estava a vir para cá, que é uma dúvida que surge recorrentemente
quando a pessoa faz o exercício, muitas vezes até nunca é assustada,
e da pessoa olhar para uma empresa e pensar, vou internacionalizá-la. E
de repente há um momento em que a pessoa entra quase num
pânico mental, porque há 200 países no mundo, Obviamente que há uma
série deles que
não são hipóteses. O
Pedro Janela
que entram? Quais são os principais critérios? O principal critério tem sempre
a ver com o preço de venda, não é? Ou seja, tu
numa empresa de serviço de tecnologia vais vender um homem a hora
e tu tens um nível competitivo em Portugal, portanto, se tu fores
tentar competir na China, nandia, na China também, vais perder, porque o
teu preço não é competitivo e não tens escala suficiente para lá
competir, portanto, porque eles vendem mais baratos do que tu e provavelmente
tens de ser um melhor.
Pedro Janela
não. Portanto, tens de ir para mercados que te vão pagar mais,
o que te limpa, digamos assim, uma quantidade de mercado relativamente grande.
A segunda componente tem a ver, tu em qualquer área de exportação
tens que conseguir, se vais vender serviços, tens de conseguir praticar a
língua de forma quase perfeita, tens de ser um local. Ora, para
um português não há muitas línguas que tu consigas praticar de forma
perfeita. Reduz a três, inglês, português, e o Brasil não é bem
português, e espanhol, mas é uma dificuldade o espanhol. Talvez seja mais
fácil na América Latina do que em Espanha, porque os latino-americanos são
mais, aceitam-te melhor do que os espanhóis a falar mal, porque tu
vais dar erros de espanhol. O que não te deixamos dos mercados
para tu naturalmente ires vender. Tentar vender tecnologia ou serviço aqui no
mercado ao lado, boa sorte, porque é um mercado altamente competitivo, é
um mercado muito proteccionista e é um mercado que não é que
não te receba bem ou te receba mal, mas não vai ser
fácil entrar. O que te deixa a Norte-Europa, bastante permissiva que tu
lá vais vender, te deixa os Estados Unidos e digamos a América
Latina. Para a América Latina é longe, são 10 horas de voo.
Entrar no Brasil só com as complicações fiscais, esquece, não vale a
pena. E eles, do ponto de vista de serviço, são muito melhores
do que tudo. Na parte do marketing, muito melhores do que tudo.
Na parte da tecnologia, enganam-te muito melhor do que tudo.
José Maria Pimentel
engraçado porque eu lembro-me de olhar para o... Há um indicador que
aliás é muito interessante, do Económico Forum, que é o indicador de
competitividade. E aquele é um exercício ultra interessante a pessoa olhar desde
logo para Portugal e olhar para vários países. E o Brasil era
um caso engraçado, porque o Brasil se está construído por três pilares
que pretendem ser em ordem em fases diferentes de desenvolvimento, ou seja,
um país subdesenvolvido ou ainda muito emergente estará mais forte no primeiro
pilar e mais fraco no segundo e terceiro, e por aí adiante,
no fundo vai preenchendo os outros três. E o Brasil é engraçado
porque tinha quase um crescimento, um desenvolvimento anormal, porque tinha o pilar
do meio, por exemplo, ainda muito incipiente, mas o terceiro, que tinha
que ver, por exemplo, Não no total, mas na parte da tecnologia,
na parte do desenvolvimento de marketing, tinha lá pontos em que estava
muito desenvolvido.
Pedro Janela
portanto, falar de um mercado com centenas de... Centenas não, não chegam
a 200 milhões, são 180 milhões, mas onde a publicidade televisiva tem
um efeito muito grande no consumo e há um consumo de televisão
muito grande, por razões históricas. O que faz com que, ou seja,
em que as marcas investem do ponto de vista de mídia muito
e há uma componente por lei que vai para as agências criativas,
por sua vez, a investem em marketing. Portanto, os publicitários no Brasil
são todos multimilionários.
Pedro Janela
agora? Está pior porque obviamente houve uma crise que nós juntos a
percebemos. Sim, claro, claro. Essa crise levou a maior pobreza de alguma
forma e há um descontrolo político ou social e, portanto, as pessoas
sentem-se mais em risco. Também há que dizer que as pessoas que
estão aqui entraram na fase da vida familiar, o que quer dizer,
quando começam a ter filhos, a percepção de risco é mais elevada
mesmo que não seja. Sim, exatamente. Eu vou para um sítio seguro,
se eu tenho uma família, se estivesse sozinho estava bem. Não é
que o risco tenha aumentado, a percepção do risco
Pedro Janela
do mercado, por outro lado, a distância. O que te deixa o
Norte da Europa e o que te deixa os Estados Unidos, que
é um mercado que na costa este está a 5 horas de
distância, está a 5 horas de distância quando fores ali para Moscou,
tanto que aqui na Europa, portanto é um mercado que está muito
perto. E, portanto, a decisão de escolher entre estes mercados é simples,
apesar, não estou a dizer que não haja trabalho para fazer na
América Latina, não haja trabalho para fazer no Brasil, há sempre um
mercado para ter, se for suficientemente bom e tiveres um produto diferente
ou tiveres um flavor diferente ou tiveres uma especialidade muito rara, vais
ter sempre um mercado onde quer que sejas. Numa empresa de marketing,
quer dizer, não é uma especialidade assim tão rara, algumas das componentes
tecnológicas nos Estados Unidos são, portanto, vamos falar de desenvolvimento de aplicações,
temos a um lugar de desenvolvimento profundo de tecnologia, portanto, como é
uma componente mais rara, encontramos aí um mercado. Mas eu diria que
uma empresa tem que tentar entender se vai para a Norte da
Europa, entre Amsterdã e, atenção, que há muitos mercados hoje em dia
na Ásia que eu não conheço, que são, que falam inglês por
default, pensar em Singapura, o que faz com que tu possas operar
nesses mercados a todo o nível da Ásia Pacífica.
Pedro Janela
quando tu olhas para a dimensão geográfica específica e te comparas, Portugal
é um país rico, é um país grande, com 10 milhões de
pessoas, o que não há muitos países com 10 milhões de pessoas,
mesmo a nível europeu, e quando tu começas a partir em estados
semelhantes, portanto, Portugal tem um PIB razoável, para… obviamente o teu PIB
per capita não é bom, mas nós somos muitos e, portanto, acaba
por ser um país com um grado de oportunidades. Sim,
Pedro Janela
Nós às vezes não nos apercebemos que a Polónia é tão grande
como a Alemanha. A Polónia é muito grande, sim. E estão os
dois no mesmo eixo, estão os dois na mesma latitude, digamos assim,
e portanto têm os dois o mesmo potencial económico. O que é
um facto é que Portugal é um país grande, é um país,
é uma zona, é um Estado à escala, digamos, americana, é um
Estado grande, rico e com muita capacidade humana, e a incrementar também,
ainda para mais agora, com o estatuto de residência não habitual, eu
acho que vai ter um impacto daqui a 12 anos brutal neste
país. Nós não estamos a perceber do que está a passar nos
últimos tempos em que a quantidade de multimilionários da Europa, e não
só da Europa, que vieram para Portugal e que pagam 0% de
impostos, e no dia em que eles começarem a pagar, que é
daqui a 10 anos, ou daqui a 8, ou daqui a 5,
ou daqui a 12, quando eles vierem. Mas eu não tenho os
números exatos e, portanto, não tenho métricas para definir isto ou para
decidir isto. Mas quando este pico tiver 10 anos a seguir e
20% deles decidirem não volar, porque não o vão fazer, porque estão
a 4 ou 5 anos, ou 10 anos, de... O efeito no
PIB português de captação de impostos vai ser uma coisa incrível, porque
são todos multimilionários. Eu tenho uma rede de empreendedores aqui em Portugal
e há muitos patriados com fortunas de 100 milhões e de 150
milhões e 200 milhões e 300 milhões e de 50 milhões que
se mudaram para Portugal porque não pagam impostos. Obviamente tem um efeito
na economia grande porque vão pagar impostos indiretos. Claro, estão a consumir.
Estão a consumir e daqui a 10 anos vão começar a pagar
impostos se não se mudarem outra vez. A grande questão é se
se mudam ou não mudam. Sim, mas haverá uma parte que não
muda.
Pedro Janela
essa vai ter um efeito inacreditável na economia portuguesa que só se
vai ver daqui a uns tempos. Portanto, eu acho que a estratégia
do, digamos, do residente não habitual é uma estratégia mal comunicada, porque
só agora é que está a começar a ser percebido. Eu tenho
conversas, mesmo com portugueses que vivem há muitos anos fora, imigrantes que
não conhecem a lei e que nos diziam, não, não, mas olha
que tu como vives há mais de 30 anos fora, como vives
há mais de 5 e não és residente fiscal ativo, no dia
em que tu mudares pagas 0% de impostos se não tiveres um
trabalho por conta do trem. E como tu só vives de pensão,
de rendimentos de sociedades ou de rendimentos imobiliários, pagas 0%. E as
pessoas não sabem isto, incluindo imigrantes ricos portugueses, o que é uma
coisa...
É incrível.
José Maria Pimentel
Estávamos à mesa de almoço com ele e dizíamos, mas como é
isso? Epá, oh Eduardo, é assim, tu mudas para Portugal e tu
pagas 0% de impostos durante 10 anos, mas zero, zero, 0, 0.
As pessoas não sabem disto. E eu não sei se foi por
defeito, ou por acaso, ou por incompetência, mas estamos a falar de,
nos dias de
Pedro Janela
Eu acho que quem inventou isto, e não sei quem foi, obviamente
tem esse dois pés e duas medidas, mas do ponto de vista
da sobrevivência de Portugal, quando se olha para a história daqui a
50 anos, essa decisão e a decisão do visto dourado são duas
decisões muito polémicas, mas são duas decisões que vão alterar o panorama
social português, que vão alterar e que estão a alterar a captação
de impostos indiretos e que a 10 anos vão alterar o mix
de impostos que são pagos em Portugal, porque uma fortuna destas começa
a pagar 20% de impostos, estamos a falar de 1 milhão ou
2 milhões por ano. Ou seja, para tu teres uma massa de
pessoas que pagam 1 milhão ou 2 milhões de impostos por ano,
estamos a falar de centenas de pessoas, em média. Portanto, vai fazer
alguma diferença E por isso é que quando as pessoas dizem que
isto vai a... Estamos a falar de um movimento que eu sinto
a crescer. Portanto, quando uma pessoa vai a Cascais e quando a
José Maria Pimentel
depois. Mas porque é que a Mónica Beluzzi viveu, pá, é fiscal,
e o Ane Katana é fiscal, pá, e o Felipe Starck é
fiscal, pá, o gajo paga 0% de impostos, pá. E pronto, portanto,
eu acho que a malta ainda não se apercebeu disto, mas estamos
a afastar-nos do marketing, e tu já disse que tu não pensas
sobre marketing, mas...
José Maria Pimentel
Nada, conversa é conversa, não é necessariamente sobre o marketing, mas ainda
antes do marketing, falando, uma coisa que disseste à pouco a propósito
daqueles vetores que no fundo comandavam estrategicamente o pensamento da internacionalização e
aquilo que eu achei interessante nisso é que a maior parte desses
vetores seriam à partida estranhos numa era da globalização, porque pelo menos
dois deles são quase antigos. Um, língua, o outro, distância. É pá,
mas... Não, para mim não é novidade nenhuma porque, na minha opinião,
a globalização é um fenómeno que é obviamente real, mas que a
certo ponto foi um bocadinho exagerado. Mas acho que é contraintuitivo, não
é? Porque a pessoa pensa que a globalização é aquela história do
Thomas Friedman do flat
Pedro Janela
negócios baseados totalmente em digital, de facto, consegues vender serviços tu próprio
para uma pessoa qualquer do outro lado do mundo, de forma plana
e imediata, apesar das diferenças horárias serem um constrangimento. Do ponto de
vista empresarial, para quem está neste negócio de homens, hora e de
serviço e de pensamento estratégico, nada disso. Portanto, quando tu tens que
te meter num avião e de um lado ou outro no mundo,
se tu vais para Nova Iorque tens um plano de viagem, se
tu vais para São Francisco tens outro, e para São Francisco, se
eu passar lá uma semana, é um erro. E para Nauberto, se
eu passar lá dois dias, tu vais a Londres, vais a ver
no mesmo dia. Portanto, a tua maneira de gestão, que é muito
face to face, e é naturalmente os negócios que eu não sei
fazer porque
eu conheço
pessoas de relações, de confiança, de olhos nos olhos, e eu confio
em ti, tu confias em mim, dá cá um negócio que eu
sei que tu vais fazer.
Pedro Janela
E no Brasil é assim, não é? Portanto, eles não te entendem,
portanto, tu tens que reverter para a língua deles, apesar de nós
acharmos que no Brasil e França não falam a mesma língua. Portanto,
Há uma série de coisas que tu dizes do ponto de vista
de negócios, eles não estão a entender. Mas deixa-te com esses dois
e depois quais são as populações ou as civilizações mais abertas a
outras culturas? São de facto as anglo-saxónicas, por razões de eles sabem
que se abrirem vão conseguir vender tudo que eles têm lá para
vender a quem querem. Eles estão sempre contra isto, portanto, é uma
questão de... Eles já estão na segunda derivada enquanto nós estamos aqui
a ver se... E agora nos Estados Unidos é um bocadinho diferente,
estamos a ver se nos defendemos. Não, Eles sabem que se abrirem
vão-te empacotar as porcarias todas que lá têm para vender, vão-se ir
a ganhar, porque têm muito mais para te vender do que tu
tens para lhe vender a eles. Portanto, é uma... Porque o mercado
e o modelo de vendas e de marketing e de sales engine
deles está muito mais à frente que a maior parte das outras
economias, porque eles têm sempre a ganhar. Claro, claro. Eu sei que
é mais um enfimento em tecnologia, portanto, a decisão de internação acaba
por cair nessas duas. O mercado americano tem uma dificuldade grande, chamada
a dificuldade, se tu queres mandar para lá alguém, melhor, tem duas
dificuldades, A primeira é, para contratar-se um americano é relativamente caro de
fazer, portanto, à escala de uma empresa portuguesa, vai estar a pagar...
A pessoa mais bem paga da tua estrutura é o gasto de
contratar-se um norte-americano. A primeira dificuldade. E isso é um mindset difícil,
ou seja, não é para todos, porque ele vai ganhar mais que
o seu, e é basicamente isto que só vai passar. A segunda
dificuldade tem a ver com a exportação de pessoas para lá. Portanto,
os vistos têm alguma dificuldade, ele demora algum tempo e hoje em
dia o que se sente é que há um maior, digamos, um
maior controlo das entradas a passar de deliumes e de vistos de
negócios. E que na Europa isso não acontece, e portanto acaba por
ser muito mais rápido, fácil e eficiente ires vender a um mercado
americano, um mercado de UK ou de Amsterdão, que acaba por ser
uma capital laboral e profissional da Europa, do que ires vender a
uma… e no Norte da Europa, nos países escandinavos, todos eles te
recebem bem, do que vender nos Estados Unidos, apesar de que os
Estados Unidos abrem-te uma perspectiva maior e mercados maiores, mas no mercado
americano tu tu demoras três anos até conseguires fazer um marketing com
alguma, tens que ganhar a rede social que te vai impulsionar e
isso custa a fazer.
José Maria Pimentel
Claro, neste caso para a tua empresa isso aconteceu, não sei se
aconteceu por acaso ou se foi, quer dizer, não estará a ser
uma estratégia deliberada desde o início. Foi, foi, foi. Mas isto o
que? Fazer a internacionalização relativamente tarde. Tarde no sentido de esperar, porque
há muitas empresas que se precipitam, a meu ver, erradamente. Mas eu
não sei se partilhaste dessa opinião. Eu acho pouco prudente uma empresa
que antes de se consolidar no mercado de raiz, antes de se
internacionalize. Porque no fundo, aquele é o mercado que conhece melhor. O
outro mercado depois pode evoluir e até se tornar uma empresa internacional.
Pedro Janela
Estados Unidos, se tu lá estiveres permanentemente é fácil de fazer. Mas
tem que é construir, não é? Mas Não há nenhuma cidade que
não tenha meetups, associações, drinking, friend of a friend, tudo business asistent.
A primeira coisa que eles fazem é toma lá um cartão, o
que é que tens para mim? Toma lá um cartão, o que
é que tens para mim? Se tiveres alguma coisa diferente, há coisa
que vai para aí acima. Portanto, é um mercado muito permissivo a
conhecer novas pessoas e sobretudo se for um fundador que tem ingrained
essa forma de estar, é-te muito fácil de começar. A tua decisão
é onde é que tu começas. E tipicamente o empresário português pode
começar aqui. E se começa aqui, de facto concordo contigo. Até tu
conseguires interacionalizar, tens de ter aqui uma base feita, porque tu não
vais conseguir estar num instituto. Tem de ser uma decisão a 100%,
tens de teres uma determinada escala para depois poderes fazer a internacionalização
de forma secundária, já não houve fundador a fazer isso. E para
tu fazeres isso tens de ter capital, tens de ter uma estrutura
de recurso suficientemente grande para tu já não seres a pessoa que
está no dia-a-dia. Nós só fizemos a interatilização 12 anos depois, porque
fui eu que a fiz e eu já não estava no dia-a-dia.
Portanto já houve uma estrutura, na altura de 150 pessoas, que mantinham
o barco aqui a rodar e eu já podia fazer outras coisas.
Pois tu tiras o olho do boi aqui, e lá está o
mercado português, é suficientemente grande para tu não precisares interagir no primeiro
momento, pelo menos nalguns mercados, o que faz com que tu só
pudesses ir para outros quando já tens aqui uma base instalada suficientemente
grande. Agora, a dor nos Estados Unidos é que vai demorar 10
anos a ser alguma coisa lá. Mas isso, porque tu aqui também
foi a mesma coisa, também demoraste 10 anos de insistir.
Pedro Janela
diga que amanhã 20%, 30% dos consumidores vão usar o relativamente alto.
Não acho que seja o mercado, do ponto de vista das marcas,
além de um gimmick ou outro, que vá alterar a percepção dos
consumidores. E, portanto, podes fazer uma coisa ou outra, mas não acho
que o caminho seja relativamente alto. Do ponto de vista de novas
tecnologias, o que tu sabes hoje em dia é que a interação
por voz vai fazer uma diferença relativamente grande, e isto tem a
ver com as soluções da Amazon, o Amazon Echo, neste caso o
Google Home, e a entrada do HomePod da Apple através da Siri,
e portanto, e toda a facilitação do acesso de serviços e de
compras vai ser feita pela via da voz.
Pedro Janela
seja, tu falas com o aparelho, ele entende e faz o que
tu queres fazer. O que nos Estados Unidos, estamos a falar de
um mercado que mais cresce, que é dominado a 70% pela Amazon,
diga-se passagem. Ou seja, tu mandas vir o Uber e tu mandas
vir as compras só por falares com o aparato. Em Portugal, isto
vai demorar muito tempo, por três razões, porque a Amazon não está
em Portugal ainda, porque a Amazon Echo não entende português ainda, e
porque naturalmente até isto acontecer vou demorar mais 5 anos.
José Maria Pimentel
Lights on! Come on, bate, bate estúpido! Casa portuguesa, não é? Dizerem
lights on, e as luzes ligam, se desligam,
se liga a televisão... E
tempo esquece de dizer
em português e aquilo não funciona. Não funciona, nada, esquece. E, portanto,
acho que a voz vai ter um impacto muito maior nesta interação
fácil do que
Pedro Janela
outra coisa qualquer. Isto eu diria nos próximos 5 anos, 6 anos.
A 20 anos, Eu acho que a próxima grande alteração, e vai
demorar 20 anos a fazer, tem a ver naturalmente com a maior
velocidade da computação quântica, que é algo que nos próximos 20 anos
vai estar em cima da mesa e, portanto, vai permitir processar coisas
a 100 milhões de velocidade em dados não exatos, o que nos
vai aproximar mais do que a computação humana. E a segunda é
o advento dos interfaces com o cérebro humano em tempo real e
no dia em que isso acontecer, em que tu conseguires transmitir no
teu cérebro e a máquina e a máquina do teu cérebro informação
que não passa pelos olhos e que não passa pelos olhos ou
pelos ouvidos, o mundo vai mudar outra vez. E eu acho que
isso deve estar a 20, 25 anos de acontecer.
É, engraçado.
Em que tu colocas uma coisa qualquer aqui no cérebro, a computação
é tão rápida que ele entende as alterações das ondas cerebrais e
que consegue influenciar e consegue ler aquilo
que estás a
pensar e consegue, consegue te injetar conhecimento e consegue retirar decisões, porque
na prática é isso que o cérebro
José Maria Pimentel
Isso é engraçado porque eu estava a conversar com a Arlinda Oliveira
há uns episódios atrás sobre inteligência artificial. A nossa conversa foi sobre
inteligência artificial, mas bem para frente. No fundo, olhando mesmo para o
longo prazo, inteligência artificial do nível humano, sim ou não, consequências e
limitações, a questão da consciência, uma série de coisas. Mas lembro-me de
termos falado de uma questão que é, e que às vezes é
fácil a pessoa esquecer-se, que é tudo isto tem que ter sempre
o racional económico por trás, uma lógica económica, ou seja, há muitas
coisas que até poderiam vir a ser feitas e que não estão
a ser exploradas porque não há interesse económico ali. E o contrário
também é verdade, há outras que até podem ser mais simples e
ou até parecerem laterais mas como tem o interesse económico, essa questão
de controlar o pensamento tem o interesse económico evidente. E os passos
que têm sido dados nesses interfaces de voz que conseguem ler, compreender
a chamada linguagem natural, que é a nossa língua, têm tido um
crescimento grande porque aquilo tem vantagens para o consumidor