#7 Carlos Quevedo - Religião - Cristianismo, Judaísmo, Islão
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José Maria Pimentel
Bem-vindos ao 45°. Neste episódio estou à conversa com Carlos Quevedo, ou
numa pronúncia mais adequada, Carlos Quevedo, visto que o convidado é um
jornalista argentino a viver em Portugal há 40 anos. Carlos Quevedo é
autor do programa E Deus Criou o Mundo na Antena 1, promove
o diálogo inter-religioso e que recentemente deu origem a um livro, que
foi precisamente o modo para a nossa conversa. No livro, o jornalista
aborda as diferenças e semelhanças entre as três chamadas religiões abrahâmicas, judaísmo,
cristianismo e islão. Anteriormente, Carlos Quevedo esteve ligado a alguns momentos marcantes
do jornalismo português. Foi, por exemplo, um dos fundadores da revista Kappa,
que marcou o final dos anos 90. Nesta conversa falámos da história,
fé e práticas dos três credos, mas também do papel da religião,
quer historicamente quer ainda hoje em dia. Aliás, num mundo hoje essencialmente
laico, e por bons motivos, em que a religião passou praticamente a
cingir-se à esfera da vida privada, pode perguntar-se que interesse tem em
compreender este tema. A verdade é que não é possível compreender totalmente
a história da humanidade, e da civilização ocidental em particular, a vida
em sociedade, as várias culturas humanas, ou mesmo os dilemas do que
é ser humano sem olhar para a resposta que as várias religiões
tentaram dar. Um europeu e um português em particular, mesmo um como
eu agnóstico, partilha inevitavelmente grande parte da chamada cultura judaico-cristã, católica, no
caso, e se muitas crenças e práticas destas religiões nos parecem agenacrónicas,
outros valores, e sobretudo as questões que são levantadas, mantêm-se inegavelmente atuais.
Mas chega deste entroito, que não vos quero cansar, para ouvir uma
conversa que é longa. A propósito, não temam, porque a vantagem do
podcast é precisamente que pode ser ouvido um pouco de cada vez.
Uma última nota apenas para realçar a simpatia do convidado, que alinhou
na conversa e que não só me recebeu na própria casa, como
insistiu que o tuteasse, como se diz em espanhol, isto é, que
o tratasse por tu. Sem mais de longas, vamos então conversar com
Carlos Quevedo. Carlos, bem-vindo. Obrigado por ter aceitado o convite. Obrigado, Leo.
Eu estava a vir para cá, estava a pensar na nossa conversa
e ocorreu-me, antes de começarmos a falar daquilo que nos traz aqui,
que é o seu livro, ocorreu-me falar, era perder uma oportunidade, que
a pessoa não tem todos os dias, de falar com um argentino
que está radicado em Portugal, sobre esse facto, o que eu acho
interessante. Eu acho sempre interessante, e já em episódios anteriores tenho falado
disso, acho sempre interessante as questões culturais, das culturas diferentes entre diferentes
países, por exemplo. E no caso, quer dizer, a Argentina e Portugal
têm algumas parecenças, são ambos países latinos, são ambos países católicos e,
portanto, e em que mesmo quem não é católico, e já vamos
falar sobre isso, mas quem não... Mesmo quem não é católico tem
obviamente essa matriz, não é? Em Portugal, uma pessoa pode ser ateia,
mas tem essa matriz católica, mas de outro lado há diferenças, não
é? Argentina é um país muito mais recente do que Portugal, é
um país com uma história muito diferente e depois tem outras coisas
interessantes, por exemplo, há um aspecto que eu acho que é pouco
conhecido, que é que a Argentina, no início do século XX, era
um bocado a coqueluche da economia mundial. Que é a que tem
muita piada, era chamada o celeiro do mundo, se alguém lembra. E
era quase como... O nível era um bocadinho diferente, mas é quase
como a China é hoje ou como o Japão era nos anos
80. Era o país da grande economia emergente, depois teve uma série
de problemas, de altos e baixos até aqui, mas tudo isto, quer
dizer, por uma razão ou por outra, parece-me pouco provável que não
tenha havido, quando viaste para Portugal, um choque cultural
com a
cultura de cá.
José Maria Pimentel
1806,
Carlos Quevedo
era um lugar esquecido pela coroa espanhola porque não havia ouro. Descobriram
que o ouro estava em Peru, os minerais em Bolívia. Então, desde
o século XVII, foi abandonado, mais ou menos, o Vieira e o
Reynat. E então muitos portugueses, uma imigração portuguesa que era já bastante
fluida para o Brasil, depois foi ocupando também o Uruguai e a
Argentina. E se pode dizer que quando a Argentina, na independência, no
século XIX, 1810, já havia uma mix de nação com portugueses. Muitas
palavras criolas argentinas, ou seja, argentinismo, muitos argentinismos vêm de palavras portuguesas.
Ou seja, que há um grande clube, ou havia um grande clube,
que era o Clube Lusitano, na Argentina, que é uma coisa monstruosa,
enorme, ao redor do rio. Bom, a questão é que não me
foi a lei a existência de Portugal. E na literatura também. Na
minha adolescência, já sabia da existência de pessoas, de Queiroz e Camões.
As três figuras que havia comprado a cultura argentina. Para mim, Portugal
existia antes. Eu nunca imaginei que minha vida ia passar na Argentina.
Cheguei aqui com 26 anos, agora já passaram os 60 e estou
aqui. Meus grandes amigos são portugueses, minha vida é em Portugal. Acho
que não houve uma adaptação à Portugal, mas houve, digamos, um acompanhamento
do crescimento do Portugal. Quando eu cheguei em 1978, Lisboa era completamente
diferente, Portugal era completamente diferente.
Uma ressaca da
revolução. Uma podia estacionar enunciado em frente à Brasileira sem problemas, não
havia carros, não havia esses problemas de
José Maria Pimentel
trânsito. Muito diferente do atual. Bom, avancemos para o tema da religião
que está relacionado com o seu livro, que é um livro muito
interessante porque faz a comparação entre as três chamadas religiões abrahâmicas, porque
tem Abraão como patriarca comum e esse é um tema, eu acho
que o tema da religião era um tema que eu já queria
trazer ao podcast há algum tempo porque eu acho um tema muito
relevante e muito interessante mesmo para um agnóstico porque é essencial para
perceber uma série de coisas, pelo menos por três coisas. Em primeiro
lugar, estas religiões abrahâmicas refletem, são consequência do percurso que a civilização
foi fazendo desde a Mesopotâmia até aquela data, até aquele período. E
também ajudam a explicar muito do que veio a ocorrer a seguir,
ou seja, ajudam obviamente a explicar muito da história do mundo ocidental,
que muitas vezes se fez tendo como pano de fundo a religião,
e até quando ela começou a perder protagonismo, até quando Nietzsche ditou
que Deus tinha morrido, mesmo isso teve as suas consequências com o
extremismo que existiu durante o século XX. Disse-te, em primeiro lugar. Em
segundo lugar, a religião, a religião no geral, mas estas três religiões
em particular, refletem muito daquilo que é o ser humano e muito
daquilo que é ser humano. Há muitos dilemas morais, a questão da
morte, a questão da relação entre as pessoas e a necessidade de
estabelecer um tecido social, quer dizer, tudo isso são dilemas que existiram
e existem e estão presentes na religião, depois podem estar mais ou
menos bem resolvidos, mas estão lá. E em terceiro lugar, sem querer
ser demasiado estruturado, mas isto era aquilo em que eu estava a
pensar, Em terceiro lugar, a religião, embora tenha perdido muito terreno nos
últimos anos, em parte pelo ateísmo, mas o ateísmo contemporâneo já vem
desde o século XVIII, desde Voltaire e afins, mas até mais pelo
aquilo que o Carlos chama, se há erro, o apataismo, que é
mais passivo, o que é normal, que é no fundo não ter
essa necessidade. Mas se é verdade que tem por aí desse terreno,
também são verdade pelo menos duas coisas. Um, que não deixa de
existir, ou seja, não deixam de existir crentes de livre vontade, não
é? Não só
por fenómenos familiares. E, por outro lado, a um nível mais micro,
se é verdade que a religião tem vindo a perder aderentes, digamos
assim, Também é verdade que se começa a haver em algumas bolsas
um ressurgir de interesse de algumas pessoas para a religião, o que
mostra que há alguma vitalidade ali, independentemente de se analisar cada religião
em particular ou independentemente da pessoa sentir necessidade disso, mas mostra que
há lá qualquer coisa. Ou seja, pelo menos estas três razões para
mim são suficientes para ser um tema interessante. E o caso no
livro compara as três religiões, no fundo fazendo aqui um elencar rápido
daquilo que é tratado no livro. O livro é de leitura muito
fácil, faz o... Compara as três religiões, compara o judaísmo, que é
mais antigo, com o cristianismo católico, o protestante acaba por ficar de
fora, por acaso também gostava de falar sobre isso, e depois finalmente
o islão, e depois acaba por pegar uma série de temas que
são transversais a todos eles e no fundo perceber como é que
eles lidam, quais são os desafios contemporâneos. Começando pelo judaísmo, apenas, quer
dizer, por ser a mais antiga, mas também porque eu tive a
Esther Mouzunic como convidada e, na verdade, nem falámos muito da religião,
falámos mais do ponto de vista do judaísmo enquanto... Mais dos judeus
enquanto povo do que da religião em si. Mas acabámos por falar
também de uma série de coisas ligadas com a religião e que
são interessantes. Por exemplo, uma delas tem que ver com o facto
do rabino, por exemplo, ser muito diferente de um padre. Há pelo
menos duas diferenças. O padre é o intermediário com Deus, por um
lado, pelo menos no catolicismo, no cristianismo protestante é diferente, e depois
o sacerdote é nomeado enquanto no... O que ela explicava, que eu
achei engraçado, e não sei se acerto a experiência também, falando com
os judeus para este livro, que é a relação com o rabino
é muito mais de um contrato, quase um serviço que o rabino
está a prestar. O rabino é um sábio, é mais um sábio
do que propriamente uma autoridade religiosa como sacerdote. E o que ela
dizia que eu achei engraçado é que se a comunidade que contratou
o rabino, se algo não estiver contente com ele, despecha-o. Enquanto que
o padre é mais ou menos impensável fazer isso, se não caso
extrema não é diretamente.
Carlos Quevedo
O rabino tem uma preparação religiosa, mas, sobretudo, tem estudos bíblicos e
talmudicos. Isso significa que o rabino é a referência cultural e jurídica,
como religiosa, para a comunidade judia. Há uma espécie de código civil
judeu, com suas próprias leis, que, por exemplo, o casamento, o casamento
é o contrato que também se faz na Igreja Católica, o rabino
é mais um notário, porque especifica o contrato feito entre ambas partes,
assina e com as testemunhas provam que este é um casamento legítimo
segundo a lei judaica. No caso do catolicismo, o pai é apenas
uma testemunha. Ele nem é notário, é apenas uma testemunha. O casamento
é o único sacramento que é independente do pai. Duas pessoas católicas
juram ante Deus que vão viver a vida juntos, para bem, para
mal, etc. Toda essa fórmula e estão casados. No judaísmo, para que
esse casamento religioso seja religioso, seja legitimamente religioso, legitimamente judaico, tem que
ser diante de um rabino. E o rabino, e aí, nesse contrato
se pode prever muitas coisas. A questão das tarefas, a questão do
dinheiro, a questão de quanto dinheiro se vai dar à mulher durante
o casamento. Em caso de morte, tudo se pode escrever nesse contrato.
É indo hoje em dia? Sim, agora, hoje em dia, há mais
ou menos um formulário estándar que difere de acordo com as diferentes
comunidades judaicas, porque o judaísmo português e espanhol, que são mais parecidos,
mesmo assim já tem algumas diferenças, já nem falar com o judaísmo
askenazim, de Europa Oriental, etc, etc, E esses contratos podem ser diferentes,
contraditórios, mas simplesmente diferentes, com preocupações diferentes, ou com prioridades diferentes. Ou
seja, esse tema está claro. Ah, com a escolha do rabino. A
comunidade judaica contrata esse rabino e o rabino pode se cansar dessa
comunidade ou a comunidade pode se cansar desse rabino e pronto, há
uma separação e tem que procurar outro revino. Aqui na Sinagoga de
Lisboa há um problema porque há 15 anos que não há um
revino, porque não se põem de acordo, não se põem de acordo
com o revino. Houve um que ficou por muito pouco tempo, ficou
um par de anos, depois se foi embora. Agora estão em contratações
com outros. Mas sim, é uma escolha da comunidade. A questão aqui
em Lisboa é que a comunidade judaica não é tão, digamos, unida
ou militante como outras comunidades judaicas. É mais complicado aqui. Já os
judios, por ser de acordo, é muito difícil entre eles. Quando ainda
por cima sabem pouco, tm menos contactos entre eles, então aí a
coisa é muito mais difícil.
Carlos Quevedo
O estudo rabinico, as regras de como se consegue conceber uma pessoa
sábia. A partir desse momento, há toda uma espécie de registro de
todos os problemas que acontecem no dia a dia e no cumprimento
da lei, porque uma vez que não existia mais o segundo templo
e a diáspora começou, havia coisas que tinha que resolver, porque todo
o culto judeu em Israel, na época de Cristo e antes de
Cristo, estava relacionado com o templo. E depois ficaram sem templo. E
aí começa toda uma transformação das tradições judaicas. Claro, e as sinagogas,
no princípio, eram a casa de uma das pessoas, depois em um
lugar que alugavam, e depois, pouco a pouco, se torna uma sinagoga
como templo, e que não é um templo no sentido que era
o templo de Jerusalém. Ou seja, as sinagogas, depois do século III,
século IV d.C., são lugares de reunião para rezar e para fazer
algumas cerimónias, mas não fazem nem a décima parte das cerimónias que
eram feitas no templo, porque era só no templo que estava regulamentada.
Sacrifícios de animais, festas, rituais que só se podiam fazer no templo.
José Maria Pimentel
É algo que... Tenho quase vergonha disso, mas a pessoa tem que
admitir aquilo porque não faz sentido nenhum. É uma experiência que deve
valer a pena. Mas isto para dizer, eu não estou a falar
de experiência, mas daquilo que ela contou, que eu achei graça, que
uma sinagoga é muito diferente de uma igreja, porque é um espaço
muito menos solene do que é uma igreja, é um espaço muito
mais brilhante, é mais um espaço convivial, as pessoas estão a falar,
estão a discutir, estão a... Enquanto que uma igreja, uma igreja em
Portugal, mesmo numa aldeia, é um espaço soleno, é um espaço onde
não se fala alto, é um espaço até com uma disposição das
coisas que tudo aquilo remete para a solenidade. Eu achei interessante ela
dizer isso. E uma característica interessante do judaísmo é que o judaísmo
parece ser, e do seu livro eu já tinha essa impressão, e
do seu livro transparência, também é que parece ser das três religiões
abrâmicas a mais interpretativa, não é? Aquela em que a hermeneútica tem
um peso maior, o que também lhe dá uma grande flexibilidade. Por
exemplo, o islão parece ter o problema oposto, porque o problema é,
como o álcool não é a palavra de Deus, o que eles
creem é que aquilo foi ditado por Deus, a Malmé ou pelo
anjo Gabriel, mas na prática, vindo direto ou praticamente diretamente de Deus,
o espaço para a hermeneútica é muito menor, enquanto que no judaísmo
há um espaço enorme para a hermeneútica, para a interpretação, e aquilo
é quase... A vitalidade do judaísmo está muito aí, não é? Sim,
mas não só
Carlos Quevedo
na sinagoga. Nas sinagogas poderão discutir, sim, sem dúvida, que pode ser
um sítio barulhento, mas a discussão primeiro é entre rabinos. Essa é
a discussão, quando a discussão passa a... Intelectual. Não é intelectual, é
o mesmo ritual, o mesmo... Pequenas coisas, pequenas decisões justamente da justiça
religiosa. Tal pessoa me roubou tal coisa e não me quer devolver,
mas me pode pagar, mas eu não quero que me devolva. Coisas
Carlos Quevedo
Na Babilônia ou no Egito, eles próprios tinham que tratar de suas
próprias leis. E então, pouco a pouco, se foram fazendo essas leis.
E os famosos, os 10 mandamentos, que são como 300, Sim, sim,
sim, na Torá. Na Torá, na... Há uma quantidade de regulamentações, de
distâncias, de medidas, de coisas, que depois pouco a pouco se foram
adaptando, obviamente. E não só foram adaptando por causa que os tempos
mudam, mas também adaptando-se porque nessa diáspora, como eu tinha dito antes,
as populações judaicas na Europa Oriental, na Rússia, eram diferentes das sefarditas
na Península Ibérica e no Norte de África, e diferentes, ao mesmo
tempo, mais do Oriente Leste, onde também havia comunidades... E para a
Sul da África, exatamente. Claro, e então tudo vai em discussão.
Carlos Quevedo
Por exemplo, a poligamia não é abolida na Bíblia. O que acontece
é que, por causa do uso e das boas costumes, a monogamia
está instalada, mas só se proibiu a poligamia em Israel nos anos
70. E isso era porque com os etíopes, que vinham do Oriente
com muita poliedade, a coisa já começava a ser... Não tinha discreção,
digamos. É difícil, é difícil. É muito difícil. E é a questão
da vida... Como é que se chama? A interculturalidade. A interculturalidade, alguém
diz, é dos muçulmanos e cristãos, ou o que for, mas dentro
da própria religião há interculturalidade. Os cristãos conseguiram uma solução simples, que
é a autoridade papal. Agora, com o judaísmo, você só tem um
livro. Então, quando falta alguma coisa em um livro, tem que discutir.
E isso é um dos elementos que encontramos em um tal Mood
que são centenas de livros onde se falam de todas as discussões
que tiveram e uma coisa que puse no livro que me fascinou
que quando perde, há uma proposta, não é votada, não ganha a
discussão, fica registrada qual foi a proposta que perdeu, que é como
uma espécie de respeito à residência. Não se pode fazer como diz
aquele senhor que diz tal coisa e tal outra. Se faz de
tal maneira, mas se põe aquilo que não foi aprovado, que é
um pouco como uma memória futura. Isso, se calhar algum dia, nos
pode servir.
Carlos Quevedo
Claro, é a coisa de quando foi Mahomet que começou a falar
da religião do livro, ou pelo menos se supõe que foi a
primeira pessoa que definia o judaísmo como a religião do
livro.
E o que é certo é que a discussão, A reflexão sobre
os textos sagrados é indissociável da tradução judaica. E foram eles. Nos
inícios do cristianismo existe a mesma tradução. Quando, depois da morte de
Cristo, São Paulo começa a organizar a coisa, e depois há imensas
dissidências. E todos os séculos, os três primeiros séculos do cristianismo, é
uma história assim, por vezes sanguinária, por vezes de uma subtileza intelectual
surpreendente, porque se discutia tudo. Porque é a coisa de como é
ser um bom religioso. Os judeus encontraram que a maneira de ser
um bom judeu é cumprindo a lei do livro, e quando há
dúvidas, discutirlas, ser discutida por os sábios. Em os primórdios do cristianismo,
a autoridade papal não era tal, não existia tanta autoridade papal E
se discutia coisas como se a Virgem Maria, sendo humana, podia ser
a Mãe de Deus. E isso trouxe cismas. Era um problema, porque
um ser humano não pode ser. Ou ser os dois coisas ao
mesmo tempo.
Claro.
E o mesmo com Jesus. Jesus foi Deus desde que nasceu, mas
se era homem... Então, isso tudo se discutia muito no princípio. E
isso, eu acho que também tem a ver com as origens judaicas,
de discutir para saber como se cumpre melhor a palavra de Deus,
que é uma boa intenção que pode dar para o desastre.
Carlos Quevedo
Porque não só por minha ignorância, mas porque há muitas dúvidas que
se põem. Por exemplo, agora está muito de moda a tradução da
Bíblia de Frederico Lorenzo. Agora, o que ele está a fazer? Ele
está a fazer a Septuaginta, que são os livros traduzidos do Hebreu
ao Latim, os Evangelhos em Grégo, Não, não, sim, sim, sim, mas
tudo estava em grego, desculpe-me. Tudo, do hebreu ao grego, os livros
da Torá e o resto, e os evangelhos. Agora, se bem que
nos livros judaicos há uma antiguidade que mais ou menos os certifica,
ou lhes dá uma característica, uma propriedade de autenticidade, com a questão
dos evangelhos é muito mais complicada, porque muitas coisas foram escritas como
as epístolas de São Paulo, mas há muitas coisas que foram escritas
dois séculos depois de Cristo, como os
José Maria Pimentel
Não, mas é, mas e essa, aquilo que dizias à pouco, essa
discussão existiu no início, depois deixou de existir, embora, embora continue a
haver também grande interpretação teológica no cristianismo e no catolicismo em particular
e alguma tentativa de encontrar ali alguma flexibilidade, mas voltando àquilo que
estávamos a falar há pouco, fazendo agora a ponto para o Islão,
o judaísmo tem esse lado fascinante, desse lado interpretativo e quase jurídico,
como nós
falávamos há pouco, que é interessante porque, entre outras coisas, aquilo está
a criar e é aquilo, uma das coisas que é onde explicar
como é que um povo quando consegue sobreviver, manter uma cultura na
diáspora durante quase 2.000 anos, é que aquilo vai criar instituições, não
é? Eu digo que é muito contemporâneo porque as instituições são exatamente
aquilo que dá corpo às sociedades avançadas. As sociedades avançadas são aquelas
que têm maiores instituições. Isso é algo que eu acho muito interessante.
Relativamente a essa questão da flexibilidade dos textos em que se baseia,
o Islão parece, aquilo que eu falava há pouco, é ser um
texto muito mais rígido, lá está, porque é a palavra de Deus.
E isso, embora também no islão existam interpretações flexivas e mesmo e
mesmo aqueles versículos mais polémicos dá para contextualizar, há aquele muito conhecido
da relação do homem com a mulher, que diz que o homem,
no fundo, por linguagem simples, se ela se portar mal, ele lhe
deve bater, mas depois a palavra usada também tem muitas traduções, mas
como aquilo é a palavra de Deus, é difícil fugir disso, embora
haja algum trabalho nesse sentido. Mas também é fácil de perceber, do
lado do Alcorão, é fácil perceber onde é que está a origem
do extremismo, por exemplo. Porque enquanto o judaísmo tem quase intrinsecamente essa
interpretação, no islão ela não está dessa maneira tão arraigada e, portanto,
pode haver comunidades, como existem, que interpretam o Alcorão literalmente, e ao
interpretá-lo literalmente e ao adaptar aos dias de hoje algo que foi
escrito há 1400 anos, 1500 anos já, dá aso a esse tipo
de extremismo. Aliás, há uma coisa que eu... Este é um episódio,
um talho com piada. Eu não sei se alguma vez ouviste isso,
mas eu apanhei isto num programa americano do Farid Zakaria, que é
um jornalista americano. Ele tem um programa que se chama GPS, Global
Public Square, acho que é o nome do programa. O programa americano
é sobre assuntos internacionais, sempre na perspectiva americana. Ele tinha lá uma
pessoa que se chama Irshad Manji, não sei como é que se
escreve, mas que é uma escritora, uma escritora canadiana reformista, mas muçulmana.
E ela falava de uma coisa com muita piada, que é aquele
mito que a pessoa já ouviu em todo lado dos jihadistas, que
o desejo deles é ao se oferecerem pela religião o anseio é
que chegando ao céu depois vão ter 70 virgens ou queira uma
coisa desse género. E o que ela diz, baseado num trabalho de
um sábio-muçulmano, Primeiro, isso não está no Alcorão em lado nenhum, isso
não está em lado nenhum no Alcorão, de todo. As promessas que
existem no Alcorão, aliás, isso é no seu livro, é de um
ambiente paradisíaco, depois da morte, mas não, mas nenhuma descrição das 70
virgens. E o que está em alguns escritos e que foi traduzido,
que pessoas traduziram erradamente como virgens, originalmente não era virgens, mas sim
passas. Passas de uvas. Era? Passas de uvas. Passas de uvas. Porque
não tem nada a ver, não é?
Carlos Quevedo
sei se é verdade ou não, mas achei. Eu sei que no
Corão estão os 70 pássaros, estão em outros textos. Depois há comentários,
está o Hadith, que é o livro jurídico musulmano, e também a
vida do profeta, que são as testemunhas sobre a vida do profeta,
onde há muitas coisas que é um olim, mas há muitas coisas
que são utilizadas tiradas desses livros. Agora, o que é certo é
que a discussão é menor, e que no Corão há uma parte,
digamos, de apelo ao belicismo e outra parte que é mais ou
menos mais pacífica.
Carlos Quevedo
religiosa. Ou seja, que tem que lutar contra os filisteus, porque querem
tirar tal coisa, mas não é uma questão teológica ou religiosa. O
cristianismo não começa a lutar contra a religião mágica, que seria o
judaísmo, mas até nas primeiras décadas, no primeiro século, as sinagogas eram
usadas para encontrar os cristianos. E aí está a revolução do cristianismo,
que já há uma exigência pacífica. Não se pode amar a Deus
se não for pacífico. Amar o próximo. E então, de repente, pode
haver metáforas ou analogias guerreiras, mas não há uma palavra que possa
dizer que mesmo apela à violência. O islã, quando aparece, tem vários
inimigos. Um inimigo que seria a tal interculturalidade, porque estava rodeado de
cristãos e de judeus. E, por outro lado, estava rodeado de inimigos
declarados, que eram todas as tribos politeístas, e se tinham que defender.
Então, essas tribos politeístas tinham seus territórios, e então não aceitavam que
entrassem os seguidores de Mahoma a esses territórios. Ou seja, havia um
estado de
Carlos Quevedo
Depois, há uma teoria que eu gosto muito, que diz que Mahoma
escreveu parte do Corão em Medina, e aí era uma zona pacífica
e que não havia nenhuma ameaça imediata. Mas quando foi a Meca,
aí estavam os inimigos que não queriam que ele se instalasse e
se instalasse e seus seguidores. E então a parte, digamos, a parte
violenta do Corão está toda escrita pensando no perigo imediato e presente
daquela altura, que eram as tribos politeístas, as invasões e a territorialidade.
E a coisa interessante, ou interessante, ou que complica mais tudo isso,
é que, assim como na Bíblia, temos uma sequência mais ou menos
cronológica dos acontecimentos, Gênesis, sexos, levíticos, e depois estão os evangelhos. Puxa,
um crono. Sim, um crono. O Corão está em ordem de maior
a menor. Os maiores textos são os primeiros e os textos mais
curtos são os últimos. Ou seja, não temos essa cronologia, então não
podemos, com nenhum tipo de referência, fazer uma cronologia de sequência, sobretudo,
de sequência em que esses textos foram escritos. Por aí os últimos
foram os primeiros.
José Maria Pimentel
Sim, mas é assim, é sempre probabilístico. A pessoa não tem a
certeza. O que dificulta isto é que enquanto as outras duas religiões
não acreditam que nos seus livros sagrados está escrita diretamente a palavra
de Deus, o Islão acredita que sim e a partir do momento...
Esta contextualização que estavas a dar, para mim faz todo sentido, mas
se eu fosse musulmano seria difícil, se eu fosse um musulmano ortodoxo
seria difícil de ser persuadido disso porque para mim é cada livro
sagrado que tem a palavra de Deus. E se ele for ortodoxo,
passar a ultra ortodoxo, vai tomar à letra tudo que lá está.
Esse é o grande problema, não é? Porque o que eu acho
nisto é, este é um tema sempre, o tema do, não tanto
em Portugal, porque por causa da nossa homogeneidade étnica, mas por exemplo
nos Estados Unidos é um problema grande. É muito difícil discutir este
tema porque há duas perspetivas opostas. Há a perspectiva trampiana, que é
a perspectiva de que os tipos são todos uns terroristas porque são
muçulmanos, e depois há outra perspectiva, que é a perspectiva politicamente correta
de dizer que ser muçulmano não tem nada a ver com isso.
E para mim há algo no meio que tem alguma razão de
ser, que é? Há claramente o facto do livro ser editado por
Deus e de ter este contexto leva a que um ultra-ortodoxo o
possa interpretar literalmente. E ao
Carlos Quevedo
interpretar literalmente... Muito aos próprios muçulmanos de não ser mais insistentes com
as novas em educação islâmica sobre a importância, ou melhor dito, o
relativismo que existe nas afirmações violentas. Mas isso não é, se você
pensar, os primeiros movimentos muçulmanos muito fortes que houve nos Estados Unidos,
como se chamava, anteriores a Black Panther. Malcolm X? Exato, exato. Já
eles tinham uma atitude... E o seguidor. E depois de Malcolm X,
houve outro tipo que era, inclusive, um bocadinho mais extremista que o
Marco, que não me lembro do nome, Elia, Elia, ou não sei
quanto. Aproveitavam um pouco o apelo, não o apelo à luta, mas
o apelo a se sentirem perseguidos e discriminados e que havia que
lutar contra a corrupção exterior, é utilizada para a comunidade preta americana
como uma forma de unidade dentro de um islam americanizado com problemas
de negros, com problemas de discriminação racial. Identificar a discriminação racial com
a discriminação musulmana foi uma invenção musulmana americana. Porque as comunidades, há
muitas comunidades musulmanas americanas, já havia naquela altura, que eram completamente pacíficas,
não tinham nada a ver com isso. É por isso que eu
acho que é a comunidade islâmica que mais deveria discutir qualquer interpretação
que tenha a ver com a violência ou com uma autodiscriminação, com
respeito, ou diabolização dos vizinhos. Os vizinhos que acreditam no crucificado ou
que são judeus são inimigos de nosso povo. E isso foi, em
algum momento, conjunturalmente, e por questões políticas ou por questões de fanatismo,
mas isso já, por amor de Deus, com tanta informação tem que
servir para alguma coisa. Onde estão as redes sociais quando precisamos delas?
Exatamente. E a religião
José Maria Pimentel
que aquilo tinha o seu quinto estratégico. Era difícil, mas não era
errado mesmo do ponto de vista estratégico, porque ele sabia que para
ter a opinião pública, que era branca, que era fundamental, ser sensibilizado
ao lado dele tinha que ser pacifista, mas não era nada fácil
e não foi nada fácil, mas esse é outro tema fascinante. Voltando
aqui àquilo que falámos há pouco, das três religiões, há uma que
ainda não falámos curiosamente, ainda não falámos em tanto detalhe, que é
o Cristianismo e o Catolicismo em particular. Como eu tinha dito há
pouco, o livro, também por estar escrito em Portugal, toma deliberadamente a
matriz do cristianismo católico, antes das outras, o que eu até percebo,
porque o protestantismo depois também é tão heterogêneo que seria difícil para
ela, embora seja interessante. E uma das diferenças, há várias diferenças entre
o livro, no fundo dedica-se muito a isso, a explorar a semelhança
de diferença entre os três credos, e há uma diferença do catolicismo,
do cristianismo, é ser de longe aquele que é menos prescritivo em
termos de hábitos, por exemplo, de alimentação e desse tipo de restrições,
o que é engraçado. Eu não sei se tens alguma intuição em
relação à explicação que está por trás disso. Porque há muitas explicações,
a explicação mais lógica para as proibições, tanto no Islãm como no
Judaísmo, tem a ver com quase uma questão de saúde pública, não
é? Que está associada... Sim, mas isso o negam.
Carlos Quevedo
É dizer, digamos, a ortodoxia judia nega que haja uma relação entre
saúde pública ou utilitarismo, digamos, na dieta judia. Eles Dizem que não
tem nada a ver com isso. A coisa de coxer ou coxer
tem a ver simplesmente com disciplina e limitação. E de nenhuma maneira
associa isso à saúde pública. Se você faz com qualquer rabino, qualquer
sujeito, ah, não comem porco porque tem medo da tênia, não é
isso? Não,
não
é isso. É porque se proíbe uma coisa que é saborosa, que
está perto e não se deve comer. E isso está no Levítico,
de não comer carne de porco, e não há nenhum tipo de
relação com a saúde pública. Se isso, originalmente, originalmente, estou falando de
4 mil anos atrás, não? Mais de 4 mil anos atrás, estamos
no ano 2000, 5 mil anos atrás. Se há 5 mil anos
atrás era assim, que Era porque houve alguém que ficou doente comendo
uma ostra, ou comendo um cangrejo ou um porco, e aí se
decidiu proibir. Ninguém sabe. Não me surpreenderia que uma coisa pudesse trazer
a outra. Mas, de uma maneira ortodoxa, religiosa, clara, é que não
tem nada a ver. Isto é assim porque está escrito. E se
está escrito, nós cumprimos. E não é por nosso bem, é por
nossa disciplina e por nossa pureza.
José Maria Pimentel
uma proibição. Uma das funções da religião é disciplinadora. E o catolicismo
hoje em dia está muito difuso, mas há uma série de práticas,
como joar, não comer carne na sexta-feira, uma série de práticas, mas
que são limitativas, não são proibitivas, que é no fundo para a
pessoa se conseguir disciplinar e para valorizar, em certo sentido, quando nos
dizem que pode fazê-lo. A proibição, intuitivamente, parecer-me a ter outra outra
razão de ser, porque é proibir de todo. Porque um tipo que
nunca come carne de porco também não vai saber que a carne
de porco é boa, não é? Claro. Não é? É como a
moral sexual da igreja, por exemplo. É toda aquela parte do suposto
de que a pessoa sabe o que está a perder, não é?
Se a pessoa não souber o que está a perder, não adianta,
não é? Pois, mas aí há duas coisas. Uma, por exemplo, no
caso do cristianismo, porquê se pode comer tudo? De quem sabe o
que está perdendo, e quem não sabe o que está perdendo.
Carlos Quevedo
Não adianta, né? Isso foi uma decisão feita pelos cristãos que tem
a ver com o desprendimento da tradição judaica. Quer dizer, os primeiros
cristãos eram os judeus. Então, a partir de ser cristiano, havia que
romper com os laços anteriores do judaísmo. Um desses laços era terminar
com a circuncisão. Um cristão não precisa ser circuncidado, que era uma
coisa própria do judaísmo. Depois, as comidas, se perguntavam o que podemos
comer e São Paulo diz que não somos cristãos, podemos comer tudo
e pronto. E depois fala de moderação, depois fala dos excessos, como
um verdadeiro cristiano não comete excessos em nada.
Carlos Quevedo
Não, sim, não, não. A moderação é defendida por as três religiões.
O que acontece é que tanto no Islã como no Judaísmo estão
escritas nos livros sagrados. Nos evangélicos não temos essas limitações. Essas limitações,
ou essas dietas, ou essas resoluções foram dadas nos primórdios do cristianismo,
independentemente dos livros sagrados. Já são os, digamos, o grande organizador a
partir de São Paulo, e depois os papas que começam a consagrar,
que é o que fica dessa tradição iniciada com o Cristianismo. E
acho que foi o Papa Gregório, no século VI, não, VII e
VIII, Papa Gregório, que fez a limpeza do que é e do
que não é, para que não tivesse mais dúvidas. A questão da
circuncisão, por exemplo, é outra. Não sei qual é
José Maria Pimentel
Mas o cristianismo quando surge tem, e isso é outro aspecto interessante,
que às vezes hoje em dia, eu acho que nem sempre as
pessoas se lembram disto, mas é inegável que quando o cristianismo surgiu
foi revolucionário em larga medida. Por
um
lado, partiu do judaísmo, que ele próprio já tinha sido revolucionário, mas
tem uma série de valores, da mensagem de Jesus. Abstraímos da questão
religiosa, do ponto de vista filosófico, do ponto de vista comportamental. É
algo que, se hoje em dia pode parecer um agnóstico que é,
que é um bocado, que tem muitos anacronismos, que é datada, na
altura tinha uma série de coisas que eram revolucionárias, a questão do
amor ao próximo, mesmo o papel da mulher, por exemplo, isso veio
no livro, o papel da mulher, a questão da Maria Magdalena, por
exemplo, mas o papel da mulher na Bíblia e no Novo Testamento
é diferente e é melhor, não é? Mais agradecido e mais igualitário
do que a sociedade que existia na altura e até do que
aquela que veio a existir depois, criada até pela própria igreja
Carlos Quevedo
já. Não é? Que eu acho um fenômeno fascinante. Não, a igualidade
é assim... Quando falamos que a civilização ocidental é judeocristã, e é
verdade, é judeocristã, e às vezes eu acho incrível como a amnésia
de muita gente querendo tirar os símbolos, não se pode fazer isto,
não se pode mencionar santos. Quando toda a civilização foi construída, de
uma maneira, vamos ver se consigo dizer isso claramente, Os problemas filosóficos
que os gregos dedicaram três séculos maravilhosos a tentar defini-los e solucionar-los,
muitos deles ficaram absolutamente resolvidos com a aparição do monoteísmo. O monoteísmo
dá respostas que a filosofia
Carlos Quevedo
monoteísmo. Não, não, por exemplo, o porquê que estamos aqui. Quando se
fala que há uma criação divina, o mundo começa por um ser
superior, um espírito organizador. Depois vemos se é um Deus pessoal, um
Deus com as características próprias da prática religiosa. Mas em termos filosóficos,
estamos dando um princípio em um ser superior, um princípio ao mundo
e um fim, que é voltar a esse ser superior que nos
criou em um dia final onde, atenção final, não porque se termina
o mundo, mas porque muda o mundo. Sobretudo no caso do judaísmo,
ele explica muito bem que é um novo avenir, não é uma
vida sobrenatural. O cristianismo é mais espiritual, e mais espiritual não, digamos,
é mais abstrato e fala simplesmente de uma espiritualidade que participa do
ser de Deus, uma coisa assim. Ser de Deus, não uma coisa
assim.
Carlos Quevedo
sair no dia do juízo final, voltar... Para quando está na segunda
vinda de Cristo e em... E em lá já há outra condição
mais, a chegada do Messias e outras condições, e depois há uma
nova vida, um novo avenido. Não se fala que... E depois eles
fazem a distinção de que podem ser As almas com os corpos
também. A história da ressurreição dos corpos não é uma invenção cristã,
mas é uma coisa judia também, que os cristãos continuam. O que
faz sentido, de alguma maneira. Mas Essa é uma das respostas que
a religião, a filosofia, nos dá. E a outra coisa é a
preocupação de como fazer uma vida boa, filosófica. Como ser correto, como
ser um homem de bem. Isso que em filosofia é importante, que
Aristóteles põe as virtudes, que são virtudes, assim, de heróis, praticamente. O
cristianismo e o judaísmo, o cristianismo mais que o judaísmo, torna a
coisa muito mais simples, com a humildade, a bondade, a caridade e
a preocupação do outro. O judaísmo é mais complexo, tem muitas coisas
em comum, mas é mais complexo. No judaísmo não há caridade, mas
partilhas, outras coisas.
José Maria Pimentel
Sim, mas esse é... Já agora, fazendo um parênteses, já voltamos a
isso, mas a questão da caridade no judaísmo é outro ponto que
eu achei muita piada, porque a caridade, por exemplo, em Portugal nós
vemos isso muitas vezes no debate, que A esquerda, por exemplo, critica
muitas vezes a caridade do ponto de vista do católico e, a
meu ver, critica a impacto justamente porque a caridade, é evidente que
a caridade tem um lado positivo, no negar isto, parece-me uma imbecilidade
pura, mas a caridade também, historicamente, criou uma relação E o que
eu achei muito interessante no judaísmo, havia aqueles níveis do Maimonides, o
filósofo judeu, que ele estabelecia vários níveis
José Maria Pimentel
dar-lhe. A questão de o judaísmo viver bem e isso é, por
exemplo, algo que é comum com o protestantismo, eu lembro de me
aperceber disso quando estava a falar com o Costelmo dos Unidos sobre
isso, que é ver com bons olhos o enriquecimento. Por exemplo, o
catolicismo tem uma má relação com o enriquecimento, o judaísmo não. Ou
seja, a pessoa faz bem em enriquecer, em
ganhar dinheiro.
Mas depois o outro lado disso, que é interessante e que é
diferente da caridade, é que a pessoa deve ganhar dinheiro para o
distribuir e depois nesses níveis, nessa ascensão de pureza do Maimónides, O
que é interessante disso é que a preocupação dele, que eu acho
ultra contemporânea, não diria sequer, não sei, é universal, não é sequer
contemporâneo, é que a pessoa mais pura é aquela que dá preservando
a dignidade daquela que recebe. E o máximo é, o penúltimo nível
de salva-verga é aquele que dá sem a outra pessoa saber quem
deu e sem saber a quem deu. E o último nível dá
antes do outro precisar, que é uma espécie de
Carlos Quevedo
super súmido. Sim. Agora, em defesa do cristianismo, tenho que dizer que
a caridade é uma palavra que tem mais pressa agora porque acho
eu que, sobretudo a esquerda, que fala que isso é caridade, o
Estado tem que cumprir sua obrigação e não dar caridade, etc. Esse
tipo de discurso que acho absolutamente ridículo, porque se vamos à história
europeia, o germe da segurança social, da assistência gratuita, tudo começa, os
conventos e tudo começa com o cristianismo, quando abrem os leprosários, em
tempos de guerra os conventos se cenavam de feridos, quando havia doenças,
os que ficavam eram naufragos, e que me metiam. Quer dizer, há
uma quantidade de coisas que os cimentos do que é o serviço
de saúde gratuito e assistido começa com as pequenas comunidades cristãs na
Europa. Em tempo de crise, e não só. E isso, pouco depois,
foi começando a ser compartilhado por alguns príncipes, mais generosos, outros que
não, e depois, pouco a pouco, chegamos ao século XIX, onde se
descobre que o Estado tem obrigações para os cidadãos, sejam eles quem
forem. Também isso da palavra caridade é algo horroroso que a despreziguem,
como o voluntarismo, o voluntariado e a caridade. São duas coisas importantíssimas
dentro do cristianismo e são virtudes absolutamente independentes de ser cristiano ou
não. Ser uma boa pessoa é ajudar também a nós.
José Maria Pimentel
A questão da caridade, eu acho a crítica que os partidos de
esquerda fazem exagerada, mas eu acho que há algo ali que está
correto, que é a caridade muitas vezes cria uma relação de dependência
em que uns estão em cima, outros estão em baixo, é o
lugar de cada um deles, os pobrezinhos lá em baixo, aqueles com
posses cá em cima e havia uma frase conhecida de uma pessoa,
uma fêmea tradicional, que dizia que nas férias brincava aos pobrezinhos e
falava nisso. É obviamente descontextualizado, mas isto para dizer, para mim essa
crítica está parcialmente certa. Agora, é evidente que o modelo que nós...
O Estado Social Europeu, por exemplo, resulta de... É a confluência de
duas vias e uma delas é esta, que é a via que
depois deu origem à chamada democracia cristã. A outra via, e igualmente
importante, é a via da socialdemocracia, que no fundo partiu do socialismo,
depois o moderou e teve essa preocupação mais niveladora de mudar a
cidade. Eu acho que ambas são importantes e eu discordo, quer dizer,
sem ter aqui também uma posição muito magnânima, mas discordo tanto da
crítica a uma como da crítica à outra, quer dizer, claramente a
caridade por si não chegava e eu percebo a crítica nesse sentido,
mas é evidente que está ali algo de bom, não é? E
quando alguns praticavam caridade havia outros que não faziam nada. E ao
estar a criticar quem pratica a caridade está-se a tratá-lo por igual
daquele que não faz nada. Claro. Daquele que está quieto e que
está a gastar dinheiro ou o que seja, não é? Isso não
faz sentido nenhum. Mas enfim, mas Falaste num ponto interessante a questão
dos gregos e no fundo de todos aqueles temas sobre os quais
os filósofos gregos tinham debruçado e que a religião no
Carlos Quevedo
Mas é uma solução que funciona, porque há esperança. Não digo que
a resposta aos problemas filosóficos seja dada pela religião, mas que a
religião ajude e dê uma proposta prática. De repente, saber como é
que se vive para saber que se tem uma vida boa. Então,
se cumpre as leis, vai à mesa e faz isto, faz aquilo
e faz outro. E isso é um sonho. Ter uma guia de
como saber de ser uma pessoa boa e cumprir-la é uma grande
ajuda, coisa que a filosofia não consegue dar porque há tantas dimensões,
desde a própria vontade, o poder dos sentidos, a credibilidade dos sentidos,
enfim, é assim, há muitas coisas. É,
José Maria Pimentel
e a maior, eu acho que havia várias escolas filosóficas, mas não
tinham, não conseguiam ter o peso de uma religião, o que é,
O que é interessante, olhando para trás, isto é uma análise muito
superficial, mas o que me parece é que quando surgiram estas religiões
monotaístas abrahâmicas, que no fundo estão na matriz do mundo ocidental, no
sentido lato, aqui incluindo o Islão, portanto excluindo no fundo o mundo
oriental, que é outra realidade completamente diferente. Elas fizeram, para mim, fizeram
uma coisa boa e uma coisa má. Fizeram uma coisa boa porque
deram essa resposta e, no fundo, criaram uma moral que incutiu nas
pessoas princípios, que obviamente nem toda a gente seguia e não eram...
Tiveram muito longe de ser seguidos por todos e ser bem seguidos
muitas vezes, mas foram essenciais para uma moral que nós hoje em
dia partilhamos e reconhecemos como boa. E que lá está, não existia...
No período clássico havia várias filosofias, mas nenhuma delas se tornou dominante
dessa forma, não é? E cada uma delas tinha as suas conclusões
e tinha o seu memório de Estado, mas não se tornou dominante.
Mas, por outro lado, ao dar essas respostas, claro que era uma
resposta, mas ao dar respostas, fechou muitos campos de diálogo, não é?
Que só voltaram a abrir-se, voltaram a abrir-se, exceto com uma ou
outra personalidade fora de série, voltaram a abrir-se na altura do iluminismo.
E até aí tiveram mais ou menos fechados porque já estavam respondidos,
não é? Eram questões que já estavam respondidas. Era exatamente o que
eu ia falar. São exceções...
Carlos Quevedo
Não, não, quero dizer que esse iluminismo traz, desperta muitas pessoas, e
põe a filosofia a tratar de assuntos com menos medo que antes.
Porque era difícil falar de outra coisa que não fosse... Ter um
discurso fora do catolicismo, fora do Vaticano, naquela altura, Era uma coisa
muito... Perigosa, claro. Claro, era perigosa, mas isso é o problema de
quando os pensamentos hegemónicos
têm
poder e pronto, e é assim.
José Maria Pimentel
Depois fecham, não é? No fundo uma ponteira é essa, que depois
fecham a conversa. Falar em fechar, E se fizéssemos aqui uma pausa?
Não querendo fazer, agora parece que estou em minha casa. Não, vou.
Estilético. Bom, fizemos aqui uma pausa estratégica para beber um gin. Não
sei se pode dizer isso, agora nestes tempos ascéticos, que ajuda a
conversa também. Não lembro exatamente, não íamos há pouco, mas há uma...
Mas estávamos, pelo menos, a falar, ou tínhamos estado a falar, daquela
questão da filosofia, da religião, enquanto respostas para a filosofia. Há um
tipo chamado Jordan Peterson, que é um canadiano, que tem estado muito
na guerra, não provavelmente em Portugal, mas tem tido... Ele já é
um tipo de meia-idade, mas de repente tornou-se uma espécie de personalidade
da moda, sobretudo naquela zona do globo, nos Estados Unidos e no
Canadá. A formação dele é Psicologia Clínica, mas ele estuda muito de
uma perspectiva quase antropológica os temas ligados à religião. A tese dele,
que eu acho interessante, embora não partilhe de algumas coisas, também não
a conheço tão a fundo assim, é que a religião, nomeadamente estas
religiões, incorporam muito, era aquilo que eu falava no início, ou seja,
incorporam muito daquilo que é essencial da condição humana, dilemas morais, a
questão da morte e por aí em diante. E ele chama atenção
a um ponto importante que é dão ordem ao caos, ou seja,
a vida é caótica, a vida de qualquer pessoa é caótica, hoje
em dia é menos caótica, o que também ajuda a explicar as
pessoas serem menos religiosas, mas continuam a ter muito caos, sobretudo caos
interior, não é qualquer pessoa. Metaforicamente é fácil de perceber e as
religiões têm esse papel de dar ordem a esse caos, através das
respostas que trazem. E depois há outro lado interessante que é, porém,
que chama a atenção, que é, ele fala muito em arquétipos comportamentais
e muito ligados a estes desafios e ele diz que o corpos
doutrinário das religiões têm embutido muitos arquétipos do que é ser humano,
da cultura humana e, por exemplo, ele fala dos heróis, por exemplo,
ele diz que Jesus, ele chama-lhe um meta-herói, sabe o que é?
Para ele a personalidade de Jesus é como se fosse, como se
nós tivéssemos tirado o melhor de todos nós e depois desse melhor
ainda fôssemos tirar o melhor por cima disso, não é? Quase, fazendo
aqui a metáfora curge, quase aquela questão de destilar as bebidas, de
ir tirando, purificando cada vez mais. E ele fala, temos a figura
de Jesus e há outras figuras desse género, como com esse lado
de, no fundo, o herói depurado, que enfrenta os dilemas de todos
os seres humanos e que os resolve da maneira certa e da
maneira que depois cria o exemplo para o que as
Carlos Quevedo
não é... Não, não, peraí, não é interessante. O que é certo,
é dizer, a intromissão de Jesus na história é realmente uma modificação
muito grande na concepção de Deus. Quer dizer, o Deus personalizado, o
Deus bom, um Deus justo, a santidade como modelo de vida, Isso
é uma intromissão de Jesus na vida cotidiana universal, no mundo. De
repente, há um modelo, ou mais do que um modelo, uma espécie
de cirurgismo que funciona em todo momento. Amar os outros como a
ti próprio e amar a Deus. Com essas duas coisas, primeiro se
reconhece a autoridade, o origem e o fim da vida, e amar
os outros torna todo o relacionamento pacífico, dialogal, de convívio e de
solidariedade. Com isso, esse siloísmo de pronto responde ao problema filosófico de
uma vida boa. Uma vida boa qual é? Aquela que ajuda a
você. E de pronto, você pode pensar que uma coisa assim, quase
hippie, de pronto é uma coisa inaplicável, ou de uma dificuldade terrível.
Impraticável, não é? Terrível.
Carlos Quevedo
Não só cita muito, que é a história das tentações, quando vai
ao deserto e tem três tentações, o demônio aparece e o tenta
com três coisas, a Jesus. As coisas que lhe propõe o demônio
são, será dono de tudo isto, todo mundo te vai amar e
te te obedecer e outro todo mundo vai te reconhecer. São todas
coisas da sociedade de espetáculo, de pronto, e da riqueza. E Jesus
diz não, não, não às três. Claro. Agora, o engraçado disso é
que essas tentações são aplicáveis ainda. Exato, sim. Não? De pronto, são
as tentações do poder de reconhecimento e de obediência, não? Que é
como uma fantasia maléfica que todo mundo gostaria de provar alguma vez,
não? Claro,
Carlos Quevedo
Mas Jesus foi provido. Agora, eu queria uma coisa no princípio que
mencionaste e que eu expliquei brevemente porque não havia escrito no livro
que era sobre os protestantes, que é uma coisa que me deu
muito apena incluir-la porque não tinha tempo para conhecer a fundo um
universo que é muito, muito, muito complexo. E atrogêneo. Exato. E, Por
outro lado, como podia eu meter-me num mundo onde nem eles próprios
concordam? Agora, o que é fascinante, isso sim, são as primeiras figuras
do Protestantismo, não? Calvino, Lutero... Mas Lutero é que... Eu gostaria, se
tivesse uma oportunidade, de me meter no mundo de Lutero. Eu acho,
por exemplo, que este livro faz um trabalho muito
Carlos Quevedo
do Cristianismo, vai ao Judaísmo. É próximo ao Judaísmo, não é? Exato.
E o cristianismo, para separar-se do judaísmo, vai para os gregos. Assim
como o protestantismo vê com outros olhos o judaísmo para formar sua
própria tradição, o cristianismo, para separar-se do judaísmo, vê os gregos para
reformular ou para formular, digamos, todo o cano. E por isso, não
é por acaso que Santo Tomás, quase mil anos depois de São
Paulo, se preocupa com Aristóteles.
José Maria Pimentel
Mas ele era cidadano Romano, mas... Mas essa é uma concepção... Há
uma concepção errada. Eu próprio lembro-me de me ter apercebido disso, porque
a pessoa, quando fala da igreja, fala-se da igreja católica romana, a
pessoa sabe o peso do catolicismo no mundo ocidental e pensa no
catolicismo e no cristianismo como tendo surgido no ocidente, quando na verdade,
no início do cristianismo, eu estava era no oriente, ao contrário. A
igreja ficou em Roma, por acaso, e teve muito a ver com
a questão da herança do imperador Constantino e por aí em diante,
mas o centro nevrálgico do Cristianismo não estava em Roma, estava no
Oriente. Exatamente, e só mudou mais tarde.
José Maria Pimentel
O protestantismo com o judaísmo é, por exemplo, a questão da relação
com Deus. Uma das características do catolicismo é que o sacerdote é
o intermediário, não é? Portanto, nada... Não é nada se faz, porque
as pessoas rezam, mas é um elemento fulcral a intermediação do sacerdote.
No protestantismo e no judaísmo é bem assim, e por exemplo, isso
explica que em ambos os casos, isso tem contribuído para... Contribuiu historicamente
para que países com essas comunidades tivessem desenvolvido mais, as pessoas eram
incentivadas a ser letradas, a aprender a ler e a escrever, para
poder ler os textos, interpretá-los e receber a mensagem de Deus diretamente
e interagir com ele diretamente. E, por exemplo, uma coisa que continua
a ser gritante para mim, por exemplo, o que eu noto mesmo
em Portugal, com pessoas católicas, é isto, não é minimamente transversal como
é lógico, mas há um desconhecimento grande muitas vezes da Bíblia, porque
não há aquela... Embora também, por exemplo, nos Estados Unidos, eu lembro
de ver um artigo sobre isso, também havia muitos americanos que não
eram capazes de citar nenhuma parte da Bíblia, mas o protestantismo, há
aquele cliché, um tipo vai a um hotel nos Estados Unidos e
tem a bíblia na mesa de cabeceira. Há esse cliché, não é?
Em
José Maria Pimentel
qualquer revolucionário, digamos assim. Quase sempre dá para fazer essa pergunta, que
é, e se o outro lado tivesse negociado? Para o bem ou
para o mal? Isso era uma coisa interessante. A Igreja Católica, entretanto,
tem duas particularidades, isto é, face ao protestantismo e face às outras,
embora com cambiantes, mas há duas características principais do catolicismo que colidem,
digamos assim, com o mundo moderno. Uma é o facto de... É
o celibato, por exemplo, no protestantismo, na maior parte das igrejas protestantes,
os ministros, como se chama, podem ter filhos. E por outro lado,
a questão de não ordenação das mulheres. São duas coisas daquelas clichés
que colidem muito com o zeitgeist, com o espírito do tempo de
hoje em dia. E em relação a isto, o que eu acho,
isto é, no livro, o que eu não consigo ainda explicar em
relação a isto, é que à partida, a minha intuição seria achar
que estaríamos mais perto de ter a ordenação de mulheres do que
de terminar com o celibato, porque não haver ordenação de mulheres é
uma coisa que parece fazer muito pouco sentido à alusa dos nossos
valores de hoje em dia. O celibato, para todos os efeitos, tem
um trade-off embutido, ou seja, percebes a origem do celibato. Podes concordar,
podes achar um exagero, eu acho um exagero, mas percebo que lá
está. Mas se a pessoa ouvir aquilo que vem oficialmente da Igreja,
tendencialmente, sistematicamente, é de que a estarmos mais perto de algum, estamos
mais perto do fim do celibato, e não da ordenação das mulheres.
O que é estranho, quer dizer, por que tem que ser um
homem é bizarro, para mim, não sei, se calhar estou a ver
isto mal.
Carlos Quevedo
Está mal começada a frase. Tem que ter em conta que a
questão dos direitos das mulheres é uma coisa recente. Muito recente e
muito mais recente do que se pensa, porque não foi por ter
direito a voto na Inglaterra a princípios do século XX que se
mudou a posição da mulher na sociedade. Isso foi um direito conquistado,
bem conquistado, mas isso não muda a condição feminina ao ponto de
poder penetrar em uma tradição milenar. Tenho certeza que isso vai mudar.
Seguilhar não durante os anos que me restam de vida, nem sequer
os teus, que te restam muitos mais, Mas há coisas que se
mudam. Porque tem que pensar também que o tempo da Igreja, no
caso da Igreja Católica, mas também no Judaísmo, as mudanças que se
aceitam, têm um tempo muito diferente do tempo mundano, não é? O
tempo normal. Insinuadovelmente, claro. E esse decalage... Mas eu acho que...
José Maria Pimentel
É certo, mas durante quase 2 mil anos era coronado e era
ilegal numa série de países, mesmo que no Reino Unido deixe de
ser ilegal nos anos 70, se eu não me engano. Sim, sim.
Foi uma evolução rápida e hoje em dia é um assunto perfeitamente
resolvido, quer dizer, não há ninguém que até quase se torna tabu,
ninguém pode dizer o contrário, não é? E aquilo tem direito a
um capítulo próprio e o Papa Francisco, por exemplo, tem tido uma
série de intervenções inclusivas em relação, não propriamente revendo, quer dizer, jamais,
não é acrível que possa existir matrimónio entre dois homens, o que
aliás se percebe, e isto tem uma razão, sempre que o matrimónio
é diferente do casamento civil, mas a atitude da igreja é muito
diferente e o Papa Francisco tem dado uma série de passos em
relação a isso. Portanto, a homossexualidade está claramente encaminhada no sentido de
ser resolvido dentro da igreja. A questão do celibato não está minimamente
no mesmo ponto, mas ainda agora houve um tipo, um padre que
teve um filho... Sim,
Carlos Quevedo
E vai ser obrigatório. Agora, tem que pensar que tem que haver
duas gerações, pelo menos, de obispos e cardenais que têm que morrer.
Porque os obispos e cardenais são todos maiores de 70 anos, conservadores,
só os novos sacerdotes têm esse contato com o ativismo feminino, não
feminista, o ativismo, a vida das mulheres, que é cada vez mais
importante, de todas as maneiras, não só como feministas, mas como decisoras,
como membros ativos da sociedade, quando antes, até há 50 anos, elas
tinham que ficar em casa. E esse era o papel normal e
absolutamente aceitável até por próprias mulheres. Mas isso vai mudar. Agora, o
que acho mais importante que isso, que acho que é uma questão
que tem mais que ver com costumes e usos, é Quando eu
falo em um livro da homossexualidade, do transgênero, estou a falar uma
coisa que é importante, que é que não há escolha. Não há
escolha de ser homossexual. E é uma coisa que, há muito pouco
tempo, se falava da homossexualidade como uma perversão, como seria o fetichismo.
A pedofilia, por exemplo. Exatamente. Que estão escondidas, como a pedofilia, o
sadomasoquismo, o boilerismo, o exibicionismo, etc. Agora, a homossexualidade é uma coisa
que já está comprovada que não é uma escolha.
Carlos Quevedo
Que depois ou floresce, digamos, ou é o mesmo. Ainda que não
seja uma palavra, digamos, se exibe, se enorgulhece disso, ou se esconde
e se assusta, e outro medo. Agora, quando existe a unanimidade na
Igreja, dizer, bom, isso não é uma escolha, O conceito de pecado
aqui, que é a transgressão a Deus, se torna completamente fora de
órbita. Porque se não há escolha, Não se trata de livre alvítrio,
ou livre alvetrio, que é dizer, eu escolho ser tal coisa, eu
cometo mal ou escolho ir à escola das meninas e abrir a
gabardine, para satisfazerme. Isto é uma coisa muito mais estrutural, mais decisiva,
e aí uma pessoa por ser homossexual, não pode ser condenada. Sim,
José Maria Pimentel
até porque é quase uma contradição em termos. Claro, claro. Se eu
sou celibatário qual é a diferença? Claro, que não faz sentido. Claro,
duas coisas que eu não queria me embora sem falar, duas coisas
importantes. A primeira é a questão da morte, que é referida no
livro e tem muita piada porque a pessoa quase pode entender de
um certo ponto de vista que a morte é o que dá
vida a Deus, digamos assim. Deus enquanto é concepção de Deus. Ou
seja, aliás, tu referes isso no livro que algumas daquelas religiões, que
não são mais religiões orientais como o Budismo, por exemplo, que não
têm Deus, vêm a morte não cometendo uma vida após a morte,
mas com uma reencarnação. Ou seja, é em certo sentido a vida
depois da morte que justifica a existência de Deus, porque é quando
a pessoa encontra Deus. Ali está a chave, em certo sentido. Se
não houvesse a vida depois da morte, a força da ideia de
Deus... Não me refiro depois à outra parte doutrinária, à parte comportamental
e à parte filosófica, digamos assim, por trás da religião. Mas a
força da Igreja de Deus diminuiu muito. Eu acho que... A minha
intuição é que o ponto neurálgico das religiões abrahâmicas está na morte.
Que no fundo é o receio que nós todos temos. Por exemplo,
o Ricardo Urus Pereira, de quem nós falávamos há bocado em Ofler,
em intervalo para hoje, ele tem um livro engraçado, que eu sou
recentemente, e ele fala da questão da morte, por exemplo, e do
humor enquanto bálsamo para a morte, e há uma série de... Outra
coisa de que ele fala e é muito conhecido, são aqueles ditos
quando a pessoa está no leito de morte. Por exemplo, há um
do... Há vários. Há um do Voltaire que eu acho muita piada,
que ele estava a morrer e o padre... O padre, vamos supor,
diz-lhe qualquer coisa do género. É agora, o talha da astra emulsão,
por suponho, ou algo do género, não sei se contra a vontade
dele ou ou aceite, renuncia a Satanás. E Voltaire diz, bom, não
parece que seja a altura certa para fazer inimigos. Eu tenho-te a
piada, embora tu me dissestes há bocado no intervalo que Voltaire na
verdade, ele era crente, era assim, anti-clerical. Pode ser apócrifo, mas tem
muita piada. Há uma do Buster Keaton, humorista americano, que ele estava
no leito de morte, há um amigo que pensa que ele está
a morrer, que ele já estará a morrer, e o outro diz,
toque-lhe nos pés, que os pés ficam frios quando a pessoa morre.
E ele diz, o José Joana d'Arc não. Que não se melora
o moro negro neste caso. Portanto, a morte tem aqui um peso
enorme, e parece ser a principal pedra basilar da ideia de Deus,
do Deus Abraâmico. Eu não sei o que é que achas em
relação
Carlos Quevedo
Sim. No Islam, a morte é liberadora. Agora, no Cristianismo, a morte
é um...
Espera,
como te posso explicar isto? Porque no Judaísmo se vê a morte
quase como um castigo. É algo assim como que Deus não foi
o suficientemente generoso como dar-nos a eternidade. Então, de repente, é como
um castigo. Mas ninguém tem eternidade. Claro, claro, Deus tem. Deus tem,
no princípio. Agora, no caso do cristianismo, o que é certo é
que se vê a morte como um corolário. Por isso, Pedro Bacilar
daria a sensação de que estamos a fundar a religião para justificar
a morte. E não é assim. A morte ninguém consegue justificar. É
dolorosa em qualquer fé. O que acontece é que em alguma, como
no Islam, morrer por Alá é uma coisa boa. E se morre
heroicamente, se tem passagem direta ao Paraíso. Em parto do Islam, é
uma... Não, não, isso é todo Islam. Se morre por Alá... Mas
está no peão? Isso sim, isso sim. Isso tem passagem direto ao
paraíso. Em parte do Islam,
isso é
uma...
Não,
não, isso é tudo Islam. Se morre por um lado... Mas está
no peão? Isso sim, sim, sim. Isso tem passagem direto. Porque se
não, depois da morte, o Islam e o Judaísmo têm uma coisa
similar. A pessoa é morte e fica à espera... Não é um
limbo, tem outro nome. O limbo foi eliminado. Tem outro nome que
eu não me lembro. Não, não, não. Fica à espera. Fica à
espera do julgamento final. Ou seja, que venha o Messias. O julgamento
final é para o Islã e o Cristianismo. Para o Judaísmo é
o tempo vindouro. O tempo vindouro é aquele que aí vem o
Messias e acontecem duas ou três coisas mais, e então todos ressuscitamos,
e os judeus vão para o paraíso, e os não-judeus que tiveram
uma vida boa também poderão entrar, não no paraíso, mas nesse mundo
novo. Sim. Atenção, é diferente,
José Maria Pimentel
Tinha implicações terríveis. Eu não sei se lê-se... Por... Diz. Não, fazendo
aqui ao aparelho, eu não sei se és fã do Tolkien. Não.
Do Senhor dos Anéis. Ele tem... Quando era miúdo era um grande
fã do Tolkien e há um livro que ele tem que, no
fundo, é daquele universo do Senhor dos Anéis, mas antes disso, que
chamam-se Ilmarillion, que é do, no fundo, é umas eras antes do
Senhor dos Anéis, e há uma realidade que ele retrata que é
exatamente de pessoas, que na prática eram deuses ou semi-deuses, que não
morriam, que eram imortais. E há uma série de implicações daquilo, que
na altura me lembro de pensar que aquilo tinha uma meta interpretação,
tinha uma interpretação para o lado daquilo, e que era exatamente as
dificuldades trazidas pela imortalidade, porque a morte também te liberta em certo
sentido, ou seja, a morte permite a renovação e as gerações novas
têm valores diferentes e a sociedade vai evoluindo pelas gerações novas. E
se as pessoas não morressem, isso era impossível. Eu estava a dar
o exemplo de não existir morte para, no fundo, criar uma espécie
de realidade estilizada onde não existisse a necessidade de morte.
José Maria Pimentel
tem memória coletiva. Exatamente, sim. A causa, por exemplo, a reencarnação é
muito isso e há aquele lado dos... Nós não falámos, obviamente em
um país que era um outro tema diferente, das religiões orientais, mas,
por exemplo, no Japão eles têm... Pegando esse lado do tigre ser
o mesmo tigre, mas por serem tigres diferentes, fazendo aqui uma ponta
que pode não ser completamente direta, mas no Japão, por exemplo, eles
têm um fenómeno engraçado, eles constroem determinado monumento em madeira, normalmente. E
o que eles fazem? Ao contrário de nós que os construímos em
madeira. Foram há vidas, construímos em pedra, continuam e, portanto, continuamos. E
nós valorizamos muito aqueles que sobreviveram, como as igrejas antigas, ou as
pirâmides indo mais para trás, ou os templos gregos. E eles o
que fazem é... Há um templo, vamos supor, que é construído em
madeira, e o que eles fazem é voltar a construí-lo periodicamente. E
é o mesmo templo. Mas depois aquilo cria um dilema que é
aquele templo, é o templo com mil anos que foi reconstruído 20
vezes ou é o templo com 50 anos que foi construído há
apenas 50 anos. É difícil, não é? Se calhar é um bocado
essa metáfora do Borges com o outro. Só para terminar, há uma
coisa que eu não queria deixar de falar contigo, que eu acho
interessante, é algo que eu sinto, que eu enquanto pessoa fundamentalmente agnóstica
sinto, e acho um fenómeno muito interessante da contemporaneidade. Houve uma altura,
e é nesse sentido a altura do Voltaire, é uma coisa que
vai e vem, em que havia um ateísmo, o ateísmo surge e
ele é militante. E nós também temos isso hoje em dia. Richard
Dawkins, por exemplo, é o chamado neo-ateísmo, neo-ateus, portanto é um ateísta
militante desse sentido, de discutir a questão da existência de Deus, por
exemplo, ou discutir uma série de preceitos.
José Maria Pimentel
Ele por acaso teve uma afirmação recente que eu achei graça que
ele descrevesse como um cristão
laico. Está bem. Eu
achei graça a isso, por acaso. Achei piada a isso, até porque
uma das coisas que eu falava, por exemplo, com o Esther Mouzonic
era o judaísmo é diferente nisso, o judaísmo, um judeu é sempre
um judeu mesmo, que seja um judeu laico ou até um judeu
ateu, é uma diferença, mas isto tem relação ao ateísmo. O que
eu noto hoje em dia que é muito engraçada é que a
questão da religiosidade passou de um plano público para um plano particular
e o que nós temos hoje em dia é que há uma
espécie de respeito tácito pela religiosidade de cada um e não é
questionável e até é quase um tábuo em certo sentido e o
que acontece é a pessoa pode ter uma conversa, eu posso estar
a ter uma conversa com uma pessoa que é crente, estamos a
falar de religião, no fundo, esta conversa que nós tivemos, toda esta
conversa, é possível ser tido entre um crente e um não crente
interessado no tema, sem nunca se perceber qual é, se algum daqueles
é crente ou não. Ou seja, não há necessidade disso e isso
não é trazido, não é expectável que nenhum traga isso à superfície,
o que a partir da parece um contrassense. E depois, também outra
coisa que acontece, que está relacionada com esta, é que se de
alguma forma vem à baile e a pessoa diz eu de facto
sou católico, vamos ser católicos porque vivemos em Portugal, mas podíamos ser
outra religião qualquer, quase que gera um silêncio desconfortável porque não há
bem uma resposta para aquilo. Ou seja, hoje em dia, implicitamente, parece-me
que o consenso que existe, quase um acordo tácito entre ateus e...
Ou agnósticos e crentes, é que é um tema... É um tema
de cada um, é um tema que nós não tocamos, é um
tema subjetivo, que diz respeito ao terreno das emoções e portanto que
não é para ser discutido à mesa. E eu acho isso engraçado
porque houve tempos em que se discutia seriamente. As pessoas quase se
chateavam porque eu sou ateu e tu és crente ou vice-versa e
quase como a política. Não, claro, exatamente como a política. Em uma
altura se discutia como se fosse política e incluso ter uma religião
implicava estar em um certo sector político. Como a política, não é?
Carlos Quevedo
têm mais pudor agora. Exatamente. Porque ser católico não é estar a
falar do catolicismo o tempo todo e os judeus também não falam
do judaísmo o tempo todo, a não ser para fazer uma piada.
Mas... Exatamente. Mas, em uma época, os atuais faziam questão de... Ah,
eu não vou nessa treta. E tu, se vas nessa treta, é
porque tá, tá, tá, tá, tá,
José Maria Pimentel
a minha intuição é que houve aqui uma espécie de acordo tácido.
Entre quem e quem? Entre os crentes e os ateus, não organizado,
daí isso é tácito. É o respecto da língua. Não, mas é
um acordo, eu acho que é um acordo implícito, que é, no
caso português, por exemplo, os crentes não se... É aquela questão do
Deus é que é de Deus, a César é o que é
de César, não é? Portanto, os crentes não se... Os crentes deixaram-se...
A Igreja deixou de se meter tanto nos assuntos civis, digamos assim,
tirando aqueles como o aborto, por exemplo, que tocam em pedras basileiras.
E do lado dos ateus, Há o outro lado desse acordo que
é respeitar a crença de cada um e não estar sempre a
atacar a pessoa. No fundo é como se a pessoa, no limite
por absurdo, é como se eu falo com alguém que diz que
é crente, eu digo, mas crente como? Mas achas que Deus existe?
E dava uma série de... E depois é um assunto que... O
assunto é a existência de Deus. Eu reconheço que é um assunto
que não pode bem ser discutido apenas no terreno do racional. Porque
no terreno do racional é um debate perdido à partida. Não faz
sentido.
Carlos Quevedo
Claro. A parte de... É dizer, se pode discutir religião entre pessoas
religiosas, em realidade, não? O resto é mesmo uma conversa interessante para
conhecer as perspectivas, que é diferente. Eu sou um mago católico. Minha
formação foi extremamente católica e, ah, outra coisa importante, o catolicismo varalhou
as cartas quando nos anos 60 começou o movimento da teologia da
libertação da
libertação. E então,
de pronto, os católicos não estavam no poder, digamos, mas contra o
poder. E eu vivi isso muito de perto, porque toda... A coisa...
Se vivia muito de perto isso quando se era católico na Argentina,
nos anos 70, onde... 60, 70, onde os pais, os trabalhadores, onde
havia movimentos, protestos católicos, manifestação feita por trabalhadores católicos da metalurgia. Pum!
Escucham isso! Claro, sim! O catolicismo de esquerda, não é? E aí
se baralharam, não é? Sim,
Carlos Quevedo
Sim, e ainda existe, e em Sudamérica ainda existem os padres soberanos.
É dizer, padres soberanos, padres que só insistem em trabalhar em as
zonas marcinais. Coisa que não é... Em Europa isso não é um
problema, no sentido de que não são tão enormes, tão grandes, tão
enormes as zonas fabélicas, que são chamadas de vilas-vilas-misérias, são enormes e
pronto, e aí estão os pais a lutar e a sentir os
problemas mesmos, que são Problemas irresolúveis, porque quando se fala de pobres
não se percebe que há uma vida de pobres que não tem
solução. Quer dizer, ser filho de pobres e ser pai de pobres
e ser pobre, porque ainda não existe a verdadeira democracia. Quer dizer,
todos temos uma oportunidade, não é? Caramba! Claro, claro, claro. Não há
oportunidade. E nisso a religião é importante para que isso seja uma
integração, de pronto, católico-pobre, católico-rico têm coisas em comum. Sim,
José Maria Pimentel
Exatamente. Eu vou terminar aqui, que acho que já estou farto de
nos ouvir. Mas o que é, e acho que é um bom
ponto para terminar, algo que é inegável é que parece-me, se calhar
estou a ser demasiado etnocêntrico, mas isso parece-me ser especialmente verdade no
cristianismo, é que está ali algo que serve de inspiração a realidades
muito diferentes, ou seja, aquilo serviu de inspiração aos primeiros cristãos no
Médio Oriente, serviu de inspiração aos cristãos na Roma, serviu de inspiração
aos cristãos na Península Ibérica, aos cristãos nos Estados Unidos, seja cristãos
brancos, seja os cristãos negros que lutar pelos direitos civis e serve
de inspiração na América Latina, tanto à direita como à esquerda, como
neste caso a trilogia da Libertação, o que é incrível a partir
do mesmo livro. Obviamente que a pessoa pode argumentar e é fácil
perceber que há ali também alguma dose de, no fundo, criar lá
aquilo que não está, mas está lá algo que as pessoas estão
a se correr e isso mostra, eu acho que é inegável, que
aquele livro é especial. Isso é incrível. Carlos, muito obrigado, foi uma
conversa impecável. Eu gostei muito e fazemos o turno à parte 2
daqui a uns meses. Isso era o batom. Olha que Isto está
a gravar ainda, agora ficou prometido em ONU. Não, não. Tenham gostado
dos últimos episódios? Se ainda não o fizeram, subscrevam o 45° na
vossa aplicação de eleição, no vosso smartphone, tablet, etc. Se gostarem mesmo
do podcast, convido-vos também a partilhá-lo com amigos e a avaliá-lo no
iTunes. É também importante para mim saber o que vai na cabeça
de quem ouve o podcast desse lado. Por isso são muito bem-vindos,
feedback, críticas e sobretudo sugestões de temas e convidados futuros. Obrigado e
até ao próximo episódio!